A relação entre a morte de embriões e uma comoção ocorrida na Alemanha por causa da morte de aves
Estou ainda na Alemanha, na casa de nosso filho,
enquanto escrevo este artigo.
Me chamou a atenção uma notícia num dos jornais da TV
que comentava sobre uma polêmica entre a Sociedade Protetora de Animais (SPA) e
os criadores de aves na Alemanha. A questão é que os pintos machos, assim que
saídos da incubadora, são identificados, separados das fêmeas e triturados para
fazer ração. São 40 milhões por ano. Não há interesse dos criadores das raças
poedeiras em preservar os pintos machos, pois além de não colocarem ovos, o seu
desenvolvimento para o abate é mais lento que o das fêmeas.
A SPA protestava contra a crueldade de sacrificar os
pintos machos assim que nascidos. Uma alternativa seria eliminá-los na segunda
semana de incubação, quando já é possível identificar o sexo do pinto. Mas daí,
segundo a SPA, o embrião já sente dor, e o sofrimento seria idêntico.
A discussão continuou no noticiário, e a polêmica vem
de longe. A situação de sacrifício de pintos machos não é muito diferente no
Brasil. Basta pesquisar um pouco na internet.
Comento esta notícia pois, ao mesmo tempo que há pessoas
e entidades preocupadas com o sofrimento dos animais recém-nascidos ou em
estado de embriões, cada vez mais se multiplica o número de países que liberam
o aborto. Não há preocupação sobre a dor que sofre um ser humano em formação.
Não há preocupação sobre a vida de um ser humano que está sendo formado no
ventre de sua mãe. As leis variam sobre o tempo de gestação em que pode ser
praticado um aborto. Umas dizem só antes dos três meses, quando o ser em
formação ainda é considerado um embrião. Outras leis admitem o aborto até o
oitavo ou nono mês, quando o feto já está formado.
Certo que devemos nos preocupar com o sofrimento dos
animais. Deus nos deu os animais como alimento; mas isso não significa que
possam ser judiados e manipulados devido à ganância do ser humano, que
transformou a criação de animais numa indústria de produção, sem levar em conta
que são seres vivos. Isso não se refere apenas à criação de aves; mas observei
coisa semelhante quando visitei uma fazenda leiteira anos atrás, onde os
bezerros machos eram sistematicamente destinados ao abate poucos dias após seu
nascimento, pois o que interessava eram vacas leiteiras. E imagino que seja
assim em fazendas de criação de outros animais também.“Sabemos que toda a criação, a um só tempo,
geme e suporta angústias até agora” (Rm 8.22).
Meu ponto principal não é entrar na área da
veterinária, mas é chamar a atenção novamente para a questão do aborto.
Políticos de influência internacional incluem na sua plataforma política
liberar o aborto. O assunto ficou tão banal, que uma grande maioria de pessoas
apoia o aborto sem pensar no sofrimento do embrião ou do feto em formação, nem
do direito que aquele ser em formação tem à vida. O que sempre entra como ponto
principal da discussão não é a criança que está sendo gestada, mas são os
direitos da mulher sobre o seu corpo.
A mulher tem o direito de evitar uma gravidez usando
métodos anticoncepcionais não abortivos; mas não tem direito sobre a vida de
uma criança que está sendo gerada em seu corpo. Esta criança tem
individualidade e tem vida; sente dor, amor e rejeição. Ela tem o direito de
ver a luz do dia. Alguém teria a coragem de estrangular uma criança recém-nascida?
Algumas mães desnaturadas fazem isso e jogam a criança no lixo, o que vira
manchete e é altamente condenado por uma sociedade e mídia hipócritas que,
normalmente, apoiam o aborto.
O plano original de Deus é que homem e mulher se
casem, tenham filhos e os criem no temor do Senhor. O que passar disso é
consequência do pecado, que transforma o ser humano às vezes em um monstro,
desafiando a lei de Deus e o direito à vida.
Não vou negar que me preocupa o destino dos pintos
machos e o sofrimento dos animais. Mas me preocupa muito mais ver membros da
igreja sendo insensíveis à questão do aborto, ou apoiando-o abertamente.
Enquanto a criação inteira geme, nós testemunhamos o amor
de Deus em Cristo, proclamamos a sua vontade salvadora e não destruidora, e
aguardamos os novos céus e a nova terra, em que habita a justiça. “A ardente expectativa da criação
aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade,
não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que
a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da
glória dos filhos de Deus” (Rm 8.19-21).
“Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns. Pelo contrário, façamos admoestações, ainda mais agora que vocês veem que o Dia se aproxima”.