Junto
com a doença vem a busca pela cura, seja uma enfermidade aguda e passageira ou
em casos crônicos. Mas quando se pensa em pandemia, que alcança todos os
confins da Terra, a busca é por resultados rápidos para que se evitem danos
ainda maiores à população mundial. Talvez isso não seja possível em relação ao
novo coronavírus em tão pouco tempo, mas a ciência se esforça ao máximo pela
solução a tempo de salvar vidas.
Logo
após os relatos dos primeiros casos de COVID-19 na Ásia, pesquisadores de todo
o mundo já estavam a postos para decifrar seu agente causador, sinais e
sintomas da doença. Além disso, não estão medindo esforços na busca de remédios
ou vacinas, e as melhores formas de combater um ser invisível aos olhos.
Ainda
em janeiro, o Prof. Dr. Osvaldo Andrade Santos Filho iniciou sua pesquisa no
Rio de Janeiro, RJ. Ele buscou identificar potenciais inibidores de uma enzima
do coronavírus a partir de fontes sintéticas e naturais pelo emprego da
modelagem molecular. Em sua pesquisa, o professor fez estudos de simulação
computacional visando identificar substâncias inibidoras da protease do vírus
HIV, causador da AIDS, que também fossem prováveis inibidoras da protease do
coronavírus.
Como
resultado de sua pesquisa, o professor publicou o artigo Identification of
Potential Inhibitors of Severe Acute Respiratory Syndrome-Related Coronavirus 2
(SARS-CoV-2) Main Protease from Non-Natural and Natural Sources: a Molecular
Docking Study no Journal of the Brazilian Chemical Society, no final
de junho. No estudo, foram identificadas três substâncias, sendo que uma delas
é obtida de uma planta conhecida popularmente no Brasil como quebra-pedra. “A
competição científica é muito grande, e tenho alegria em ter mais um trabalho
publicado e servindo de incentivo para outras pesquisas”, afirma Santos Filho.
Ele soma mais de 30 trabalhos publicados em revistas científicas internacionais,
na área da modelagem molecular. Também tem trabalhos desenvolvidos sobre
malária, doença de Chagas, influenza, câncer, AIDS, leishmaniose, tuberculose,
entre outras.
Ciência
e fé cristã
A
pesquisa científica também foi o que o trouxe de volta à religião. Enquanto
trabalhava como pesquisador associado da Faculdade de Medicina da Universidade
de British Columbia e vivia um período de agnosticismo, Osvaldo foi alcançado
pelas palavras de seu colega chinês: “Você tem sorte por ter nascido em um país
cristão”. Essas palavras reacenderam a chama da fé que parecia ter sido apagada
anos antes, quando iniciou sua carreira científica.
Alguns
dias depois, indo ao trabalho, desceu quatro pontos de ônibus antes de sua
parada e foi direto a uma livraria, onde comprou uma bíblia, em inglês: “estava
surgindo a vontade de voltar a Cristo”, conta Osvaldo. Logo estava assistindo
cultos online e descobrindo o Livro de Concórdia, em inglês, o que o deixou
ainda mais curioso e próximo ao Sínodo de Missouri, que mais à frente o levaria
a IELB.
Pouco
antes do regresso ao Brasil e decidido pelo retorno à vida cristã, a dúvida
seria qual igreja frequentar. Ainda no Canadá, entrou em contato com o Centro
Administrativo da IELB perguntando sobre os templos no Rio de Janeiro. “Quando
retornei, pesquisei sobre várias denominações evangélicas, mas a teologia
luterana ainda era com a qual eu mais me identificava”, relata. Relutou por
seis meses, mas um ano após participar do primeiro culto, já estava fazendo a
sua profissão de fé em Jesus Cristo, na Congregação do bairro Penha. Hoje é
membro na Congregação da Paz, na Tijuca.
“Na
ciência percebo a presença de Deus”
Para
Osvaldo, há um grande mal-entendido entre ciência e religião, e radicalismo de
ambas as partes, e isso não precisa ocorrer. Segundo ele, deve-se voltar na
história e ver a importância do cristianismo para a formação da civilização
ocidental: “Pioneiros da ciência, como Galileu, Keppler e Newton eram cristãos.
Este último, um protestante fervoroso, inclusive pesquisou mais sobre Bíblia do
que Física”.
Além
disso, o cristianismo, sobretudo o protestantismo, contribuiu muito para a
implantação de centros de ensino e pesquisa de excelência como as Universidades
Harvard e Yale. “A primeira, embora não tenha sido formalmente afiliada a uma
denominação religiosa, no início fornecia principalmente ensino teológico. A
segunda, nasceu de um esforço para criar uma instituição para treinar ministros
e leigos para o Estado de Conecticut, Estados Unidos, e foi fundada por
ministros protestantes oriundos de Harvard”, explica Santos Filho.
Na
opinião do professor, existe uma sintonia fina no universo e, consequentemente,
é difícil para ele acreditar que tudo tenha surgido do acaso. “Na Física,
existem constantes fundamentais que “regem” as leis da natureza, como a
velocidade da luz no vácuo, a constante gravitacional, a carga elementar, entre
outras. Se os valores correspondentes fossem um pouco diferentes, o universo
não seria o mesmo. Por exemplo, se a distância entre o nosso sol e a Terra
fosse alguns metros diferentes, talvez a vida como a conhecemos não existisse.
Tem que haver um Criador responsável por tal calibração da natureza”,
acrescenta.
Trabalhar
no meio de colegas cientistas também é uma forma de testemunhar. O simples fato
de ter uma bíblia em seu escritório na Universidade já despertou a curiosidade deles
sobre sua fé. “Hoje, quanto mais me aprofundo nos estudos da natureza, mais
vejo a beleza de Deus e me aproximo dele. É confortador. É ele quem me inspira
no trabalho científico. Ele quer que leiamos no seu livro, o livro do universo”,
relata.
Osvaldo Andrade Santos
Filho é PhD em Físico-Química e professor da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, onde coordena o Laboratório de Modelagem Molecular e Biologia
Estrutural Computacional do Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais Walter
Mors.