Houve épocas em que um chanceler só
abria portões; o pedagogo era, na maioria das vezes, analfabeto; o fiscal não
anotava nada; o tabelião só escrevia em tábuas; o veterinário só cuidava de
cavalos velhos; o ministro era e ainda é o subordinado e o correio era quem corria
para entregar as cartas. Saiba como essas palavras evoluíram.
Chanceler
Do latim clássico cancellarius, ii, porteiro, escrivão, tabelião, encarregado da
guarda do selo real e, em certas épocas, da administração da justiça e chefe
dos conselhos do rei; aquele que cuidava da cancela. Na verdade, era o porteiro
que tinha autorização para deixar ou não entrar alguma visita. De simples
porteiro virou chefe de estado, na Alemanha, por exemplo. Daí vem a palavra
chancela: carimbar e cancelar, algo como “fechar a porteira”.
Pedagogo
Do grego paidagogós, ou, escravo que levava as crianças à escola, preceptor
de crianças; este de ped, criança + agogôs, conduzir. Era o que podemos
chamar de motorista de ônibus escolar de hoje. Da mesma raiz vem “pedante”: aquele
que imita servilmente os clássicos em sua escrita; acha que sabe mais que os
outros, fala de assuntos que não são de sua alçada e quer impressionar a quem o
ouve.
Fiscal
De fiscus,
i, cesto de vime usado na prensagem das uvas ou azeitonas e até mesmo para
curar queijos. O trabalho do fiscal era mais pesado. Passou a ser cesto de pão
ou para guardar dinheiro e daí, no Império, parte da renda do Estado destinada
à manutenção do príncipe e o imposto era recolhido nos tais fiscus. Confiscar é apreender o cesto, os bens suspeitos.
Tabelião
Do latim tabelio, ônis, notário público ou escrevente romano das sentenças
no caso de crucificação de presos que eram contrários às leis do Império Romano.
Ao tabelião cabia escrever em uma tabella,
ae, pequena tábua, o motivo pelo qual aquele condenado fora crucificado.
Quem fez as vezes de um “tabelião” foi Pilatos, ao escrever INRI (Jesus Nazareno Rei dos Judeus –
não havia a letra J nessa época, a letra I era tanto vogal quanto consoante) na
cruz de Cristo, prestando assim, contas ao povo. Da mesma raiz temos: tabela,
tablete, tabuleiro, tablado, taberna, tabernáculo.
Veterinário
Médico que cuida de animais. Do latim veterinus, a, um, besta, cavalo de carga,
que é ligado ao verbo vehere, carregar,
levar; pode ter vindo de vetus, eris, antigo,
velho, veterano, vetusto. É bom lembrar que os cavalos de montaria eram chamados
de equus, i, cavalo (daí equino,
equitação); os de carga ou velhos eram caballus,
i. Salomão, em Cantares 1.9, fala “às éguas dos carros do Faraó te comparo,
ó querida minha”; tanto Lutero quanto Almeida traduziram por “éguas”, mas na
versão latina é: “equus”, isto é,
cavalos do Faraó.
Ministro
Do latim minister, tra, um, mínimo, menor, subordinado. Na palavra tem
“mini”, isto é, pequeno. Da raiz minus, mini
surgiram várias palavras: mínimo, minuta (escrito em letras pequenas), minuto,
minúsculo, diminuto, ministério. Paulo, em 1Coríntios 15.9, escreve: “Pois sou
o menor dos apóstolos...” – minimum
apostolorum.
Correio
Não era o estabelecimento no qual se
despachavam cartas ou encomendas, mas “o profissional que levava as
correspondências rapidamente a correr”, segundo Nascentes. Do catalão correu ou do francês corlieu, que passou para o espanhol correo, bolsa para guardar dinheiro ou
cartas. A palavra aparece sete vezes na Bíblia: 2Crônicas 30.10 “Os correios
foram passando de cidade em cidade...” e Ester 8.14 “Os correios, montados em
ginetes...”. Pelo que se pode observar, os correios existem há muito tempo, mas
foram aperfeiçoados.
Neldo
Karnopp
Viamão,
RS
*Texto publicado no Mensageiro Luterano, em agosto de 2015.