Hinário Luterano


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24/08/2020 #Artigos #Editora Concórdia

Origem das palavras

Hinário Luterano

A letra dos hinos do nosso hinário é rica em conteúdo. Se o caro leitor do Mensageiro Luterano vai aos cultos, já deve ter cantado palavras como: grei; júbilo; contemplai; lei; advogado; presépio e comei. Saiba a origem destas palavras que os poetas escreveram:

Grei

Grupo de indivíduos de mesma categoria. Aparece 25 vezes no Hinário Luterano. Do latim grex, gregio, rebanho (de ovelhas). Da mesma raiz temos: agregar, congregar, egrégio e segregar. Quem não se lembra do regime de segregação racial da África do Sul, pré-Mandela! Nada mais era que a exclusão de indesejados em um rebanho – algo como congregar ao contrário.

 

Júbilo

Do latim jubilaeus, i, jubileu. Era uma comemoração judaica, celebrada uma vez a cada cinquenta anos. Mas a origem está lá no hebraico yovel, chifre de carneiro no qual se tocava para anunciar a festa. Levíticos 25.9 fala em trombeta (buccina, em latim). Note que o jubileu não era uma festa qualquer, mas pela qual se esperava cinquenta anos.

 

Contemplar

Observar atentamente. “Contemplai na cruz pregado”, diz o hino. Houaiss vê a origem em templo, que era o espaço aberto, na Roma Antiga, em que os agoureiros (daí bom ou mau agouro e inaugurar) observavam o voo das aves para fazerem suas previsões. Embora Cícero tenha chamado o templo de “lugar consagrado ao culto”, não necessariamente religioso, havia o fanum, i, (daí profano, fanático), templo, sítio consagrado.

 

Lei

 Aparece 34 vezes no HL. Do latim lex, legis, norma, regra, prescrição. Da mesma raiz vem o verbo legere, ler, colher, recolher, escolher os grãos de cereal; que lê “colhe” as letras, as palavras. Os romanos não publicavam suas leis no Diário Oficial e, para que uma lei fosse sancionada, era necessário lê-la em público. Inteligente (interlegere) é o que vai além das letras. O ano letivo é do tempo em que o professor (o lente, leitor) fazia a leitura das aulas.

 

Advogado

 “Advogado onisciente” diz o hino 279 do HL. O termo vem do latim: ad, junto de, +vocare, chamar, convocar; aquele a quem se chama para defesa. Na Idade Média,era mais usado na acepção de defensor das comunidades religiosas ou abadias, segundo o frei Santa Rosa de Viterbo. No Novo Testamento há o termo grego paráklito, isto é, alguém chamado para o lado de, para ajudar, consolar. A Bíblia foi traduzida na Idade Média, e o tradutor (Almeida) optou por “Advogado junto ao Pai” – advocatumhabemus, em latim (1João 2.1). Lutero usou Fürsprecher, o que fala por, defensor.

 

Presépio

Era lugar de prostituição, lupanar (Cícero 106 – 43 a. C.), mas, antes disso, era sala de jantar. Quando Jesus nasceu era curral, estrebaria, do latim praesepe, is, lugar de animais. A palavra presepada permanece até hoje como lugar de confusão, já que as encrencas aconteciam nos tais lupanares. Lupanar vem de lupa, ae, loba em latim, mas era também a prostituta, pejorativamente.

 

Comer

No latim há dois verbos para definir o nosso comer: edere, mais no sentido de consumir, devorar, gastar (daí edaz, glutão), que resultou nas línguas inglesa e alemã: toeate essen; e comedere, comer junto, comer compartilhando – o português derivou deste. Covarrúbias diz que animais que comem sozinhos não comem tão bem quantos os que comem em conjunto. A Santa Ceia é no plural: “Tomai e comei”. A versão latina, tanto de Gênesis 2.16 e 17, “dela comerás...”, e Mateus 15.37, “Todos comeram e se fartaram...”, usa o verbo comedere, que dá a ideia de que não era para “encher a barriga”, mas saciar-se em conjunto.

 

Neldo Karnopp

Bacharel em Letras, membro da Comunidade Da Cruz de Porto Alegre, RS

karnopp40@yahoo.com.br

 

*Texto publicado no Mensageiro Luterano, na edição de agosto de 2014.

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