Estamos de quarentena contra uma ameaça invisível. Estamos também no período de Quaresma, um tempo
de reflexão e de arrependimento, um tempo de jejum e abstinência para muitos cristãos ao redor do mundo.
Nínive era considerada a maior cidade do
mundo na Antiguidade.
O profeta Jonas é enviado por Deus para
Nínive, mas toma um navio para Társis (Espanha?).
Em meio a uma tempestade é lançado ao mar
para ser devorado pelos monstros marinhos e, engolido por um deles (um grande
peixe), é vomitado pelo peixe na praia.
O nome Nínive vem de Nina, uma deusa em
forma de peixe, e o símbolo na escrita de então é um peixe dentro de uma casa.
Outro deus possivelmente cultuado ali era Dagon, o deus em forma de homem-peixe.
A cidade de Nínive e a civilização assíria,
segundo a mitologia local, teria surgido com “Oanes”, semideus que teria
surgido do mar e teria a forma de um homem-peixe, o qual teria trazido a sabedoria
e a cultura aos homens.
A história de Jonas, engolido por um peixe e
vomitado na praia, mandado por Deus para anunciar, na grande cidade, que teriam
40 dias para se arrepender, ou a cidade seria destruída.
Jonas aparece, então, como o novo Oanes, não
um semideus em forma de homem-peixe que traz conhecimento para edificar Nínive,
mas como um profeta arrependido de sua desobediência anterior, vomitado do
ventre de um peixe, para trazer o anúncio da destruição de Nínive.
O povo de Nínive, liderado pelo rei, jejua e
se veste de roupa de saco, em sinal de arrependimento, e a misericórdia de Deus
os alcança.
O profeta fica aborrecido com Deus, porque o
povo foi perdoado, e Nínive não foi destruída. Fica aborrecido porque queria
ver cair a ira de Deus e fogo do céu sobre Nínive, como em Sodoma e Gomorra,
mas viu a graça e a misericórdia de Deus ser derramada sobre a cidade.
Em vez de ira, graça. Deus também se arrependeu, diz o
texto, ou seja, sua ira foi mudada em graça, a condenação em absolvição, o
castigo em bênção, a morte em vida.
Os quarenta dias, ou quarentena, foram
dedicados ao arrependimento, ao exame de consciência, à confissão de pecados, a
pedidos de perdão, à reconciliação fraterna.
Podemos dizer que a oração dos ninivitas
teria sido a que Jesus ensinou: “perdoa as nossas dívidas assim como nós também
perdoamos aos nossos devedores”.
Jonas reclamou do calor do sol, Deus lhe deu
uma árvore que fizesse sombra. Finda a quarentena, a árvore morreu e Jonas
ficou sem a sua sombra. Ficou aborrecido com isso. Deus lhe disse, então, que
se Jonas era capaz de se compadecer de uma planta, quanto mais da humanidade.
Somos a Nínive de hoje, a civilização
fundada em sabedoria humana, que imagina ter sob controle todas as forças da
natureza, que não precisa mais de Deus.
Clamamos por medidas do governo, por
atitudes corretas das pessoas, por socorro médico, por remédios e vacinas
contra o coronavírus.
Jonas, à beira da morte (ou já no mundo dos
mortos), clama a Deus por socorro, e Deus se compadece dele e o livra da morte
(ressuscita).
Os ninivitas acolhem o profeta Jonas como
enviado de Deus, ao qual clamam por misericórdia, e são perdoados.
O tempo que Jonas permaneceu no ventre do
grande peixe (na morte) foi o mesmo tempo entre a morte e ressurreição de
Jesus.
“Porque Deus
amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo
3.16 –
palavras de Jesus a Nicodemos, que queria
saber como um homem velho pode nascer de novo ou entrar no reino de Deus).
Jonas não pereceu, sua alma não ficou presa
no mundo dos mortos (Sheol), mas ele foi chamado de volta à vida. Este é o
sinal de Jonas, o poder de Deus sobre a morte.
Em nossa quarentena contra o coronavírus, é
bom recordar da pregação do profeta Joel: “e todo o que chamar pelo nome de
Deus será salvo”. Crer é clamar a Deus por salvação e vida eterna.
O vírus sempre esteve aí, mas era inofensivo
aos seres humanos, tendo animais como hospedeiros. Há poucos meses, se ergueu
poderoso como um dos cavaleiros do apocalipse, percorrendo o mundo para dizimar
parte da humanidade.
Estamos de quarentena contra uma ameaça
invisível. Estamos também no período de Quaresma, um tempo de reflexão e de
arrependimento, um tempo de jejum e abstinência para muitos cristãos ao redor do
mundo.
Temos diante de nós a possibilidade de nos
achegarmos a Deus e buscarmos a sua misericórdia. A sabedoria do mundo não é suficiente para
enfrentar esta crise, é preciso crer na palavra: “arrependei-vos e crede no
evangelho porque o reino de Deus está próximo”.
Na oração de Jesus encontramos conforto no meio da
angústia: “Pai, passa de mim este cálice, mas faça-se a tua vontade e não a
minha”.
Pai, passa de mim essa enfermidade, mas seja
feita a tua vontade e não a minha.
E, no livro de Jonas (2.2-9), encontramos a
oração de quem esteve nos grilhões da morte e foi libertado por Deus:
“Ó Senhor Deus,
na minha aflição clamei por socorro,
e tu me respondeste;
do fundo do mundo dos mortos, gritei pedindo
socorro,
e tu ouviste a minha voz.
Tu me atiraste no abismo,
bem no fundo do mar.
Ali as águas me cercavam por todos os lados,
e todas as tuas poderosas ondas rolavam
sobre mim.
Pensei que havia sido jogado fora da tua
presença
e que não tornaria a ver o teu santo Templo.
“As águas vieram sobre mim e me sufocaram;
o mar me cobriu completamente,
e as plantas marinhas se enrolaram na minha
cabeça.
Desci até a raiz das montanhas,
desci à terra que tem o portão trancado para
sempre.
Tu, porém, me salvaste da morte,
ó Senhor, meu Deus!
Quando senti que estava morrendo,
eu lembrei de ti, ó Senhor,
e a minha oração chegou a ti,
no teu santo Templo.
“Aqueles que adoram ídolos,
que são coisas sem valor,
deixaram de ser fiéis a ti.
Mas eu cantarei louvores,
e te oferecerei sacrifícios,
e cumprirei o que prometi.
A salvação vem de Deus, o Senhor!”
Amém.