Encontre Marcos e leve-o com você!


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27/01/2021 #Artigos #Editora Concórdia

O Evangelho que nos acompanhará em 2021

Encontre Marcos e leve-o com você!

             No final de sua Segunda Carta a Timóteo (4.11), Paulo faz um pedido: “Encontre Marcos e traga-o junto com você”. Aquele era um Marcos de carne e osso, que, segundo as palavras de Paulo, era-lhe “útil para o ministério”. Faço uma releitura dessas palavras, aplicando-as ao evangelho de Marcos e dizendo: “Encontre o evangelho de Marcos e leve-o com você ao longo de 2021!”.

             Acontece que, no ano litúrgico ou eclesiástico, estamos de volta ao evangelho de Marcos. Estamos no Ano B da Série Trienal. Marcos será complementado com leituras dos outros evangelhos, especialmente de João. Como de costume, serão lidos também textos do Antigo Testamento (escolhidos sempre em função do tema da leitura do evangelho) e trechos mais extensos de várias epístolas ou cartas do Novo Testamento: 1Coríntios, 2Coríntios, Efésios, Tiago e Hebreus. Ah, tem também um salmo ou uma parte de um salmo para cada domingo. Em cada culto, um cardápio e tanto! (Antes de prosseguir, lembro que você pode encontrar todas as leituras do culto para os três anos – e ainda para mais um ano, o Lecionário Anual – na parte inicial do Hinário Luterano, edição completa. Também o Anuário Luterano e a Agenda Pastoral trazem as leituras do ano.)

 

O evangelho preferencial

             Marcos é um livro relativamente curto (16 capítulos), especialmente em comparação com os outros evangelhos. Mas não se engane: em geral, quando Marcos conta a mesma história que aparece também em Mateus e Lucas, ele traz o relato mais longo!

             Marcos não será lido na íntegra, no culto. Acontece que o ano litúrgico segue o padrão de Lucas e Atos, começando com o ministério de João Batista (Advento) e indo até o Pentecostes (e o que vem depois dele). O evangelho de Marcos não tem nada sobre o Natal, não traz relatos de manifestações do Cristo ressuscitado e não faz referência à ascensão de Jesus (nem ao Pentecostes). Assim, textos dos outros evangelhos precisam ser “importados”. No entanto, 75% de Marcos serão lidos neste ano (o que é bem mais do que Mateus, do qual, no ano anterior, lemos só a metade). João será o grande “companheiro” de Marcos. Ao longo do ano, leremos 506 versículos de Marcos e 283 versículos de João. Em termos de proporção, isso significa que para cada dois versículos do evangelho de Marcos será lido um versículo do Evangelho de João.

             Marcos terá um reinado quase que absoluto no período pós-Pentecostes, desde o começo de junho até 21 de novembro. (No começo de agosto, receberá o reforço de três leituras do evangelho de João.) Nesse período, as leituras de evangelho são tiradas do trecho que vai de Marcos 3 a Marcos 13. Apenas dois capítulos (8 e 11) não contribuem com leituras de evangelho nessa época. Teremos Jesus invadindo o reino de Satanás e, depois, redefinindo quem é parte de sua família (Mc 3); mostrando-se Senhor das forças da natureza (Mc 4); curando uma mulher e ressuscitando uma menina (Mc 5); sendo rejeitado em Nazaré e enviando os doze, apesar do perigo que a morte de João Batista prenunciava (Mc 6); colocando a Palavra de Deus acima das tradições humanas (Mc 7); anunciando a sua morte, que questiona também a busca de grandeza (Mc 9); tratando de questões de família, como o divórcio, o lugar das crianças no reino de Deus, e o jovem com as suas riquezas (Mc 10); resumindo a Lei de Deus e colocando o foco no Messias (Mc 12); falando sobre os tempos do fim (Mc 13).   

 

Destaques de Marcos

            Marcos apresenta Jesus como vitorioso herói divino que, partindo das margens do rio Jordão, onde foi batizado, começa a lutar contra demônios, doenças e a morte. No fim, ficará claro que a grande vitória sobre o mal se dá precisamente na morte de Jesus. Ele é o Filho de Deus que veio não para ser servido, mas para dar a sua vida em resgate por muitos (Mc 10.45).

             Marcos traz um relato simples e direto do ministério de Jesus. Inclui 18 milagres de Jesus e apenas quatro parábolas, mostrando que a ênfase está naquilo que Jesus faz, e não tanto no ensino. Jesus está rodeado de multidões, que o apertam (Mc 3.9). Pelo menos duas vezes (Mc 3.20; 6.31) o evangelista registra que Jesus e os discípulos não tinham tempo nem para comer. Jesus parece estar sempre com pressa, como o uso das palavras “logo” e “imediatamente” deixa transparecer (Mc 1.10, 12, 18, 20, 21, 23 etc.). Um dos pontos altos é a confissão do centurião romano, em Marcos 15.39: “Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus”.

             O evangelho de Marcos destaca também as emoções de Jesus. Não nos surpreende que apareça a compaixão do Salvador (Mc 1.41; 6.34; 8.2). Marcos, no entanto, conta também que Jesus ficou indignado ou zangado. Em Marcos 3.5, diz que Jesus ficou “indignado e entristecido com a dureza de coração daquelas pessoas”, e, em Marcos 10.14, ele ficou zangado com aqueles que estavam impedindo os pequeninos de virem a ele. Duas vezes o evangelista afirma que Jesus suspirou (Mc 7.34; 8.12). Além disso, na cena no Getsêmani, quando Mateus fala sobre a tristeza de Jesus (Mt 26.37), Marcos não esconde que Jesus foi tomado de pavor (Mc 14.33).

 

1Coríntios na Epifania

            Na igreja, desde os tempos mais antigos, é costume ler também um trecho de epístola no culto. Isso significa que Marcos terá companhia de outros pregadores bíblicos ao longo de 2021. Em dois períodos do ano (Advento e Quaresma), não existe uma epístola específica, pois as leituras são escolhidas em função do tema do período ou do domingo. Assim, na Quaresma, a leitura da epístola é uma garantia de que o tema da cruz de Cristo não será esquecido. Nos demais períodos do ano (Epifania, Páscoa e pós-Pentecostes), algumas epístolas são lidas de forma contínua, ao longo de vários domingos. Isso permite que se façam pregações em série ou que essas epístolas sejam estudadas em grupos, departamentos ou em casa.

             A Epifania destaca o ministério público de Jesus e, em termos atuais, enfatiza o testemunho, a propagação do evangelho no mundo. No período de Epifania deste ano (começo de janeiro a meados de fevereiro), recebe destaque a Primeira Carta aos Coríntios. Como em 2021 esse período é mais curto (porque a Páscoa vem no começo de abril), teremos apenas quatro leituras de 1Coríntios em sequência. No que segue, procuro formular um tema de Epifania relacionado com cada uma dessas leituras: 1Coríntios 6.12-20 (o testemunho por meio da boa mordomia do corpo); 1Coríntios 7.29-35 (consagração a Deus em meio ao dia a dia); 1Coríntios 8.1-13 (liberdade que não se torna em tropeço para os outros); 1Coríntios 9.16-27 (fazer-se tudo para com todos, a fim de, por todos os modos, salvar alguns).

 

A Primeira Carta de João nos domingos de Páscoa

            Cada domingo é uma celebração de Páscoa, mas, na liturgia, contamos sete domingos especiais de Páscoa, desde a Páscoa propriamente (neste ano, 4 de abril) até o domingo antes do Pentecostes (16 de maio). Páscoa é a celebração da nova vida, da vitória da vida sobre a morte. Páscoa é também levar a sério o que decorre da ressurreição de Jesus. Portanto, prepare-se, pois teremos seis leituras de 1João numa sequência. Essa carta do Novo Testamento se caracteriza pela argumentação um tanto circular, que envolve uma repetição de temas. Cada trecho é rico em conteúdo, e o desafio é encontrar uma ponte com o tema da Páscoa. No que segue, faço uma tentativa de formulação de temas pascais: 1João 1.1-2.2 (a vida se manifestou, trazendo luz e purificação); 1João 3.1-7 (filhos de Deus, praticando a justiça e esperando a manifestação final do Filho); 1João 3.16-24 (filhos que creem no Filho e dão a vida pelos irmãos); 1João 4.1-11 (aqueles que vivem por meio do Filho de Deus resistem aos falsos profetas); 1João 5.1-8 (aqueles que são nascidos de Deus amam e vencem o mundo); 1João 5.9-15 (Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está no seu Filho).

 

Mais quatro epístolas em 2021

            O período após o Pentecostes será mais longo em 2021, porque, como já vimos, a Páscoa ocorre relativamente cedo (4 de abril). Assim, teremos 26 domingos após Pentecostes. Haja leitura de epístola para tantos domingos! Serão cinco textos de 2Coríntios, oito de Efésios, quatro de Tiago e seis de Hebreus.

             Num primeiro momento, ainda mais perto do Pentecostes, teremos as leituras de 2Coríntios. Seria interessante destacar a presença do Espírito Santo na igreja, trazendo vida e renovação. Segue a lista dos textos com destaque para alguns temas: 2Coríntios 4.13-5.1 (O Espírito de fé nos leva a falar. O ser interior se renova, apesar da momentânea aflição); 2Coríntios 5.1-10 (O Espírito é a garantia de que o desmanche da tenda – a morte – não é o fim); 2Coríntios 6.1-13 (Pastores, cooperadores de Deus a serviço da mensagem da salvação); 2Coríntios 8.1-9,13-15 (A graça de Deus, rica em Jesus, produz riqueza de generosidade); 2Coríntios 12.1-10 (Os espinhos na carne, as fraquezas e a graça de Deus).

             Teremos a companhia da Carta aos Efésios em oito domingos (de 11 de julho a 29 de agosto). Dois terços de Efésios serão lidos na igreja. Como será difícil detalhar os temas de cada leitura, vou limitar-me a fazer dois comentários. Primeiro: A Carta aos Efésios é uma síntese do pensamento de Paulo e um resumo da fé cristã. Quer saber o que é o cristianismo? Leia Efésios. Segundo: Como no período do pós-Pentecostes costumamos focalizar a vida cristã, nosso interesse tende a se voltar para os capítulos finais de Efésios (Ef 4-6), que têm um caráter mais prático. No entanto, é importante que a série de leituras comece com três leituras dos capítulos iniciais (Ef 1-3), onde se encontra o fundamento daquilo que aparece nos outros capítulos. (Lutero queixava-se de que, no seu tempo, as leituras de epístola ignoravam as partes que falam da obra de Deus, dando destaque ao que cabe a nós. Hoje esse desequilíbrio não precisa continuar.)

             Depois dos textos mais densos de Efésios, teremos, em setembro, quatro leituras da Carta de Tiago, com sua ênfase em aspectos bem práticos da vida cristã, como a não discriminação de pessoas, o uso da língua, etc. Para finalizar o ano, seis leituras da Carta aos Hebreus. Essa Carta enfatiza a superioridade de Jesus, lembrando-nos de que ele é foco do ano todo. Ele é o Autor da salvação (Hb 2.10), o Grande Sumo Sacerdote compassivo (Hb 4.15), o Sacerdote Eterno (Hb 7.24), o Sacerdote que é também o sacrifício (Hb 9.14), o Sacerdote do Sacrifício Único que virá para salvar (Hb 9.28). O recado final das leituras de Hebreus é “guardemos firme a confissão da esperança” (Hb 10.23) e “não deixemos de nos congregar” (Hb 10.25).

             Quanta fartura ao longo de um ano! Um verdadeiro curso de teologia bíblica e doutrina cristã! Como é bom ter culto em tantos domingos! Como é bom estar em todos eles! E, como diz Cl 3.16, “que a palavra de Cristo habite ricamente em vocês!”.

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Vilson Scholz

Professor de Teologia no Seminário Concórdia vscholz@uol.com.br

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