No final de sua Segunda Carta a Timóteo (4.11), Paulo
faz um pedido: “Encontre Marcos e traga-o junto com você”. Aquele era um Marcos
de carne e osso, que, segundo as palavras de Paulo, era-lhe “útil para o
ministério”. Faço uma releitura dessas palavras, aplicando-as ao evangelho de
Marcos e dizendo: “Encontre o evangelho de Marcos e leve-o com você ao longo de
2021!”.
Acontece que, no ano litúrgico ou eclesiástico, estamos
de volta ao evangelho de Marcos. Estamos no Ano B da Série Trienal. Marcos será
complementado com leituras dos outros evangelhos, especialmente de João. Como
de costume, serão lidos também textos do Antigo Testamento (escolhidos sempre
em função do tema da leitura do evangelho) e trechos mais extensos de várias
epístolas ou cartas do Novo Testamento: 1Coríntios, 2Coríntios, Efésios, Tiago
e Hebreus. Ah, tem também um salmo ou uma parte de um salmo para cada domingo. Em
cada culto, um cardápio e tanto! (Antes de prosseguir, lembro que você pode encontrar todas as leituras do culto
para os três anos – e ainda para mais um ano, o Lecionário Anual – na parte
inicial do Hinário Luterano, edição completa. Também o Anuário
Luterano e a Agenda Pastoral trazem as leituras do ano.)
O evangelho preferencial
Marcos é um livro relativamente curto (16 capítulos), especialmente em
comparação com os outros evangelhos. Mas não se engane: em geral, quando Marcos
conta a mesma história que aparece também em Mateus e Lucas, ele traz o relato
mais longo!
Marcos não será lido na íntegra, no culto. Acontece que o ano litúrgico
segue o padrão de Lucas e Atos, começando com o ministério de João Batista
(Advento) e indo até o Pentecostes (e o que vem depois dele). O evangelho de Marcos
não tem nada sobre o Natal, não traz relatos de manifestações do Cristo
ressuscitado e não faz referência à ascensão de Jesus (nem ao Pentecostes).
Assim, textos dos outros evangelhos precisam ser “importados”. No entanto, 75%
de Marcos serão lidos neste ano (o que é bem mais do que Mateus, do qual, no
ano anterior, lemos só a metade). João será o grande “companheiro” de Marcos.
Ao longo do ano, leremos 506 versículos de Marcos e 283 versículos de João. Em
termos de proporção, isso significa que para cada dois versículos do evangelho
de Marcos será lido um versículo do Evangelho de João.
Marcos terá um reinado quase que absoluto no período pós-Pentecostes,
desde o começo de junho até 21 de novembro. (No começo de agosto, receberá o
reforço de três leituras do evangelho de João.) Nesse período, as leituras de evangelho
são tiradas do trecho que vai de Marcos 3 a Marcos 13. Apenas dois capítulos (8
e 11) não contribuem com leituras de evangelho nessa época. Teremos Jesus
invadindo o reino de Satanás e, depois, redefinindo quem é parte de sua família
(Mc 3); mostrando-se Senhor das forças da natureza (Mc 4); curando uma mulher e
ressuscitando uma menina (Mc 5); sendo rejeitado em Nazaré e enviando os doze,
apesar do perigo que a morte de João Batista prenunciava (Mc 6); colocando a Palavra
de Deus acima das tradições humanas (Mc 7); anunciando a sua morte, que
questiona também a busca de grandeza (Mc 9); tratando de questões de família,
como o divórcio, o lugar das crianças no reino de Deus, e o jovem com as suas
riquezas (Mc 10); resumindo a Lei de Deus e colocando o foco no Messias (Mc
12); falando sobre os tempos do fim (Mc 13).
Destaques de Marcos
Marcos apresenta Jesus como vitorioso
herói divino que, partindo das margens do rio Jordão, onde foi batizado, começa
a lutar contra demônios, doenças e a morte. No fim, ficará claro que a grande
vitória sobre o mal se dá precisamente na morte de Jesus. Ele é o Filho de Deus que veio não para ser servido, mas
para dar a sua vida em resgate por muitos (Mc 10.45).
Marcos
traz um relato simples e direto do ministério de Jesus. Inclui 18 milagres de Jesus e apenas quatro parábolas,
mostrando que a ênfase está naquilo que Jesus faz, e não tanto no
ensino. Jesus está rodeado de
multidões, que o apertam (Mc 3.9). Pelo menos duas vezes (Mc 3.20; 6.31) o
evangelista registra que Jesus e os discípulos não tinham tempo nem para comer.
Jesus parece estar sempre com pressa, como o uso das palavras “logo” e
“imediatamente” deixa transparecer (Mc 1.10, 12, 18, 20, 21, 23 etc.). Um dos
pontos altos é a confissão do centurião romano, em Marcos 15.39:
“Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus”.
O
evangelho de Marcos destaca também as emoções de Jesus. Não nos surpreende que
apareça a compaixão do Salvador (Mc 1.41; 6.34; 8.2). Marcos, no entanto, conta
também que Jesus ficou indignado ou zangado. Em Marcos 3.5, diz que Jesus ficou
“indignado e entristecido com a dureza de coração daquelas pessoas”, e, em Marcos
10.14, ele ficou zangado com aqueles que estavam impedindo os pequeninos de
virem a ele. Duas vezes o evangelista afirma que Jesus suspirou (Mc 7.34;
8.12). Além disso, na cena no Getsêmani, quando Mateus fala sobre a tristeza de
Jesus (Mt 26.37), Marcos não esconde que Jesus foi tomado de pavor (Mc 14.33).
1Coríntios
na Epifania
Na
igreja, desde os tempos mais antigos, é costume ler também um trecho de
epístola no culto. Isso significa que Marcos terá companhia de outros
pregadores bíblicos ao longo de 2021. Em dois períodos do ano (Advento e
Quaresma), não existe uma epístola específica, pois as leituras são escolhidas
em função do tema do período ou do domingo. Assim, na Quaresma, a leitura da
epístola é uma garantia de que o tema da cruz de Cristo não será esquecido. Nos
demais períodos do ano (Epifania, Páscoa e pós-Pentecostes), algumas epístolas
são lidas de forma contínua, ao longo de vários domingos. Isso permite que se
façam pregações em série ou que essas epístolas sejam estudadas em grupos,
departamentos ou em casa.
A Epifania destaca o ministério público de Jesus
e, em termos atuais, enfatiza o testemunho, a propagação do evangelho no mundo.
No período de Epifania deste ano (começo de janeiro a meados de fevereiro),
recebe destaque a Primeira Carta aos Coríntios. Como em 2021 esse período é
mais curto (porque a Páscoa vem no começo de abril), teremos apenas quatro
leituras de 1Coríntios em sequência. No que segue, procuro formular um tema de
Epifania relacionado com cada uma dessas leituras: 1Coríntios 6.12-20 (o
testemunho por meio da boa mordomia do corpo); 1Coríntios 7.29-35 (consagração
a Deus em meio ao dia a dia); 1Coríntios 8.1-13 (liberdade que não se torna em
tropeço para os outros); 1Coríntios 9.16-27 (fazer-se tudo para com todos, a
fim de, por todos os modos, salvar alguns).
A
Primeira Carta de João nos domingos de Páscoa
Cada
domingo é uma celebração de Páscoa, mas, na liturgia, contamos sete domingos especiais
de Páscoa, desde a Páscoa propriamente (neste ano, 4 de abril) até o domingo
antes do Pentecostes (16 de maio). Páscoa é a celebração da nova vida, da
vitória da vida sobre a morte. Páscoa é também levar a sério o que decorre da
ressurreição de Jesus. Portanto, prepare-se, pois teremos seis leituras de
1João numa sequência. Essa carta do Novo Testamento se caracteriza pela
argumentação um tanto circular, que envolve uma repetição de temas. Cada trecho
é rico em conteúdo, e o desafio é encontrar uma ponte com o tema da Páscoa. No
que segue, faço uma tentativa de formulação de temas pascais: 1João 1.1-2.2 (a vida
se manifestou, trazendo luz e purificação); 1João 3.1-7 (filhos de Deus,
praticando a justiça e esperando a manifestação final do Filho); 1João 3.16-24
(filhos que creem no Filho e dão a vida pelos irmãos); 1João 4.1-11 (aqueles
que vivem por meio do Filho de Deus resistem aos falsos profetas); 1João
5.1-8 (aqueles que são nascidos de Deus amam e vencem o mundo); 1João 5.9-15
(Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está no seu Filho).
Mais
quatro epístolas em 2021
O
período após o Pentecostes será mais longo em 2021, porque, como já vimos, a
Páscoa ocorre relativamente cedo (4 de abril). Assim, teremos 26 domingos após
Pentecostes. Haja leitura de epístola para tantos domingos! Serão cinco textos
de 2Coríntios, oito de Efésios, quatro de Tiago e seis de Hebreus.
Num primeiro momento, ainda mais perto do
Pentecostes, teremos as leituras de 2Coríntios. Seria interessante destacar a
presença do Espírito Santo na igreja, trazendo vida e renovação. Segue a lista
dos textos com destaque para alguns temas: 2Coríntios 4.13-5.1 (O Espírito de
fé nos leva a falar. O ser interior se renova, apesar da momentânea aflição); 2Coríntios
5.1-10 (O Espírito é a garantia de que o desmanche da tenda – a morte – não é o
fim); 2Coríntios 6.1-13 (Pastores, cooperadores de Deus a serviço da mensagem
da salvação); 2Coríntios 8.1-9,13-15 (A graça de Deus, rica em Jesus, produz
riqueza de generosidade); 2Coríntios 12.1-10 (Os espinhos na carne, as
fraquezas e a graça de Deus).
Teremos a companhia da Carta aos Efésios em oito
domingos (de 11 de julho a 29 de agosto). Dois terços de Efésios serão lidos na
igreja. Como será difícil detalhar os temas de cada leitura, vou limitar-me a
fazer dois comentários. Primeiro: A Carta aos Efésios é uma síntese do
pensamento de Paulo e um resumo da fé cristã. Quer saber o que é o cristianismo?
Leia Efésios. Segundo: Como no período do pós-Pentecostes costumamos focalizar
a vida cristã, nosso interesse tende a se voltar para os capítulos finais de
Efésios (Ef 4-6), que têm um caráter mais prático. No entanto, é importante que
a série de leituras comece com três leituras dos capítulos iniciais (Ef 1-3),
onde se encontra o fundamento daquilo que aparece nos outros capítulos. (Lutero
queixava-se de que, no seu tempo, as leituras de epístola ignoravam as partes
que falam da obra de Deus, dando destaque ao que cabe a nós. Hoje esse
desequilíbrio não precisa continuar.)
Depois dos textos mais densos de Efésios,
teremos, em setembro, quatro leituras da Carta de Tiago, com sua ênfase em
aspectos bem práticos da vida cristã, como a não discriminação de pessoas, o
uso da língua, etc. Para finalizar o ano, seis leituras da Carta aos Hebreus. Essa
Carta enfatiza a superioridade de Jesus, lembrando-nos de que ele é foco do ano
todo. Ele é o Autor da salvação (Hb 2.10), o Grande Sumo Sacerdote compassivo
(Hb 4.15), o Sacerdote Eterno (Hb 7.24), o Sacerdote que é também o sacrifício
(Hb 9.14), o Sacerdote do Sacrifício Único que virá para salvar (Hb 9.28). O
recado final das leituras de Hebreus é “guardemos firme a confissão da
esperança” (Hb 10.23) e “não deixemos de nos congregar” (Hb 10.25).
Quanta
fartura ao longo de um ano! Um verdadeiro curso de teologia bíblica e doutrina
cristã! Como é bom ter culto em tantos domingos! Como é bom estar em todos eles!
E, como diz Cl 3.16, “que a palavra de Cristo habite ricamente em vocês!”.
Assine o mensageiro luterano e fique por dentro dessa e outras notícias
Aos poucos, algumas pessoas foram se juntando a esse grupo, outras foram reconquistadas, e hoje, oito anos depois, aqui estamos, com a bênção e força de nosso Deus, retomando a missão nos Campos ...
Ao longo de 100 anos, a IELB, através de diferentes líderes, em tempos e situações diversas, mais ou menos difíceis, sempre decidiu manter a sua Editora Concórdia, por entender ser ela o braço ...
“Se Jesus estiver lhe chamando, pode ir, pai. Está tudo bem. Quando estamos com Jesus, está tudo bem. Não precisa ter medo. Quando ele te chamar, pode ir”
Conselheiros destacaram o momento de fortalecimento e crescimento, com os projetos educacionais se consolidando e resultando em aumento do número de alunos matriculados nas escolas da rede luterana
Importância de transmitir a Palavra aos filhos levou servas a aderirem à temática do Congresso Nacional da LSLB e convidarem seus familiares a participar