Pastor, é permitido fazer unção com óleo em nossa igreja?


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18/11/2020 #Artigos #Editora Concórdia

Foi em uma visita a casa de um jovem enfermo que o pastor Ailton José Müller se deparou com essa pergunta.

Pastor, é permitido fazer unção com óleo em nossa igreja?

Em uma das minhas visitas pastorais, estive na casa de um jovem enfermo, levando uma mensagem bíblica, uma oração e o sacramento da santa ceia. Ao me despedir, o jovem me fez uma pergunta muito interessante: “Pastor, é permitido fazer unção com óleo em nossa igreja?”.

Confesso que achei aquela pergunta um pouco difícil. Assim surgiu essa curiosidade em pesquisar o assunto na Bíblia. Afinal, como filhos de Deus, queremos e devemos conhecer a verdade bíblica, “... estando sempre preparados para responder a todo aquele que pedir razão da esperança que vocês têm” (1Pe 3.15). O assunto do texto que aqui apresento surgiu para responder a essa indagação.

A origem do óleo

A unção era aplicação de óleos santos ou sagrados em alguém, ou em objetos, como parte de um ritual de consagração. A unção foi usada mais especificamente no Antigo Testamento, para consagrar os utensílios do templo. Também era realizada referindo-se ao dom do Espírito Santo, conferido aos sacerdotes (Nm 35.25), reis (1 Samuel 10.1) e aos profetas (1Rs 19.15,16).

 

Ungindo os utensílios do templo

Deus havia tirado o seu povo do Egito. Quando o povo estava acampado junto ao monte Sinai, Moisés indicou quais seriam os materiais que seriam usados na construção do Tabernáculo, que significava a presença do Senhor (Êx 40.34). Deus estabeleceu diretrizes para o culto de um modo geral e ensinou ao povo o cuidado que deviam ter com todos os utensílios na adoração a Deus nesta tenda sagrada. Em Êxodo 30.22-33, Deus dá a ordem de ungir a tenda e seus equipamentos. Todo o equipamento e até os sacerdotes deviam ser ungidos, ou seja, consagrados especialmente para o serviço do Senhor.

Unção aos sacerdotes: Deus também instruiu Moisés a ungir os sacerdotes para separá-los ao serviço a Deus. Os sacerdotes pertenciam a Deus porque ele os escolheu, não por causa de suas próprias qualidades. O trabalho de um sacerdote era julgar as diferenças entre o povo, realizar sacrifícios pelo perdão do povo, santificar o povo perante Deus, ouvir as confissões de pecados do povo – enfim, eles eram a ligação entre o povo e Deus (Êx 29.7; 40.12-15; Lv 4.3; 8.12).

Unção de reis: Os reis eram ungidos como sinal de que seriam divinamente capacitados para sua tarefa e assim dirigir o povo como pastores, para protegê-lo. E, especialmente ser um “salvador” da opressão dos inimigos. “— Amanhã a estas horas, enviarei a você um homem da terra de Benjamim, o qual você ungirá por príncipe sobre o meu povo de Israel. E ele livrará o meu povo das mãos dos filisteus. Porque olhei para o meu povo, pois o seu clamor chegou a mim” (1Sm 9.16). É bom lembrar que, no Antigo Testamento, não havia separação entre o poder religioso e secular, e, portanto, os reis deviam ser também representantes de Deus.

Unção de profetas: Outro ofício que também era estabelecido pelo ato da unção era o de profeta. Os teólogos Miller e Huber afirmam: “No início da sua história, os israelitas não tinham um rei, ou melhor, o Senhor Deus era o rei deles e ele mantinha contato com o seu povo através dos profetas, homens e mulheres que falavam em nome dele. Houve provavelmente, milhares de profetas israelitas, mas somente um pequeno número deles é conhecido até hoje”.1

Houve épocas em que os profetas também aconselhavam juízes que governavam a terra. Algumas vezes, como no caso de Débora, eles mesmos eram juízes. “O último profeta juiz foi Samuel, que, por ordem de Deus, escolheu e ungiu os dois primeiros reis de Israel: Saul e Davi. Mesmo no tempo dos reis, os profetas exerciam poder, aconselhando o povo e seus líderes e, às vezes, confrontando corajosamente os reis que desprezavam a vontade de Deus. Histórias sobre esses profetas são encontradas nos livros de Samuel e Reis, onde aparecem também pequenos trechos de suas profecias. As palavras dos profetas posteriores, chamados de profetas escritores, estão registradas nos livros bíblicos que levam o nome deles”.2

A unção e o uso medicinal do óleo

O óleo era um dos medicamentos mais usados, sendo no geral aplicado com a ideia de amaciar e acalmar. Misturavam-no frequentemente com vinho, e foi com essa mistura que o samaritano tratou as feridas do homem que foi assaltado quando descia na estrada de Jerusalém para Jericó (Lc 10.25-36). A Bíblia de Estudos da Reforma comenta que esse “era o tratamento comparável às atuais pomadas antibacterianas usadas nos primeiros socorros”.3  O óleo extraído de olivas também era medicinalmente usado para eliminar ou prevenir piolhos e para acalmar a pele (assim como, hoje, usaríamos uma loção). Alguns historiadores indicam que o rei Herodes tomou um banho em óleo quando ele estava perto da morte, na esperança de que isso traria cura.  

Sem dúvida, no Antigo Testamento, o óleo da unção era um símbolo do Espírito divino; na consagração dos utensílios do templo, dos sacerdotes, reis e profetas. Assinalava a dádiva do Espírito de Deus para ajudar os seus representantes escolhidos na administração do seu reino.

 

A unção com óleo na igreja cristã (Novo Testamento)

A ordem de ungir com óleo “não pode ser uma ordem que se aplica a todos os cristãos de todos os tempos, pois não há ordem de Jesus para que isso aconteça. E nem os apóstolos fizeram isso em nenhuma das tantas curas que lemos no livro de Atos”.4

Mas alguns textos do Novo Testamento indicam a unção com óleo: “Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos enfermos, ungindo-os com óleo” (Mc 6.13); “Alguém de vocês está sofrendo? Faça oração. Alguém está alegre? Cante louvores. Alguém de vocês está doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará. E, se houver cometido pecados, estes lhe serão perdoados” (Tg 5.13-15). Neste último texto, do apóstolo Tiago, é importante ver a ação que está no verbo principal. O texto não diz que a unção com óleo vai curar a pessoa. Em vez disso, diz: “A oração feita com fé fará com que o doente fique bom”.

Também é muito importante lembrar que “Tiago está escrevendo aos judeus (1.1). Ele incentiva os doentes a chamar os anciãos ‘da igreja’ (5.14), não os anciãos da comunidade. Então Tiago está aparentemente encorajando seus leitores que a prática comum do judaísmo seja continuada nas suas congregações cristãs. Tiago diz que os anciãos deviam ungir ‘em nome do Senhor’. Isso, também, aponta para essa unção sendo feita com as bênçãos de Deus em mente. Agindo como líderes da igreja, os anciãos, ao ungir com óleo em nome do Senhor, estariam indicando ao doente a confiança da igreja de que Deus é a fonte de toda cura e que o poder de Deus para curar seria trazido para aguentar a doença em mãos. Essa unção seria então seguida pela oração dos anciãos, pedindo que Deus curasse a pessoa doente. Muitos comentários feitos pelos pais da igreja sugerem que este era o significado da unção com óleo, e então esse costume era depois praticado não apenas entre cristãos judeus, mas na igreja como um todo”.5

 

PASTOR, é permitido fazer unção com óleo em nossa igreja?

Essa resposta você terá na próxima edição do ML, dez/2020!

 

Referências

1. MILLER, Stephen M; HUBER, Robert V. A Bíblia e sua história: o surgimento e o impacto da Bíblia. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006, p.32. 

2. Ibidem.

3. BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo da Reforma: antigo e novo testamento. Almeida Revista e Atualizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2027, p.1707.   

4. KUSKE, David P. Exegetical Brief: James 5:14— “Anoint him with oil”.

5. Ibidem.  

Pastor Ailton José Müller

Medianeira, PR

ailtonjmuller@bol.com.br

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