Foi em uma visita a casa de um jovem enfermo que o pastor Ailton José Müller se deparou com essa pergunta.
Em uma das minhas visitas pastorais, estive na casa de um
jovem enfermo, levando uma mensagem bíblica, uma oração e o sacramento da santa
ceia. Ao me despedir, o jovem me fez uma pergunta muito interessante: “Pastor,
é permitido fazer unção com óleo em nossa igreja?”.
Confesso que achei aquela pergunta um pouco difícil. Assim surgiu
essa curiosidade em pesquisar o assunto na Bíblia. Afinal,
como filhos de Deus, queremos e devemos conhecer a verdade bíblica, “... estando sempre preparados para
responder a todo aquele que pedir razão da esperança que vocês têm” (1Pe 3.15).
O assunto do texto que aqui apresento surgiu para responder a essa indagação.
A origem do óleo
A unção era aplicação de óleos santos ou
sagrados em alguém, ou em objetos, como parte de um ritual de consagração. A unção
foi usada mais especificamente no Antigo Testamento, para consagrar os
utensílios do templo. Também era realizada referindo-se ao dom do Espírito
Santo, conferido aos sacerdotes (Nm 35.25), reis (1 Samuel 10.1) e aos profetas (1Rs 19.15,16).
Ungindo os utensílios do templo
Deus havia tirado o seu povo do Egito. Quando
o povo estava acampado junto ao monte Sinai, Moisés indicou quais seriam os
materiais que seriam usados na construção do Tabernáculo, que significava a
presença do Senhor (Êx 40.34). Deus estabeleceu diretrizes para o culto de um
modo geral e ensinou ao povo o cuidado que deviam ter com todos os utensílios
na adoração a Deus nesta tenda sagrada. Em Êxodo 30.22-33, Deus dá a ordem de
ungir a tenda e seus equipamentos. Todo o equipamento e até os sacerdotes deviam
ser ungidos, ou seja, consagrados especialmente para o serviço do Senhor.
Unção aos sacerdotes:Deus
também instruiu Moisés a ungir os sacerdotes para separá-los ao serviço a Deus.
Os sacerdotes pertenciam a Deus porque ele os escolheu, não por causa de suas
próprias qualidades. O trabalho de um sacerdote era julgar as diferenças entre
o povo, realizar sacrifícios pelo perdão do povo, santificar o povo perante
Deus, ouvir as confissões de pecados do povo – enfim, eles eram a ligação entre
o povo e Deus (Êx 29.7; 40.12-15; Lv 4.3; 8.12).
Unção de reis: Os reis eram ungidos como sinal de que seriam divinamente
capacitados para sua tarefa e assim dirigir o povo como pastores, para protegê-lo.
E, especialmente ser um “salvador” da opressão dos inimigos. “— Amanhã a estas
horas, enviarei a você um homem da terra de Benjamim, o qual você ungirá por
príncipe sobre o meu povo de Israel. E ele livrará o meu povo das mãos dos
filisteus. Porque olhei para o meu povo, pois o seu clamor chegou a mim”(1Sm 9.16). É bom lembrar
que, no Antigo Testamento, não havia separação entre o poder religioso e
secular, e, portanto, os reis deviam ser também representantes de Deus.
Unção de profetas: Outro ofício que também era estabelecido
pelo ato da unção era o de profeta. Os teólogos Miller e Huber afirmam: “No
início da sua história, os israelitas não tinham um rei, ou melhor, o Senhor
Deus era o rei deles e ele mantinha contato com o seu povo através dos profetas,
homens e mulheres que falavam em nome dele. Houve provavelmente, milhares de
profetas israelitas, mas somente um pequeno número deles é conhecido até hoje”.1
Houve épocas em que os profetas também aconselhavam juízes
que governavam a terra. Algumas vezes, como no caso de Débora, eles mesmos eram
juízes. “O último profeta juiz foi Samuel, que, por ordem de Deus, escolheu e
ungiu os dois primeiros reis de Israel: Saul e Davi. Mesmo no tempo dos reis,
os profetas exerciam poder, aconselhando o povo e seus líderes e, às vezes,
confrontando corajosamente os reis que desprezavam a vontade de Deus. Histórias
sobre esses profetas são encontradas nos livros de Samuel e Reis, onde aparecem
também pequenos trechos de suas profecias. As palavras dos profetas
posteriores, chamados de profetas escritores, estão registradas nos livros bíblicos
que levam o nome deles”.2
A unção e o uso medicinal do óleo
O óleo era um dos medicamentos mais usados,
sendo no geral aplicado com a ideia de amaciar e acalmar. Misturavam-no
frequentemente com vinho, e foi com essa mistura que o samaritano tratou as
feridas do homem que foi assaltado quando descia na estrada de Jerusalém para Jericó
(Lc 10.25-36). A Bíblia de Estudos da Reforma comenta que esse “era o
tratamento comparável às atuais pomadas antibacterianas usadas nos primeiros socorros”.3O óleo extraído de olivas também era
medicinalmente usado para eliminar ou prevenir piolhos e para acalmar a pele (assim
como, hoje, usaríamos uma loção). Alguns historiadores indicam que o rei Herodes tomou um
banho em óleo quando ele estava perto da morte, na esperança de que isso traria
cura.
Sem dúvida, no Antigo Testamento, o óleo
da unção era um símbolo do Espírito divino; na consagração dos utensílios do
templo, dos sacerdotes, reis e profetas. Assinalava a dádiva do Espírito de
Deus para ajudar os seus representantes escolhidos na administração do seu
reino.
A unção com óleo na igreja cristã (Novo Testamento)
A ordem de ungir com óleo “não pode ser
uma ordem que se aplica a todos os cristãos de todos os tempos, pois não há
ordem de Jesus para que isso aconteça. E nem os apóstolos fizeram isso em
nenhuma das tantas curas que lemos no livro de Atos”.4
Mas
alguns textos do Novo Testamento indicam a unção com óleo: “Expulsavam muitos
demônios e curavam numerosos enfermos, ungindo-os com óleo” (Mc 6.13); “Alguém
de vocês está sofrendo? Faça oração. Alguém está alegre? Cante louvores. Alguém
de vocês está doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração
sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o
enfermo, e o Senhor o levantará. E, se houver cometido pecados, estes lhe serão
perdoados” (Tg 5.13-15). Neste último texto, do apóstolo Tiago, é importante
ver a ação que está no
verbo principal. O texto não diz que a unção com óleo vai curar a pessoa. Em
vez disso, diz: “A oração feita com fé fará com que o doente fique bom”.
Também é muito importante lembrar que
“Tiago está escrevendo aos judeus (1.1). Ele incentiva os doentes a chamar os
anciãos ‘da igreja’ (5.14), não os anciãos da comunidade. Então Tiago está
aparentemente encorajando seus leitores que a prática comum do judaísmo seja
continuada nas suas congregações cristãs. Tiago diz que os anciãos deviam ungir
‘em nome do Senhor’. Isso, também, aponta para essa unção sendo feita com as
bênçãos de Deus em mente. Agindo como líderes da igreja, os anciãos, ao ungir
com óleo em nome do Senhor, estariam indicando ao doente a confiança da igreja
de que Deus é a fonte de toda cura e que o poder de Deus para curar seria
trazido para aguentar a doença em mãos. Essa unção seria então seguida pela
oração dos anciãos, pedindo que Deus curasse a pessoa doente. Muitos
comentários feitos pelos pais da igreja sugerem que este era o significado da
unção com óleo, e então esse costume era depois praticado não apenas entre
cristãos judeus, mas na igreja como um todo”.5
PASTOR, é permitido fazer unção com óleo em nossa igreja?
Essa
resposta você terá na próxima edição do ML, dez/2020!
Referências
1.
MILLER, Stephen M; HUBER, Robert V. A
Bíblia e sua história: o surgimento e o impacto da Bíblia. Barueri:
Sociedade Bíblica do Brasil, 2006, p.32.
2. Ibidem.
3. BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo da
Reforma: antigo e novo testamento. Almeida Revista e Atualizada. Barueri:
Sociedade Bíblica do Brasil, 2027, p.1707.
4. KUSKE,
David P. Exegetical Brief: James 5:14— “Anoint
him with oil”.
Aos poucos, algumas pessoas foram se juntando a esse grupo, outras foram reconquistadas, e hoje, oito anos depois, aqui estamos, com a bênção e força de nosso Deus, retomando a missão nos Campos ...
Ao longo de 100 anos, a IELB, através de diferentes líderes, em tempos e situações diversas, mais ou menos difíceis, sempre decidiu manter a sua Editora Concórdia, por entender ser ela o braço ...
“Se Jesus estiver lhe chamando, pode ir, pai. Está tudo bem. Quando estamos com Jesus, está tudo bem. Não precisa ter medo. Quando ele te chamar, pode ir”
Conselheiros destacaram o momento de fortalecimento e crescimento, com os projetos educacionais se consolidando e resultando em aumento do número de alunos matriculados nas escolas da rede luterana
Importância de transmitir a Palavra aos filhos levou servas a aderirem à temática do Congresso Nacional da LSLB e convidarem seus familiares a participar