HÁ 100 ANOS,


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13/11/2020 #Artigos #Editora Concórdia

a IELB chegava em Santa Catarina

HÁ 100 ANOS,

Nos primeiros 20 anos de atividade do então Sínodo Evangélico Luterano, hoje Igreja Evangélica Luterana do Brasil, IELB, o sínodo teve grande expansão dentro do estado do Rio Grande do Sul. Houve oportunidade e interesse de expansão para outros estados, porém, não havia pastores e nem recursos financeiros.

O primeiro passo dado para fora do estado gaúcho foi somente no início da década de 1920. E não foi inicialmente para Santa Catarina, o estado mais próximo, mas ao Paraná. (Confira Mensageiro Luterano janeiro/fevereiro 2010, p.32-34). O acesso ao Paraná foi facilitado pela abertura, então recente, da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande. Já o acesso a Santa Catarina e sua expansão foi por caminhos mais difíceis, na maioria por longas viagens a cavalo.

 

Por onde e quando começou o trabalho da IELB em Santa Catarina?

MARCELINO RAMOS, RS.

O primeiro ponto de partida foi de Marcelino Ramos, RS. A Paróquia de lá era atendida pelo pastor Conrad J. S. Wachholz. No ano de 1920, o pastor Wachholz atravessou o rio Uruguai, que faz divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e foi até a localidade de Bom Retiro, hoje chamada de Linha do Salto, que atualmente pertencente ao município de Luzerna, SC, região do vale do Rio do Peixe. Lá havia uma colonização de imigrantes europeus. Esse trajeto ele fez pelo período de um ano, ia de três em três meses e realizava cultos na casa de Emilio Lange.

Em 1921, o pastor Wachholz aceitou chamado para Lagoa Vermelha, RS. Na Paróquia de Marcelino Ramos, ele foi sucedido pelo pastor Georg Wilhelm Rehr (1921-1922). O pastor Rehr continuou o trabalho em Bom Retiro, e, em 26 junho de 1921, organizou a Deutschen Evangelisch Lutherischen Christus Gemeinde (Comunidade Evangélica Luterana Cristo) de Bom Retiro. Rehr ficou pouco tempo em Marcelino Ramos, sendo sucedido pelo pastor Edward McMannis (1923-1932).

Nestor Welzel, que foi pastor da paróquia de Joaçaba, SC, de 1948 a 1951, escreveu um texto intitulado “A história da paróquia de Joaçaba em breves traços”. Neste texto ele relata as dificuldades que os primeiros pastores encontraram:

 “Podemos imaginar as dificuldades que tiveram que passar naqueles tempos os obreiros. As viagens eram penosas. Havia a estrada de ferro que segue o curso do Rio do Peixe, mas de resto quase não havia estradas abertas. A região era vasta. Hoje partes foram desmembradas, pertencendo a paróquias que se formaram posteriormente. As habitações eram rudimentares. O pastor McMannis realizava cultos numa casa coberta toda de bambu, e o pastor Kuehn residia nos primeiros tempos num casebre de tábuas lascadas.”

Este pastor Kuehn mencionado é Valentin Kuehn (1925-1942), sendo o primeiro pastor em Joaçaba e no oeste de Santa Catarina. A expansão inicial para o oeste deve-se ao pastor McMannis, de Marcelino Ramos. Ele realizou viagens a cavalo por matas, debaixo de chuva e frio para a região de Chapecó, onde mais tarde várias congregações foram fundadas.

ROLANTE, RS, E LAGOA VERMELHA, RS
A Comissão Missionária da IELB tinha sido informada de que na região de Criciúma, SC, havia famílias que não tinham atendimento espiritual. Essa informação partiu de Roberto Maier, que também solicitava a visita de um pastor luterano. A Comissão Missionária encarregou o pastor Otto Voss, de Rolante, RS, para que fizesse uma visita de sondagem.

Na época, o pastor de Lagoa Vermelha, RS, Theophil W. Strieter, que estava de férias em Porto Alegre, aceitou o convite de participar desta memorável viagem. Strieter já havia feito uma longa viagem de Lagoa Vermelha até Porto Alegre e depois outra de Porto Alegre até Rolante, parte de trem e parte de carroça.

No dia 12 de janeiro de 1921, Strieter e Voss partiram para Criciúma, SC. Essa viagem, de cerca de 350 quilômetros, fizeram a cavalo, por meio de picadas. Cinco dias depois, no dia 17 de janeiro de 1921, chegaram em Criciúma, extremamente exaustos. No dia 20 de janeiro de 1921, realizaram um culto na casa de José Maier, irmão de Roberto Maier. Nesse culto ainda fizeram dois batismos e dois casamentos. No mesmo dia ainda foram a Moro do Estervo (Criciúma), onde no dia seguinte também realizaram um culto e um casamento.

Nessa viagem, os dois pastores ficaram impressionados com as famílias numerosas que encontraram, com 10 a 15 filhos cada uma. Ficaram tristes com o fato de que os filhos destas famílias não tinham recebido instrução religiosa.

Essa corajosa cavalgada foi um dos primeiros empreendimentos missionários do Sínodo Evangélico Luterano para fora estado do Rio Grande do Sul.

Para dar andamento ao trabalho em Criciúma, em junho de 1921 foi enviado o estudante de teologia Edmund Neumann para visitar a região. Neumann ficou um mês por lá, visitando as famílias luteranas. Em agosto de 1921, foi chamado o formando Antônio Reinhold Lang para Criciúma, sendo ele o primeiro pastor da IELB a residir em Santa Catarina. Lang deu início ao seu trabalho com o seu primeiro culto realizado no dia 28 de agosto de 1921. Por quase dois anos ele morou na casa de Roberto Maier.

Anos mais tarde a paróquia de Criciúma sofreu abalos. Grande parte da economia de Criciúma vinha das minas de carvão. Porém, elas foram atingidas por uma crise que provocou muitas demissões. Com a crise e em busca de novas terras para agricultura, várias famílias mudaram-se para o norte do estado. Essa situação fez com que o pastor Lang fizesse quatro longas viagens para o norte e leste do estado nos anos de 1926 a 1929, sempre cavalgando, a fim de visitar essas famílias em várias localidades. A primeira viagem durou 51 dias, a segunda, 34 dias, a terceira, 28 dias, e a quarta, 45 dias. Na última viagem ele percorreu mais de mil quilômetros cavalgando uma mula. Essas viagens foram a semente do que mais tarde se tornaram comunidades na região leste do estado, que existem até hoje.

 

CRUZ MACHADO, PR

No dia 4 de setembro de 1921, foi instalado o primeiro pastor da IELB no Paraná, em Cruz Machado, o Rev. Germano José Beck. Ele também fazia atendimento pastoral em Três Barras, SC. Em cada lugar que atendia, também era instalado. Assim no dia 8 de setembro de 1921, foi instalado em Três Barras, sendo que esta instalação marca um dos inícios dos trabalhos da IELB em Santa Catarina.

 

Esclarecendo uma dúvida

O começo do trabalho da IELB no Paraná é anterior ao de Santa Catarina. Sabemos que o trabalho da IELB em Santa Catarina começou em 1920, mesmo ano em que começou no Paraná, porém, não se tem registros de data, mês e dia. Já no Paraná, o centenário é marcado pela realização do primeiro culto em 9 de fevereiro de 1920. Além disso, os trabalhos no Paraná já tinham sido iniciados por um leigo. Já em relação a Santa Catarina, temos certeza de datas a partir de 1921.

 

Onde e quando comemorar o centenário da IELB em Santa Catarina?

LINHA DO SALTO, LUZERNA, SC. É sabido que o trabalho começou em 1920, mas não há registro de datas. A primeira comunidade foi organizada em 26 junho de 1921.

Criciúma – Primeiro culto realizado no dia 20 de janeiro de 1921.

 

A expansão

Percebe-se, assim, que o início dos trabalhos da IELB em Santa Catarina e sua expansão se caracterizaram por longas e corajosas viagens a cavalos e mulas, feitas por pastores missionários. Um século depois, o desafio da expansão continua. Pelos muitos recursos e meios que temos hoje, os cavalos e as mulas estão dispensados. Já a coragem, não.  Que Deus nos dê coragem de servir na expansão do seu reino.

 

David Karnop

Pastor em Vacaria, RS

dkarnopp@gmail.com

 

Bibliografia

Carta de Antônio Reinhold Lang a dr. Paul Schelp, em 6 de agosto de 1946. Documento não publicado, pertencente ao Instituto Histórico da IELB.

Protokollbuch vor Deutschen Evangelisch Lutherischen Christus Gemeinde, Bom Retiro, Santa Catarina.

REHFELDT, Mario L. Um grão de Mostarda: a história da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Volume 2. Tradução de Dieter Joel Jagnow.  Porto Alegre: Concórdia, 2003.

WARTH, Carlos H. Crônicas da Igreja. Porto Alegre: Concórdia, 1979.

Welzel, Nestor. A história da paróquia de Joaçaba em breves traços. Documento não publicado, pertencente ao Instituto Histórico da IELB.

 

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