Salmo 46 e o Hino Castelo Forte


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26/10/2020 #Artigos #Editora Concórdia

Reforma Luterana

Salmo 46 e o Hino Castelo Forte

        O jubileu pelos 500 anos da Reforma Luterana nos leva a agradecer e louvar a Deus por ter nos preservado, através de tantas lutas, a verdade.  Suplicamos a Deus para que, por sua graça, nos mantenha fiéis a esta verdade, conceda-nos sabedoria, ânimo, força e coragem para testemunhar da mesma.

          Entre os muitos momentos históricos e bênçãos que merecem atenção, análise e reflexão, está o hino Castelo Forte é nosso Deus.

         Provavelmente Lutero escreveu letra e música num fôlego só. Cada palavra e cada nota musical nesse hino tem um sentido profundo. Este hino trouxe consolo, ânimo e força para muitos na luta pela verdade e, até hoje, não perdeu sua força.

       O Salmo 46 serviu de base a Lutero para este hino, "Castelo Forte é nosso Deus"!

 

Contexto do Salmo 46

       Ao mestre de canto, ou diretor de música em vozes de soprano, dos filhos do levita Corá.  O pai, Corá, havia-se rebelado contra Moisés no deserto e foi castigado por Deus (Nm 16; Nm 26.11). Os filhos não acompanharam o pai nessa rebelião, e muitos de sua descendência tornaram-se músicos no templo.

        Os Salmos 42 a 72 compõem o segundo livro dos Salmos. Salmos de súplica por restauração da presença de Deus no templo, como nós ainda hoje oramos: “Não retires de mim o teu Espírito Santo” (Sl 51.10). São salmos litúrgicos.

        O significado da palavra “Selá”, que aparece em algumas traduções da Bíblia, é desconhecido. Pode ser uma pausa, para indicar o fim das estrofes, ou para o rufar dos tambores ou o clangor das trombetas durante as procissões.

         Alguns estudiosos da Bíblia tentam fixar um fato histórico que tenha motivado o poeta a escrever esta oração.  Por exemplo, quando o rei de Judá, Josafá, foi afrontado pela multidão de Moabe e de Amon e clamou ao Senhor, que lhe deu maravilhoso livramento (2Cr 20). Ou quando o rei da Assíria, Senaqueribe (2Cr 32; Is 37), cercou Jerusalém, e Deus providenciou milagroso livramento a Judá. É bem provável que, neste último episódio, o povo já conhecesse o salmo. Não temos mais informações a respeito.

 

I - Texto do Salmo 46

     O Salmo se divide em três estrofes, caracterizadas no final pelo “selá”. Primeira estrofe: A confiança no Senhor em tempos de perigo (v.1-3); segunda estrofe: O consolo da presença do Senhor, que proporciona livramento (v.4-7); terceira estrofe: O rio que alegra a cidade de Deus, que é o evangelho, que põe termo à guerra e confere paz (v.8-11).

 

1.    Deus é o nosso refúgio e fortaleza...

        Essas são palavras de uma fé simples e forte. Somos filhos de Deus pela fé na graça de Cristo. Mas, o que fazer quando somos atingidos por aflições, perigos, necessidades e ficamos angustiados? Será que a necessidade poderá nos prostrar e vencer? Seremos derrotados? Se Deus é nosso refúgio, o Deus Todo-Poderoso, o socorro bem presente na angústia está ao nosso lado? Não! Não precisamos temer, mesmo diante de grandes catástrofes da natureza, terremotos, maremotos ou o fim do mundo (Lc 21.25), mesmo que nossa natureza trema e se espante. Quando os discípulos tremeram por ocasião da tempestade no mar, eles acordaram Jesus, que dormia na proa do barco, clamando: "Senhor, salva-nos"!  O perigo estava ali. Eles estavam prestes a naufragar, e Jesus, dormindo (Mt 8.23-27). Jesus censurou a incredulidade dos discípulos. Mesmo em momentos de grande necessidade, Jesus está perto dos seus. Ele disse: “Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça, porque a vossa redenção se aproxima” (Lc 21.28). O próprio apóstolo Paulo ainda escreve: Mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e, com todos vós, me congratulo (Fp 2.17).  E, “para mim o morrer é lucro” (Fp 3.7). Nas mãos de Cristo estamos protegidos.

 

      2. Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus...

          Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos” (Ap 22.1-2). Como o rio no Jardim do Éden (Gn 2.10), que se dividia em quatro rios, há agora, novamente, um rio, no Novo Testamento, que alegra a cidade de Deus, o santuário do Altíssimo. Este é o rio da graça de Deus, do perdão dos pecados, que dá vida e salvação, que brota da cruz e da sepultura aberta de Cristo.

              Em outras palavras, a boa notícia do Evangelho, do perdão que Jesus mandou proclamar ao mundo. (Mc 16.16; Mt 28.19-20). No dia de Pentecostes, os apóstolos começaram a proclamar esta boa-nova do Evangelho (At 2). Eles diziam: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos (At 4.12). O apóstolo Paulo afirma: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” (Rm 1.16-17). E o mesmo apóstolo diz assim: “... se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas. Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.  De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus. Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5.17-21).

             O “rio da graça” corre pelo mundo até o dia do Juízo Final. A cidade de Deus é agora a “nova Jerusalém”, a Jerusalém que é testemunhada de cima, e tem de cima o seu ser, a saber, a Una Santa Igreja Cristã, a comunhão dos santos. (Gl 4.26; Hb 12.22; Ap 21.2,3). Deus está reconciliado por Cristo com a humanidade e habita em sua igreja, nos fiéis. Deus a ampara e ajuda. Aqui eles ainda estão sob a cruz, mas jamais abandonados por Deus. Cristo está ao lado dos seus em todas suas necessidades. Em breve ele virá julgar vivos e mortos. Bramem as nações, reinos se abalem. Com que fúria o império Romano lutou e combateu a Igreja Cristã. Com que crueldade o comunismo perseguiu os cristãos. Estes reinos, no entanto, pereceram, e o Cristianismo continua e ficará até a volta de Cristo em glória, pois o Senhor dos exércitos está com a Igreja, o Deus de Jacó é nosso refúgio. Portanto, não temeremos. Jesus ampara os seus. Por isso,

 

       3. Vinde contemplai...

           Agora Deus se volta aos furiosos inimigos e convida os fiéis para contemplarem os juízos de Deus sobre os incrédulos e observarem o auxílio que Deus presta aos fiéis.

           As nações e os povos devem vir e olhar para as obras, as ações e os feitos de Deus. Se olharmos para a história das guerras do Antigo Testamento ou para a história geral em nossos dias, o que vemos? Vemos o terrível juízo de Deus sobre os incrédulos e as nações dos ímpios; e vemos a milagrosa proteção de Deus à sua Igreja. Na atualidade vimos a fúria do comunismo e, mais recentemente, vemos a fúria do Islã contra o Cristianismo. Por outro lado, vemos as furiosas tentativas de Satanás contra a Igreja Cristã; e também a multiplicação das seitas que distorcem a verdade, bem como as grandes tentações que Satanás coloca diante da juventude para que se volte ao mundo. Deus consola sua Igreja. O Salmista afirma: “Ele põe termo à guerra até aos confins do mundo, quebra o arco e despedaça a lança; queima os carros no fogo. Aquietai-vos, e, sabei que eu sou Deus” (v.9-10). No livro de Apocalipse, Deus nos mostra: O Senhor é Deus, dirige e protege a sua Igreja.

    E o que diz sua Igreja? “O senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio” (v.11). Lutero e muitos outros fiéis do AT e do NT e, em nossos dias, viveram e vivem tal experiência. Eles cantam de coração o hino: Castelo Forte é nosso Deus, defesa e boa espada.  

 

II – O hino Castelo Forte

     O Salmo 46 foi consolo para Lutero em suas muitas lutas e serviu-lhe de texto para o hino "Castelo Forte". Não sabemos ao certo em que ocasião o texto e a melodia deste maravilhoso hino brotaram-lhe do coração. Os pesquisadores divergem. Há estudos e sugestões que vão desde 1521 até 1529. Alguns apontam os acontecimentos em Worms (18/04/1521), quando Lutero confessou corajosamente sua fé diante do imperador. Quando seus amigos o aconselharam a não ir a Worms, Lutero respondeu: Mesmo se houver tantos diabos quantas telhas nos telhados de Worms, eu irei. O historiador Johannes Sleidanus, um jovem conterrâneo de Lutero, escreve: “Por mais que se pense ser o hino Castelo Forte forjado em Coburg, durante os dias de preparação para a defesa da fé na Dieta de Augsburgo (1530), achou-se um hinário de 1529, no qual o hino Castelo Forte consta. O hinólogo Ph. Wachernagel julga que em 1529 Lutero estava em melhores condições para levantar seus olhos aos montes e compor o hino do que no ano seguinte, durante a Dieta de Augsburgo, quando Lutero, por ser proscrito, ficou em Coburg. Sabemos de seu secretário, Veit Dietrich, o qual ficou com o frei Martinho no castelo de Coburg, que Lutero gastava pelo menos três das melhores horas do dia (de manhã) em oração e cantava hinos, entre os quais Castelo Forte, em oração para si.

     Lic. Th. Schneider, em seu livreto: Dr. Martin Luthers geistliche Lieder (Hinos espirituais do dr. Martinho Lutero), com um comentário sobre o surgimento dos hinos, coloca o surgimento do hino Castelo Forte  na data de 1° de novembro de 1527, dia do décimo aniversário da Reforma. O impulso para isso teria sido a morte de mártir de dois monges agostinianos nos Países Baixos (Bélgica). Isso comoveu muito Lutero, que disse: “Eu preferiria ser considerado digno de glorificar a Deus com minha morte.” Nos mesmos dias houve perseguição semelhante na Baviera, onde vários evangélicos foram mortos por padres da Igreja Católica. Também a notícia da morte de seu amigo Leonhard Käfer, que, por ordem do bispo de Ulm, foi queimado. No dia 1° de novembro de 1527, apesar da tristeza devido à morte de mártir de vários fiéis, Lutero celebrou com seus amigos este dia, com o Salmo 46. Mas o dr. Geffken, na Deutsche Zeitschrift, contesta esta data, junto com Cyträus, Cölestin, Weidan, Weltler e Seneccer, e afirma que o hino foi composto em 1529. Não há nenhum hinário antes de 1529 que tenha o hino. Seria inacreditável que Lutero, se tivesse composto o hino antes, o tivesse retido por alguns anos, sem dá-lo à publicação. Assim, a data mais provável e mais aceita é o ano de 1529.

                Texto e melodia são de Lutero. A melodia reforça o conteúdo do texto. Provavelmente Johann Walther fez a harmonização da mesma. Católicos acusaram Lutero de ter plagiado o hino Exsultat coelum laudibus. Quem comparar os hinos verá, imediatamente, que a acusação não tem fundamento.

     O hino tem quatro estrofes. Em alguns hinários antigos encontra-se ainda uma quinta estrofe, uma alusão ao Gloria Patri. Em resumo, podemos dizer:

          1ª Estrofe: O castelo atacado

          2ª Estrofe: A defesa do Castelo

          3ª Estrofe: A coragem dos moradores do Castelo

          4ª Estrofe: O fundamento certo dos moradores do Castelo

 

Análise do texto do hino

 

1.    Castelo Forte é nosso Deus,/defesa e boa espada;

     da angústia livra desde os céus/nossa alma atribulada.

     Investe Satã/com hábil afã

     e sabe lutar/Com força e ardil sem par;  

             igual não há na terra.

 

 O castelo atacado

         Você já teve a oportunidade de visitar um castelo da Idade Média ou assistir a um filme que se desenrola num castelo? Que fortaleza para uma época na qual a pólvora era pouco conhecida, na qual se lutava com espadas, lanças e flechas. Muros altos e largos. Em derredor uma rampa, circundada com um fosso com água, muitas vezes corrente, de um rio. Outras vezes, construído no alto de um rochedo. Jerusalém era uma dessas cidades inconquistáveis. Nela, as pessoas sentiam-se seguras. Era um refúgio certo. O hino afirma, à base do Salmo 46, que Deus é tal castelo seguro, refúgio certo. Defesa e boa espada.

            O Deus triúno, único e verdadeiro, onisciente e onipotente, gracioso e misericordioso, diz aos fiéis: “Não temas, chamei-te pelo teu nome, tu és meu” (Is 43.1)

            Este castelo forte é atacado continuamente pelo arqui-inimigo de Deus e de todos os seus seguidores, Satanás. Nenhuma força humana poderá livrar-nos dele.

            Investe Satã... ele foi derrotado, mas tem certa liberdade de ação até o Juízo Final, para agir e atuar até onde Deus lhe permite. Ele procura por todos os meios desviar os fiéis da fé. Ora pelo emprego da força, ele tenta amedrontar e eliminar os fiéis: perseguições, torturas, prisões, execuções; ora por tentações, para voltarem a amar o mundo. Tenta, especialmente, pelos meios de comunicação, crianças e jovens ao amor às coisas do mundo. Nisto ele encontra em cada um de nós um aliado, nossa carne pecaminosa, nossa natureza carnal com suas inclinações ao pecado. “Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mt 15.19). O apóstolo nos recomenda: “... resisti ao diabo e ele fugirá de vós” (Tg 4.7; 2Tm 2.22; 1Co 6.18). "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação" (Mc 14.38). Como se faz isso? Como resistir, como vigiar, como fugir? Vigiar é dar atenção, para reconhecer os perigos e as tentações que o diabo nos apresenta camuflados como fontes de prazer e de alegria. Resistir é lutar contra as tentações. Fazemos isto com a Palavra de Deus, tomando a espada do Espírito, vestindo a armadura de Deus (Ef 6.10-20; Gl 5.16-26). É manter a mente ocupada com a Palavra de Deus, hinos cristãos, oração e versículos bíblicos. É manter-se ocupado com um bom trabalho ou serviço ao próximo.

 

Da angústia livra desde os céus nossa alma atribulada...

Angústia expressa sofrimento, sem esperança. Nossa maior angústia é, sem dúvida, a angústia da alma, que é causada pela acusação de nossa consciência.  Contra isso não há consolo humano, nem na psicologia, nem na distração ou no divertimento. Só há um remédio: a graça de Deus, o perdão dos pecados pelos méritos de Cristo. O perdão dos pecados que Deus oferece, gratuitamente, pelo Evangelho, ao pecador arrependido. Este é o único consolo, o único meio para devolver paz , tranquilidade e esperança à alma, quando Deus nos diz: “Tem bom ânimo... estão perdoados os teus pecados” (Mt 9.2).  Como Jesus disse ao malfeitor na cruz, quando este lhe suplicou: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23.42,43). Neste momento voltou a paz e a esperança à alma do malfeitor na cruz. É importante notar que Jesus não lhe tirou os sofrimentos finais. Quanta coisa ele ainda precisou sofrer. Quebraram-lhe as pernas para apurar sua morte. Em tudo isso, porém, ele estava consolado e cheio de esperança da Vida Eterna, pois Jesus perdoou-lhe os pecados e prometeu-lhe o céu. O perdão dos pecados, que Deus oferece gratuitamente ao pecador, é o único consolo para uma alma angustiada, pela qual ela volta à paz.

 

     Investe Satã, com hábil afã...

     Satanás ataca impiedosamente, com muita astúcia, até o dia do Juízo Final. O livro de Apocalipse nos mostra quantas lutas a Igreja Cristã terá de enfrentar. Perto do fim, Satanás obterá muitas vitórias. Ele reunirá Gog e Magog, que parece serem inimigos entre si, mas no final juntam suas mãos e julgam poder exterminar a Igreja Cristã do mundo; então virá o fim. (Pv 18.10; Ap 12.9,12; Ef 6.9-12)

 

2.   Sem força para combater,/teríamos perdido.

     Por nós batalha e irá vencer/quem Deus tem escolhido.

     Quem é vencedor?/Jesus redentor,

     O próprio Jeová,/pois outro Deus não há;

     Triunfará na luta.

 

A defesa do Castelo Forte

           O primeiro passo para a vitória é o reconhecimento de que com nossas forças nada podemos fazer contra este poderoso inimigo. É o reconhecimento de nosso estado de miseráveis pecadores. É essa a nossa confissão na prática? Ou julgamos que com nossas forças, nosso planejar, nosso empenho construiremos o Reino de Deus e venceremos a Satanás? Sem dúvida, temos necessidade de planejar, de nos empenhar com força e dedicação; mesmo assim, oramos: Do poder de Deus depende tudo o que o homem empreende, e não de outro bem qualquer (HL 478).

           Louvado seja Deus que nos chamou ao conhecimento da verdade, mantém-nos na fé e conduz em triunfo. Por nós batalha e irá vencer quem Deus tem escolhido. E a quem Deus escolheu? A Jesus Cristo, que venceu Satanás e está com sua Igreja, conforme a promessa: “... eis estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.20).

         - Pois outro Deus não há; triunfará na luta. O apóstolo Paulo afirma: “... para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele” (1Co 8.6). O Deus triúno é o único  e verdadeiro Deus, Senhor dos senhores, Rei dos reis. Tudo lhe é subordinado. Jesus Redentor triunfará na luta. Esta é nossa certeza, firmada nas promessas do Evangelho (Sl 60.11-12 Sl 24.7-10; Hb 6.13).

 

3.   O mundo venham assaltar/demônios mil, furiosos,

     Jamais nos podem assombrar,/seremos vitoriosos.

     Do mundo o opressor,/com todo rigor

     julgado ele está;/vencido cairá

     por uma só palavra.

 

A coragem dos habitantes do Castelo

            A terceira estrofe é o auge do hino. O profeta Isaías afirma: “... aquele que crer não foge” (Is 28.16). Os habitantes do castelo, firmados, fortalecidos pelo Espírito Santo, não temem. Nossa carne teme, mas fortalecidos na alma pelo Espírito Santo, os mártires cantavam louvores enquanto eram queimados, lançados diante de leões, etc. Estevão, ao ser apedrejado, viu os céus abertos e orou por seus inimigos (Atos 7). Com que coragem Lutero foi a Worms, como já vimos anteriormente. O mundo venham assaltar, demônios mil, furiosos. Assim assaltaram a Igreja dos apóstolos, assim foi no tempo da Reforma, assim governos de todos os tempos tentaram sufocar o Cristianismo; o diabo ainda hoje luta contra os cristãos, mas nós sabemos: seremos vitoriosos.

 

O mundo venham assaltar, demônios mil, furiosos

             Imagine, no tempo de Lutero, uma cavalaria de mil cavaleiros avançando com suas baionetas sobre um pequeno grupo de dez pessoas. Um quadro parecido Lutero deve ter tido diante de seus olhos ao compor este verso. Assim ele se sentia diante do império do Papa, de Roma, do imperador Carlos V e dos ataques de Satanás. Hoje, as guerras com aviões e bombas, até atômicas, são cruéis; mesmo diante desses terríveis inimigos, cantamos: "Jamais nos podem assombrar, seremos vitoriosos". Aqui lembramos a história do Antigo Testamento, quando o rei da Assíria, Senaqueribe, ameaçou a cidade de Jerusalém, mas Deus, milagrosamente, livrou o rei de Judá. Um anjo matou todos os soldados do poderoso rei assírio. Lembramos também o muro de Berlim. Duas semanas antes da queda, os líderes políticos da Alemanha Oriental ainda ameaçavam o Ocidente, mas o muro caiu. Assim poderíamos citar outros tantos momentos na história em que Deus providenciou milagroso livramento para sua Igreja. O rei Davi canta no salmo: “Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários” (Sl 23.5).

          E a estrofe continua: "julgado ele está; vencido cairá por uma só palavra". Bem disse Jesus: “(Deus) edificará sua igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).

          Mas, por enquanto, Satanás é o príncipe deste mundo (Jo 12.31; 14.30). Não no sentido de ser absoluto. Ele só pode ir até onde Deus lhe permite. Ele até precisou pedir a permissão de Jesus para entrar nos porcos. (Mt 4.9) E Jesus afirma: “Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça” (Lc 21.18).

          O mundo jaz no maligno. (1Jo 5.19; Ap 19.2). Os incrédulos odeiam a Jesus e a sua Igreja e estão sedentos do sangue dos justos (Ap 17.6). Mesmo assim, só podem fazer o que Deus lhes permite. E o que Deus permite, mesmo os muitos mártires do tempo do império romano, dos muitos perseguidos, encarcerados e mortos pelo comunismo, hoje pelo Islã, tudo isso serviu e serve para o crescimento da Igreja. Os fiéis prostram as investidas de Satanás e do mundo “por uma só palavra”. Pela proclamação da Palavra e por suas orações governam com Cristo e ordenam: “Retira-te, Satanás” (Mt 4.10).

 

4.   O Verbo eterno ficará,/sabemos com certeza,

e nada nos perturbará/com Cristo por defesa.

Se vierem roubar/os bens, vida e o lar –

que tudo se vá! Proveito não lhes dá.

O céu é nossa herança.

 

O firme fundamento dos moradores do Castelo

         Os fiéis têm certeza de que Deus, por sua graça, irá conserva-los na fé até o fim e que herdarão a Vida Eterna. Eles têm certeza de que a Igreja permanecerá até o fim. Eles têm certeza de que haverá Juízo Final, no qual Satanás e todos os seus seguidores serão lançados no fogo do inferno, e Deus criará novo céu e nova terra, na qual habitará justiça (Ap 21.1; 22.14; 2Pe 3.13).

          O Verbo eterno ficará. Por seu Espírito Santo, Jesus ajuda, ampara, concede dons. Dons para o estudo da Palavra, para traduções, para clarificação da doutrina, para a apologia contra falsos profetas. Ele firma os fiéis na luta, fortalece os atribulados, encarcerados e mártires na fé. Eles cantam a plenos pulmões: "Se vierem roubar os bens, a vida e o lar – que tudo se vá! Proveito não lhes dá. O céu é nossa herança". Jesus lhes diz: “Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino” (Lc 12.32). Alguém poderá dizer: Que reino? Vocês, cristãos, são odiados pelo mundo, expulsos da vossa pátria e mortos. Mesmo assim, não há o que temer. Tudo isso não é novidade para os cristãos. Jesus o predisse: “Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros: se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou” (Jo 15.20,21).

          Aqui no Brasil, onde ainda vivemos com “liberdade religiosa” – sabe-se lá até quando – Satanás persegue os fiéis por outros meios. Quantos de nossos jovens voltam ao mundo? Quantos membros relapsos que não tomam o Cristianismo a sério? Quantos fracassam na fé? Quão parcas são nossas ofertas para a causa de Deus? São outros métodos que Satanás usa para tentar derrotar a Igreja. Importa acrescentar aqui o hino:

         Erguei-vos, Cristãos, o clarim já soou./à luta vos chama quem vos libertou./Cingindo a armadura, por Cristo marchai!/À sombra da cruz corajosos lutai! (HL 295).

                                                                      

                                                                        Horst R. Kuchenbecker

Pastor emérito da IELB

São Leopoldo, RS

horstkuchenbecker@gmail.com

 

*Texto publicado no Mensageiro Luterano em outubro de 2014.

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