DEPRESSA! Alguém pode realizar um batismo, por favor!


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23/10/2020 #Artigos #Editora Concórdia

Reflexões sobre o batismo de emergência

DEPRESSA! Alguém pode realizar um batismo, por favor!

          Hoje a liturgia luterana prevê a possibilidade de incluir algumas cerimônias ou atos simbólicos no rito do batismo. Por exemplo, é possível colocar uma veste branca sobre o recém-batizado e/ou acender uma vela batismal. Alguns pastores ainda dirigem uma palavra especial aos pais de quem foi batizado e apresentam o novo membro à igreja. É claro que, em meio a tudo isso, nada é mais central e importante do que o próprio ato batismal, que, em si, é extremamente breve.

          A cerimônia do batismo não é longa demais, porém comecei a me perguntar se não haveria uma maneira mais breve de se realizar um batismo. Nisso, lembrei-me do batismo de emergência. Sabia que há uma forma de batismo de emergência no Hinário Luterano e, após alguns instantes de procura, consegui localizá-la: encontra-se na página 126 (aliás, este é mais um bom motivo para se ter um exemplar do Hinário em casa).

O interessante é que ali existem três breves formas para o batismo de emergência. A primeira é um pouco mais longa, incluindo a oração do Pai-Nosso e outra oração. Existe uma segunda, prefaciada pelas seguintes palavras: ”Havendo receios de que a forma de Batismo acima é muito extensa... o que batiza dirá...”. Segue uma breve oração e a fórmula de batismo. Mas existe ainda uma terceira forma, introduzida assim: “Sendo caso de máxima emergência, toma-se água e se batiza simplesmente, dizendo: Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém”. Se quisermos levantar a questão da validade, teremos de dizer que um batismo de máxima emergência é tão válido quanto um batismo realizado em meio a uma cerimônia longa, recheada de admoestações e procedimentos simbólicos.

          Essas três breves formas para o batismo de emergência se encontram no Hinário Luterano. Não aparecem em nenhum lugar no livro das liturgias, que o pastor usa. Por quê? Porque se prevê que um batismo de emergência será realizado por alguém que tem em mãos unicamente o Hinário. Em outras palavras, por alguém que não é o pastor da igreja. Por vezes se diz que o pastor realizou um batismo de emergência numa UTI neonatal, por exemplo. É claro que um batismo assim tem um caráter emergencial, pois, do contrário, poderia ser realizado na igreja. Só que, em nossa compreensão, um batismo emergencial tem um segundo componente, além do aspecto da pressa em realizá-lo: o fato de ser aplicado por uma pessoa que não é pastor. Neste caso, a liturgia luterana (o livro do pastor) inclui uma ordem de reconhecimento do batismo. A rigor, trata-se de uma anunciação pública de que o batismo foi realizado. Portanto, batismo de emergência é batismo realizado às pressas por alguém que não é pastor ordenado.

          Alguém poderia perguntar: “Pode isso, professor? Pode alguém que não é pastor batizar?” A resposta precisa ser dada em etapas. A Bíblia não define quem deve aplicar o batismo. Jamais será o batizando. Em outras palavras, ninguém “se batiza”. Os verbos usados no Novo Testamento estão, em sua maioria, na voz passiva: vocês “foram batizados”. Quem fez o batismo? No fundo, foi a mão de Deus (como Lutero gostava de dizer). No contexto de 1Coríntios 1.14, em que as pessoas pensavam que o batismo criava um vínculo entre batizante e batizado, o apóstolo Paulo até dá graças a Deus por ter realizado poucos batismos, afirmando que Cristo não o enviou para batizar... Quem batizou então? Paulo não responde.

Por uma questão de ordem (1Co 14.40), convencionou-se que batizar é tarefa dos pastores. Como encarregados de administrar os mistérios de Deus (1Co 4.1), cabe-lhes a responsabilidade de pregar e administrar os sacramentos. No entanto, o assim chamado ofício das chaves (ligar e desligar, perdoar pecados e reter pecados) foi entregue também à Igreja como um todo (Mt 18.18). Isso significa que a Igreja toda prega, evangeliza, deixa a fé ser ativa em amor, etc. E, em havendo necessidade ou uma emergência, realiza um batismo.

          Agora pergunto: “Se você tivesse de fazer isso, estaria preparado?” Talvez não. Por que não? Porque você não foi treinado. Mas isso poderia fazer parte da instrução de confirmandos e de adultos. Em geral, pensamos que a instrução é um momento de aprender coisas, assimilar conteúdos, memorizar passagens bíblicas, o que é muito bom. Mas pode – e precisa – ser também um momento de aprender a fazer coisas. Por exemplo, elaborar uma oração ou escolher uma oração adequada (das que estão no Hinário!) para determinado momento. E também – por que não? – realizar um batismo de emergência. Como se aprende isso? Treinando. Um colega pastor, que chamou a minha atenção para isso, deu o seguinte depoimento: “Na instrução de confirmandos, nós tínhamos uma boneca que foi lavada muitas vezes, com todos os confirmandos treinando (de mentirinha, é claro) que estavam fazendo um batismo de emergência. Para que, quando uma emergência aparecer, estejam preparados”. Acho que sempre é bom estar preparado para emergências – também no caso do batismo.

 

  • Texto publicado no Mensageiro Luterano de outubro de 2015.

Vilson Scholz

Professor de Teologia no Seminário Concórdia vscholz@uol.com.br

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