O cristão e o sucesso


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08/10/2020 #Reflexão #Editora Concórdia

O cristão mede seu sucesso através do sentimento de tristeza quando cai em pecado, através da alegria, pelo perdão, e pela paz de Cristo.

O cristão e o sucesso

Pessoas de sucesso são admiradas e inspiram muitos a buscá-lo. O valor atribuído ao sucesso pode ser dimensionado no ato de cumprimentar alguém desejando-lhe êxito na profissão e na vida, particularmente na entrada do novo ano. Os meios de comunicação costumam dar destaque a pessoas famosas, detentoras de riqueza ou que obtiveram conquistas valorizadas pela sociedade.

Para nortear essa reflexão, levantamos algumas questões importantes: O sucesso é sempre positivo? É justo que alguns se destaquem e outros ocupem um lugar comum? Almejar fama e fortuna não representa um traço egoísta? O que significa “sucesso” para o cristão? Quando um pastor é bem-sucedido no seu trabalho?

 

Perfil de sucesso

Ser uma pessoa de sucesso implica destacar-se numa área. Identifica alguém que atingiu a fama, detém prestígio, obteve uma vitória, alcançou felicidade ou construiu um grande patrimônio. Pode, também, significar a realização de um sonho.

O sucesso tem como pré-requisitos a competência, a motivação e a oportunidade. Não basta ao indivíduo apresentar uma das condições referidas, pois as três são absolutamente necessárias e interdependentes.

A motivação para o sucesso pressupõe gostar do que se faz, buscar intensamente e, às vezes, sacrificar-se para atingir um objetivo.

A competência envolve aptidão que, por sua vez, exige o desenvolvimento de habilidades correspondentes à área.

A oportunidade compreende um momento próprio para a realização ou portas que se abrem ao sujeito, mas ele precisa estar atento e perceber tal momento especial. O gaúcho costuma referir-se a isso explicando que “o cavalo está passando encilhado”.

Vivemos numa sociedade competitiva, e só aquele que supera os demais tem realmente valor.

 

Sucesso como realização de um sonho

Costuma-se identificar a juventude como uma fase em que o indivíduo constrói um projeto de futuro. Nesse sonho aparece uma profissão, uma vida em família (casar, ter filhos) e a construção de um patrimônio: casa própria, carro e dinheiro para adquirir outros bens e satisfazer suas necessidades.

Na medida em que a pessoa vai alcançando, na fase adulta, os objetivos pré-estabelecidos, ela avalia que sua vida está sendo exitosa. Porém, se com o passar do tempo a trajetória de vida do sujeito o mantém distante do sonho adolescente, por volta dos 40, 50 anos, isso pode representar um importante fator desencadeador da chamada crise da meia idade.

O êxito em relação aos sonhos da juventude depende, obviamente, da viabilidade dos mesmos, já que alguns sonhos são possíveis e outros impossíveis.

 

A procura do sucesso

O sucesso adquire diferentes significados e varia de acordo com o tipo de motivação que mobiliza um indivíduo.

Um importante psicólogo identifica, numa pessoa adulta, três tipos de motivação: realização, poder e afiliação. Logo, algumas pessoas avaliam o triunfo pelo desempenho em atividades desafiadoras que lhes permitem exercer bem as tarefas e superar metas anteriormente definidas. Outras medem seu sucesso pelo grau de influência (poder) exercido sobre pessoas ou organizações. E, outras, consideram sucesso alcançar um relacionamento cordial e afetuoso, ter amigos.

Em psicologia, existe também a teoria que explica o sucesso considerando uma hierarquia de necessidades básicas, que se manifestam progressivamente no desenvolvimento do ser humano. Um bebê está mobilizado pelas necessidades primárias e, na medida em que estas vão sendo atendidas, ele atingiu o sucesso. Quando a percepção de realidade da criança vai se ampliando, ela busca segurança e proteção. Se os pais e as demais pessoas que a cercam lhe passam tal percepção, de novo temos o êxito. Na fase de socialização, a criança aprende a competir, a cooperar e a formar as primeiras amizades. Se esses objetivos são alcançados, temos outra vez o sucesso garantido. No final da infância e no início da adolescência, o indivíduo entra numa fase de narcisismo. Se ele estabelecer um processo saudável de identificação e responder intimamente a questão Quem sou eu?, com todas as implicações profissionais, sexuais e valorativas, isto é sucesso. E, por fim, atingir progressivamente objetivos que o próprio sujeito estabelece para si, dá a ele a percepção constante de conquista.

Nesses casos, o sucesso depende muito da fase da vida em que se encontra uma pessoa e, também, do nível de maturidade obtida.

 

Avaliação do sucesso

Se os bens materiais e a vida de ostentação têm muito valor para alguém, então isto lhe garante o destaque esperado. Mas, uma pessoa madura/sadia buscará outros valores e motivações (como, por exemplo, a motivação para a realização ou para a afiliação); para ela, riqueza e ostentação carecem de significado.

A condição de sucesso tende a ser avaliada de um modo particular pela própria pessoa, mas os outros dispõem de parâmetros diferenciados para dimensioná-la, sem que haja coincidência nos critérios. Nesse sentido, eu avalio que obtive êxito, mas os outros (pais, amigos, sociedade) podem considerar-me um fracassado.

É importante destacar que se uma conquista satisfaz ao sujeito, ele alcançou sucesso.

 

O sucesso pode ser fatal

Talvez muitos imaginem que pessoas de sucesso são extremamente felizes e realizadas. Porém, a história nos oferece vários exemplos de indivíduos que tiveram êxito no passado ou em período mais recente, mas não souberam tirar proveito da situação.

Na área dos esportes é comum a síndrome do sucesso, na qual o esportista consegue destaque e reconhecimento num momento da carreira e, logo após, passa a ter desempenho medíocre.

Na área artística, todos conhecem casos de pessoas que conquistaram fama e riqueza, mas tornaram-se indivíduos infelizes que, por vezes, abusaram das drogas e, em outras, optaram pelo suicídio. Nesse perfil esteve incluído até um psiquiatra de renome internacional.

 

Significado do sucesso para o cristão

Jesus (Mc 8:36-37) pergunta: Que vantagem terá alguém se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? Não há nada que poderá pagar para ter de novo a sua vida. Para Deus, cada ser humano tem maior valor do que toda a riqueza que pode ser acumulada pela humanidade. A Bíblia nos mostra que Salomão pediu sabedoria, e Deus lhe acrescentou a riqueza.

Alcançar a fortuna representa, às vezes, uma bênção, e como tal deve ser percebida pelo cristão. Essa, porém, não deve afastá-lo de Deus ou transformar-se num deus.

O Evangelho nos ensina que é mais difícil um rico entrar no Reino de Deus do que um camelo passar pelo fundo de uma agulha (Lc 18.25).

Se sucesso é encontrar um significado para a vida, e se alguém encontrou vida e salvação em Cristo, então isto representa a verdadeira e maior conquista.

Se um pastor atendeu à ordem de Cristo: “vão a todos os povos do mundo e façam com que sejam meus seguidores, batizando esses seguidores em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19), ele certamente avaliará como “sucesso” cada pessoa trazida para o Reino de Deus, como também cada ovelha mantida no aprisco.

 

Considerações finais

Mesmo sabendo-se que, em princípio, não comete pecado quem obtém prosperidade financeira, não é essa que mede o sucesso do cristão.

A busca da perfeição também não constitui parâmetro de sucesso na vida do cristão. A fé nos é concedida pela ação do Espírito Santo. Logo, a vitória não depende de méritos pessoais, mas é graça de Deus.

O apóstolo Paulo ensina que “se Cristo vive em vocês, então, embora o corpo de vocês vá morrer por causa do pecado, o Espírito de Deus é vida para vocês porque vocês foram aceitos por Deus” (Rm 8.10). Saber que somos especiais para Deus nos dá percepção de sucesso.

Triunfar é fazer a vontade de Deus; isso exige amadurecimento. Cristo nos aponta o caminho em Mateus 5.38-48 e Lucas 6.27-38.

O cristão mede seu sucesso através do sentimento de tristeza quando cai em pecado, através da alegria, pelo perdão, e pela paz que só Cristo nos dá.

 

*Texto publicado no Mensageiro Luterano em outubro de 2014.

Bruno Edgar Ries

Pedagogo com habilitação em Psicologia da Educação brunories@gmail.com

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