Sou feliz? Se a resposta é
"mais ou menos", ou simplesmente "não", onde está o
problema? Falta de dinheiro, doença, dificuldades nas relações? No Relatório
Mundial da Felicidade, da ONU, divulgado no mês de setembro de 2013, o Brasil
ficou em 24º lugar entre os países de gente mais feliz, enquanto nações ricas,
lideradas pela Dinamarca, mantiveram-se em primeiro lugar, e países pobres da
África permaneceram no final da lista. Mas, segundo o editor deste relatório, a
felicidade não depende da questão econômica. Interessante o que dizem os
autores desta listagem, eles que são especialistas em economia, psicologia e
estatísticas: as pessoas mais felizes contam
com uma rede social que as auxilia nas situações difíceis; praticam a
generosidade em suas relações; sentem-se livres para fazer escolhas na vida;
vivem onde há menos corrupção nos negócios e nos governos; têm grande
expectativa de anos de vida saudável e têm boa renda econômica.
Percebo, pela experiência pastoral,
que estes aspectos que caracterizam a vida das pessoas felizes de fato estão
presentes na biografia de muita gente que conheço, homens e mulheres de bem com
a vida, mesmo diante das adversidades. Já disse o sábio: "Descobri que na
vida existe mais uma coisa que não vale a pena: é o homem viver sozinho, sem
amigos" (Eclesiastes 4.7,8). É evidente que é preciso escolher as amizades,
porque "feliz aquele que rejeita os conselhos dos maus, não segue o
exemplo dos pecadores e não anda com os que zombam de Deus" (Salmo 1.1). Nós,
cristãos, temos o privilégio de ter uma rede de amizades que vale a pena
cultivar: a igreja. Afinal, a congregação cristã é o melhor lugar para ajudar e
ser ajudado, e fazer aquilo que também distingue a vida das pessoas felizes, a
solidariedade. Foi Jesus quem disse naquela famosa lista das bem aventuranças: "Felizes
as pessoas que têm misericórdia dos outros, pois Deus terá misericórdia
delas" (Mateus 5.7).
No entanto, o item
"liberdade" me chamou a atenção neste relatório da ONU: pessoas felizes são aquelas que se sentem
livres para fazer escolhas na vida. Isto me fez lembrar de uma situação, dias
atrás, no meu gabinete, em que um pai com suas filhas está retornando para a
IELB depois de ter frequentado uma igreja que prega o Evangelho da Prosperidade.
Ele foi ameaçado pelo "pastor" de que sete demônios iriam persegui-lo,
caso abandonasse a tal igreja. É um absurdo! Pois não existe maior felicidade
do que crer e viver que Cristo nos libertou para que sejamos realmente livres
(Gálatas 5.1) e que no amor não há medo (1João 4.18). Na verdade, estas
"igrejas-prisões" anunciam o mesmo modelo de felicidade que a propaganda
impõe, que é preciso ter isto e ser aquilo para ser feliz, um padrão que só
colhe o contrário. Por isso as conclusões de um psicanalista sobre a grande
causa da infelicidade nos dias de hoje, de que existe "um certo imperativo
da cultura contemporânea, o imperativo da felicidade, a ideia de que todos
temos que ser felizes 100%, todos os dias, e todos os momentos".
Jesus, certa vez, disse aos seus
discípulos que eles sofreriam nesta vida, mas que tivessem coragem, pois ele
venceu o mundo (João 16.33). A vitória do Senhor por nós, no entanto, não
elimina as consequências do pecado nesta vida – sofrimento, dor, tristezas. Quer dizer, então, que o cristão não deve buscar
as alegrias terrenas? Que ele precisa
baixar a cabeça e conformar-se com as aflições e aguardar as bem-aventuranças
celestiais? É claro que não! A Bíblia diz: "Não deixe que nada o
preocupe ou faça sofrer" (Eclesiastes
11.10). Diante disto, achei interessante uma lista de 22 hábitos positivos para
uma pessoa ser feliz, que, se prestarmos atenção, são recomendações bíblicas: deixe de lado os rancores; trate todos com
gentileza; encare seus problemas como desafios; seja grato pelo que você tem; sonhe
grande; não se preocupe com coisas pequenas; fale bem dos outros; evite dar
desculpas; viva o presente; acorde na mesma hora todos os dias; não se compare
com os outros; cerque-se de pessoas positivas; não se preocupe com a aprovação
dos outros; escute os outros; cultive relações sociais; medite; alimente-se bem;
exercite-se; viva minimamente (sem muitas coisas); seja honesto; tenha
autocontrole; aceite o que não pode ser mudado.
*Texto publicado no Mensageiro Luterano em
outubro de 2013.