“Quando
o incêndio invade uma floresta, ninguém domina suas chamas”. A Bíblia não diz
exatamente estas palavras, mas concluímos que é isto que o apóstolo pensou ao
comparar a língua com o fogo: “Vejam como uma grande floresta pode ser
incendiada por uma pequena chama [...] A língua é um fogo. Ela é um mundo de
maldade [...] Ninguém ainda foi capaz de dominar a língua” (Tg 3.5,6).
Tragicamente,
a língua e o fogo continuam provocando grandes incêndios. Nem é preciso falar
das maldosas chamas e consequências deste pequeno músculo atrás dos dentes. Nossa
preocupação agora são os incêndios que consomem as florestas do Brasil e do
planeta, e que sempre começam com uma minúscula fagulha. E olhem o absurdo, apesar
do extraordinário domínio humano alcançado pela moderna tecnologia, ninguém
consegue conter o fogo nas florestas.
No
entendimento bíblico, o fogo nas florestas e a destruição do meio ambiente têm origem
que satélites e ambientalistas não percebem: o coração humano sempre voltado
para o mal. Lá no início, quando o Criador ordenou cuidar do jardim do Éden e
nele fazer plantações, as intenções humanas estavam dirigidas para o bem. Tudo
mudou com o fogo do pecado. Agora, quem domina é a maldade humana, tão bem
retratada por Tiago: “Essa espécie de sabedoria não vem do céu; ela é desse
mundo, é da nossa natureza humana e é diabólica” (3.15).
Esta
“inteligência” burra, de mãos dadas com a ganância, nunca mais deixou de
derrubar e queimar árvores para erguer cercas do “isto é meu”. E logo começaram
as brigas por posses, e o fogo aumentou. É o aquecimento global no coração e
que esquenta os ânimos e o ambiente. Interessante que numa dessas batalhas, o
salmista pede que Deus destrua seus inimigos “assim como o fogo queima a floresta
e as labaredas incendeiam os montes” (Sl 83.14).
Só que nas guerras, ninguém ganha, todos perdem. Perdem
também aqueles que não acreditam que o planeta está pegando fogo e derrubam as
florestas em nome do progresso. Todos vão sofrer. É o alerta dos cientistas que
afirmam que os incêndios florestais em todo o mundo, neste ano da pandemia, são
os maiores dos últimos tempos. Todos os
anos, milhões de quilômetros quadrados são queimados por incêndios florestais. O
impacto é terrível: a fumaça libera grande quantidade de dióxido de carbono e
outros gases de efeito estufa. Com isso, o planeta fica mais quente, e as matas,
mais secas, provocando mais incêndios florestais. Chamam isso de ciclo de retroalimentação. Além do aquecimento global e da
degradação do meio ambiente, é o fim para muitos animais na natureza. Nas
últimas cinco décadas, 70% dos animais silvestres foram extintos no planeta, a
exemplo de onças e outros bichos nos incêndios do Pantanal. No ano passado, um
relatório sobre biodiversidade advertiu que cerca de 1 milhão de espécies
animais e plantas estão ameaçadas de extinção, um recorde na história da
humanidade.
Existe
alguma coisa que podemos fazer? Claro que existe. Se o “Universo se tornou
inútil”, mas um dia “ficará livre do poder destruidor que o mantém escravo e
tomará parte na gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8.20,21), isso não
autoriza ninguém, muito menos o cristão, a antecipar o fim do mundo. A ordem em
Gênesis permanece: “cuidar do jardim”. Ou seja, preservar a vida no planeta. É
a obediência ao “não matarás”. É o cuidado com o fogo da língua e com o fogo
das florestas. Porque, depois que o incêndio começa, ninguém mais o domina.