Pedrinhas no Caminho


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23/09/2020 #Reflexão #Editora Concórdia

Perguntado sobre o que mais o atrapalhou em suas viagens missionários, um pregador itinerante respondeu: “As pedrinhas nas sandálias”.

Pedrinhas no Caminho

Certa vez perguntaram a um pregador itinerante o que mais o atrapalhou nas muitas viagens missionárias, e ele respondeu: “As pedrinhas nas sandálias”. Penso em como Jesus e os discípulos, também os apóstolos e outros pregadores, enfrentaram as pedrinhas nas sandálias naquelas primitivas estradas. Com certeza, algumas vezes sentaram-se à beira da estrada em alguma pedra maior ou recostaram-se numa árvore para tirar as pedrinhas das sandálias. Múltiplas jornadas com ferimentos nos pés, porém, jornadas vitoriosas. Lucas, o evangelista que também escreveu o livro de Atos dos Apóstolos, nos dá conta que “a igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número” (At 9.31).

Crescer e edificar-se no caminho e no temor do Senhor, mesmo com pedrinhas nas sandálias. Que caminho é esse e quais são as pedrinhas? A Bíblia nos fala de dois caminhos. Ela os chama de “caminho largo” e “caminho estreito” (Mt 7.13,14). O caminho largo quase não tem pedrinhas, é liso, asfaltado. Suas margens oferecem mil e uma atrações, sem problemas, tudo tem solução, prosperidade prometida, futuro promissor. “Descansa, come, bebe e regala-te” (Lc 12.19). Aqui cada um quer continuar ser “ele mesmo”, o que é impossível, pois “não se colhem figos de abrolhos” (Mt 7.16). É onde encontramos cegos guiando outros cegos (Mt 15.14). Caminho trilhado na autoconfiança, baseada no “eu posso”, “eu quero”.

O outro caminho é o assim chamado “estreito”. Não é liso, tem pedras e pedrinhas. Não oferece prazeres passageiros, nem tudo tem solução e o futuro é aparentemente sombrio. “Através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At 14.22). Por quê? Porque fui eu quem poluiu e ainda continuo poluindo aquele jardim. Fui eu mesmo quem espalhou as pedrinhas no caminho. Fui eu quem pecou e ainda peco. Mas, pela infinita graça e amor divinos, encontramos, às margens desse caminho estreito, advertências para evitar desvios, atalhos perigosos, desprezados por muitos, mas observados por alguns (Mt 22.14). É a Palavra de conforto e poder que nos diz que ele estará sempre conosco – todos os dias (Mt 28.20), mesmo com pedrinhas nas sandálias. “O Senhor é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo em quem me refugio” (Sl 18.2). Neste caminho, o “quanto menos eu”, maior a chance de uma jornada bem-sucedida. O “quanto menos eu” quer dizer: confiar naquele que me instruirá no caminho (Sl 25.12), aquele que por mim já trilhou caminhos amargos. Embora inocente, sofreu bofetadas, açoites, vergonha e crucificação por mim – Jesus Cristo, meu salvador. É a pedra angular que os falsos construtores rejeitaram, pois para eles era escândalo e loucura (Mt 21.42), porém salvação para o que crê, confia e vive o seu cristianismo, no exemplo dele.

Apesar das pedrinhas, pela fé em Jesus, somos “da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor.” (Ef 2.19-22)

“Sobre mim vieram tribulações e angústia, todavia, os teus mandamentos são o meu prazer. Eterna é a justiça dos teus testemunhos; dá-me a inteligência deles, e viverei” (Sl 119.143,144).

            Guido Ruben Goerl
Pastor emérito da IELB
Porto Alegre, RS

*Texto publicado no Mensageiro Luterano de setembro de 2015.

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