É possível
que, voltando da igreja, você já tenha ouvido ou até mesmo falado algo como:
“Hoje o culto do pastor estava meio esquisito!”. Deixando de lado o que poderia
ser classificado de “esquisito”, quero focalizar a expressão “o culto do pastor”.
Até que ponto o culto é do pastor?
Quem
participa do culto luterano pela primeira vez, talvez como visitante, percebe
que o pastor tem um papel central na condução do mesmo. Dependendo de onde se
está, o pastor, além de liderar a liturgia e pregar, ainda toca o teclado, puxa
o canto, controla o sistema de som, acende as velas, etc. Num lugar onde estive
certa vez oficiando um culto na ausência do pastor, esperava-se que eu até tocasse
o sino para dar início ao culto. Por não ter a habilidade de sineiro, o culto
começou sem esse toque.
Os
defensores do sacerdócio de todos os cristãos, entre os quais me incluo, logo
dirão que, no culto, existe também expressiva participação de toda a igreja. Participa-se
ouvindo, recitando textos, cantando, ofertando, levantando para ir à santa ceia,
dizendo “amém”. Mas é possível ter um envolvimento ainda maior. Cada vez menos,
hoje em dia, a música do culto depende do pastor. Cada vez mais igrejas estão
incentivando seus membros, especialmente jovens que têm dom musical, a estudar
um instrumento e participar de cursos de diaconia em música oferecidos pela
igreja, de modo mais concreto no Seminário Concórdia. E, é claro, o pastor pode
solicitar a membros da igreja que façam uma ou duas das leituras bíblicas do
dia (Aqui, no entanto, é preciso ter cuidado. Mais importante do que
“socializar” as tarefas do culto é ter certeza de que as pessoas convidadas ou
encarregadas das leituras saibam fazer uma boa leitura em voz alta...). Quanto
mais pessoas estiverem envolvidas e comprometidas com certas tarefas no culto, melhor.
Esse “algo
a mais” se relaciona com a preparação que se faz para o culto. O pastor se
prepara e espera pelo culto. E a igreja
faz o quê? Tem um ditado português que diz: “O melhor da festa é esperar
por ela”. Pode-se entender isto como significando, no mínimo, que a festa será
boa se eu estiver na expectativa de que comece. E será melhor ainda se, nessa
espera, eu me preparar para a festa. No
caso do nosso culto, posso ou preciso, entre outras coisas, preparar-me para a
santa ceia. Afinal, a ceia tem essa dimensão futura. O meu batismo me leva a olhar
para o passado; ele é atualizado, hoje (em arrependimento e fé), mas não repetido.
Na santa ceia olhamos para frente – “até que ele venha” – e vivemos na expectativa
da próxima participação.
Outra maneira
de esperar pelo culto é ajudar a prepará-lo. Uma opção é fazer parte de uma
comissão de culto. Não uma comissão que apenas cuida das velas e das flores do
altar, mas que efetivamente ajuda a organizar o culto. Por que só o pastor sabe ou consegue escolher hinos para o culto? Por
que apenas o pastor estuda antecipadamente os textos do próximo culto? Não
seria possível ter uma comissão de culto que se reunisse durante a semana para
ajudar o pastor na reflexão dos textos, na seleção de hinos, na inclusão de
pedidos especiais na oração geral? Na falta de uma “comissão de culto”, por que
não estudar os textos do próximo culto em estudos bíblicos (em departamentos ou
grupos) ao longo da semana? Ou meia hora antes do culto? Se nada disso for
viável, ainda será possível “esperar pela festa” preparando-se para ela, lendo
individualmente ou em família os textos bíblicos que farão parte do próximo
culto. Como saber que textos serão?
Pergunte ao seu pastor ou consulte o Anuário
Luterano, onde estão as leituras de todos os domingos. Ou, então, peça que
essa lista de textos seja incluída no boletim informativo da paróquia ou no
calendário do ano.
Porque, num certo sentido, o melhor da festa é
esperar por ela. E nada melhor do que esperar preparando-se para ela. Quanto
mais preparados e envolvidos na preparação estivermos, menos teremos a
impressão de que “o culto do pastor” foi assim ou assado. Será, mais do que
nunca, “nosso culto”. Como, aliás, sempre é.