Trazei aos seus altares dos frutos que ele deu


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20/08/2020 #Reflexão #Editora Concórdia

Será que uma oferta em dinheiro não é algo material demais num culto que chamamos de espiritual?

Trazei aos seus altares dos frutos que ele deu

             Desde que me conheço por gente, lembro que se passam pratos durante o culto e os cristãos colocam neles dinheiro. Em algumas denominações cristãs, isso é feito na saída da igreja, depois do culto, o que poderia dar a entender que colocar dinheiro num prato de ofertas não faz parte do culto. Mas, no contexto da IELB, dificilmente alguém contestaria que ofertar faz parte do culto e que os pratos são passados em algum momento após a pregação.

              Existe base bíblica para isso? Claro que existe. Daria para lembrar os dízimos e as ofertas que faziam parte do culto do Antigo Testamento. Mas alguém dirá que estamos no Novo Testamento. Por isso, o que diz o Novo Testamento? Há alguma orientação clara no Novo Testamento a respeito desse ato de ofertar no culto? Há, sim. Está em 1Coríntios 16.2, onde Paulo escreve: “No primeiro dia da semana, cada um de vocês separe uma quantia, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que não seja necessário fazer coletas quando eu for”. O primeiro dia da semana é o domingo, o dia de culto dos cristãos desde a ressurreição de Cristo. Paulo, num projeto que durou dez anos, estava coletando recursos para os cristãos pobres da igreja de Jerusalém. Era uma obra de serviço social, mas que Paulo via também como um testemunho de fé.

Nos moldes de 1Coríntios 16.2, era costume, desde os tempos mais remotos da igreja, trazer ofertas para o culto. Os cristãos levavam alimentos, incluindo pão e vinho, e levavam também dinheiro. Essas ofertas eram conduzidas, em procissão, até uma mesa que ficava perto do altar. Depois entravam em ação os diáconos: separavam o pão e o vinho para a celebração da Santa Ceia e tratavam de organizar a distribuição dos demais alimentos para os pobres. Com o tempo, especialmente a partir da Reforma do século XVI, essa procissão do ofertório desapareceu.

Hoje temos uma parte da liturgia chamada Ofertório. É aquele cântico que começa com “Cria em mim, ó Deus, um puro coração”. Em geral, ainda é visto como uma resposta à pregação ou, então, como a conclusão ao ofício da Palavra. Mas o Ofertório é o início da celebração da Santa Ceia, como aparece na Ordem do Culto Principal I, no Hinário Luterano. Daria para argumentar que a oração geral e as ofertas também já fazem parte dessa última parte do culto. São três coisas que trazemos a Deus e que fazem parte do Ofertório: nossas orações, nossas ofertas e a nós mesmos (no cântico do “Cria em mim”).

Mas será que uma oferta em dinheiro não é algo material demais num culto que chamamos de espiritual? Não é assim que por vezes dizemos que essas questões de dinheiro devem ser tratadas pelos leigos e que os pastores devem se ocupar das “coisas espirituais”? Ora, se oferta em dinheiro faz parte do culto, então ela faz parte das coisas espirituais, e pastores podem (e devem) tratar delas. E, se forem ofertantes, podem falar sobre ofertas o tempo todo, porque estarão falando para si também. A dimensão espiritual da oferta se confirma pela leitura de Filipenses 4.10-20, um texto que infelizmente é pouco lembrado quando se trata das ofertas. O missionário Paulo havia recebido uma ajuda financeira da igreja de Filipos. Agora ele agradece. Paulo como que passa um recibo, ao dizer, no versículo 18: Aqui está o meu recibo de tudo o que vocês me enviaram e que foi mais do que o necessário”. “Recebi tudo e tenho até de sobra. Estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que vocês me mandaram, que é uma oferta de aroma suave, sacrifício aceitável e agradável a Deus.” Aqui, é importante notar o que o apóstolo Paulo não diz, para valorizar o que ele diz. Paulo não diz simplesmente: “Recebi o dinheiro. Muito obrigado!” Ele também não diz: “Vocês fizeram uma bonita oferta para Deus. Fico feliz em saber”. Paulo diz: Eu recebi o que vocês mandaram. Vocês fizeram uma oferta agradável a Deus!” Para quem vai o dinheiro colocado no prato? É usado para pagar as contas de água e luz, o salário dos pastores e dos missionários, a formação de pastores, a publicação de livros, etc. Mas o que é aquele ato de ofertar? Um simples contribuir? Não. É um sacrifício aceitável e agradável a Deus, em Cristo. É culto também.

Vilson Scholz

Professor de Teologia no Seminário Concórdia vscholz@uol.com.br

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