Ensinar é fazer pensar


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28/07/2020 #Artigos #Editora Concórdia

O ensino é um processo que abrange informação, conhecimento e sabedoria.

Ensinar é fazer pensar

            O texto a seguir foi escrito e apresentado pelo autor numa das reuniões dos Departamentos da IELB.  Solicitamos a ele que fizesse uma adaptação do mesmo para os leitores do Mensageiro Luterano.

 

              Na primeira reunião da atual gestão do Departamento de Ensino da IELB, sugeri que em cada encontro um dos integrantes pudesse compartilhar o que pensa do ensino na IELB. 

              Cada pessoa tem algo para ensinar. Ouvindo-as, podemos aprender com todas. Se desafiarmos as pessoas a falarem o que pensam da igreja e como por meio dela imaginam servir a Deus, teremos um maior comprometimento de todos. Uma prática salutar, quando pastores e líderes não são vistos como cerceadores da liberdade de expressão, agentes de censura.

São muitos os textos da Escritura Sagrada que apontam para a importância do ensino:

“O pastor precisa ter capacidade para ENSINAR” (1Tm 3.2).

“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ENSINANDO-OS a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28.19-20).

“E, todos os dias, no pátio do Templo e de casa em casa, eles (os apóstolos) continuavam a ENSINAR e a anunciar a boa notícia a respeito de Jesus, o Messias” (At 5.42).

“ENSINA a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele” (Pv 6.22).

“Os pastores que fazem um bom trabalho na igreja merecem pagamento em dobro, especialmente os que se esforçam na pregação do evangelho e no ENSINO cristão” (1Tm 5.17). 

 

Ensinar é um processo

Ensinar é fazer pensar. O ensino é um processo que abrange informação, conhecimento e sabedoria.

A informação recebida, se pensada, interpretada, discernida, gera o conhecimento e o conhecimento aplicado resulta em sabedoria.

               Adquirimos informação por ouvir, ver e ler; conhecimento por estudar, pensar e escrever; sabedoria por praticar a informação pensada. 

              Ouvir a Palavra de Deus, por exemplo, é suficiente para a salvação pela fé em Jesus Cristo, mas pode deixar o cristão na dependência de outros. Aquele que, além de ouvir a Palavra, também a lê, não se limita ao que outros ensinam. Veja os cristãos de Beréia, em At 17.10-15. 

              Estudar, pensar e escrever é não só nadar na superfície, mas mergulhar fundo nas Escrituras Sagradas. Possibilita explicar a razão de suas convicções: “estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1Pe 3.15).

Constatei maior crescimento no zelo e na qualidade ao desafiar os membros da congregação, em todas as 15 áreas de ação, a fazer o registro em livro das orações feitas pelos membros no início e no término das reuniões.

Benjamin Franklin, escreveu: “O que uma pessoa de caráter pensa, ela diz; o que diz, escreve; o que escreve, jura”.

Por que não desafiar a todos os participantes dos cultos e estudos bíblicos para que não só levem a sua Bíblia, mas também caderno para anotações, um gravador de bolso ou equipamento de filmagem (sempre com devida autorização) para registro de assuntos relevantes?

 Raramente, no meio luterano, observa-se alguém fazendo anotações de sermões, estudos bíblicos, palestras. Por que adotar essa prática só no ensino de confirmandos e adultos? Podemos imaginar um aluno interessado em aprender sem fazer anotações em aula?!

 

Ensinar é fazer pensar!

O professor Gérson Linden, ao se referir à necessidade de aumentar o quadro de pastores com pós-graduação, afirmou que “a IELB precisa de mais cabeças pensantes”. Vejo essa afirmativa como diagnóstico da nossa deficiência no ensino. A bem da verdade, não deveríamos ser todos na IELB cabeças pensantes?

 Penso que a maioria dos irmãos luteranos está apenas no estágio das informações no processo de ensino. Caso contrário, teríamos mais comprometimento com tempo, dons e bens. A exemplo da igreja primitiva, cresceríamos tridimensionalmente, isto é, no conhecimento da Palavra, no trabalho ativo e em número de membros.

O ensino precisa considerar os três níveis: informação, conhecimento e sabedoria.  Caso contrário, podemos ter uma parte da igreja que age sem pensar e a outra que pensa sem agir.

Muitas vezes, trabalhamos sem pensar. Investimos muitos recursos, humanos e financeiros, por exemplo, em produção de material para crianças da escola bíblica, grupos do programa de evangelização e mordomia, organizações auxiliares, devocionários, revistas. Excelentes e necessários recursos didáticos. Mas qual o percentual de membros que alcançamos com esses recursos (10 a 20%)?   

Quanto investimos na produção de material para ensino de confirmandos e adultos, que alcançam 100% dos membros da nossa Igreja? É sábio? Por que não estender o ensino confirmatório até os 18 anos de idade? Admissão à Santa Ceia, entre 10 e 12 anos?  

Ouvi murmúrios na plateia quando o professor Vilson Scholz afirmou em palestra, no Distrito Pioneiro, que “o pastor é pago para estudar a Bíblia”. 

Também ouvi murmúrios no arraial quando o pastor Clifford Winter, em 1984, na minha primeira participação em Convenção Nacional da IELB, sob o tema ‘Educação Continuada: chave para um ministério competente e eficiente’ afirmou: “O ministro ineficiente não expressa suas ideias com vitalidade; não lê para aprofundar-se e suas ideias parecem que advém da TV, jornais e revistas; não admite que alguém não pense como ele; ao falar sobre a fé cristã, suas frases parecem sair da boca de seus professores; parece que não possui ideias próprias; não desafia os pensamentos dos seus congregados”.

Afirmou ainda que “muitos de nós pensam que, porque estudaram aquela que chamamos ‘a rainha das ciências’, a teologia, já sabem tudo o que é preciso”.   

“Ministros competentes e eficientes lêem autores cristãos e não-cristãos. Não há nada que impeça de aprender em cursos de seminários não-luteranos. Talvez você aprenda muito de um curso de história medieval em um seminário católico romano ou de evangelismo numa escola batista ou assembleia de Deus” (anotações manuscritas da palestra do prof. Winter).

 “Pensar é o trabalho mais árduo que existe, por isso tão poucos se dedicam a fazê-lo”, afirmou Henry Ford.

 Segundo a imperatriz Mª Teresa – em Grandes Homens e Mulheres Famosas – o conselho dado pela mãe à filha, Maria Antonieta, é o pior da história: “Não penses por conta própria, obedece às ordens e pede sempre mais conselhos”.

   Queremos cabeças pensantes na IELB ou “antonietas”?

 

Muitas informações e pouco conhecimento

Hoje, regidos pela economia, praticamente todos os governos do mundo e o setor privado agem sob o lema: “Compre, divirta-se e seja feliz. Mas, acima de tudo, não pense”.

Acredito que para crescer em conhecimento e sabedoria é indispensável pensar. Na escola – nas séries iniciais – e no ensino confirmatório, não fui ensinado a pensar; praticamente só a memorizar. Com mera informação, por exemplo, aprendi apenas a rezar o Pai Nosso; quando ensinado a pensar, aprendi a orar, dialogar com Deus.

Hoje as pessoas têm muita informação, mas pouco conhecimento e sabedoria.  Estão muito ligadas a buscas na internet.  Por isso, um dos grandes desafios para o ensino é fazer pensar diante da avalanche de informações disponíveis.

Microsoft, Google e Yahoo são ferramentas fantásticas da internet, mas não são eficientes para transformar informação em conhecimento e sabedoria para o usuário comum. 

As buscas na internet se processam por algoritmos, um processo estritamente matemático. O processo humano de pensar é movido a discernimento. Discernir é escolher, avaliar, julgar, distinguir.  A capacidade, nas buscas nas Escrituras Sagradas, dada pelo Espírito Santo (João 16.8).

A máquina não consegue usar discernimento no processo de busca na internet; é o julgamento do usuário que decidirá quais dos sites recomendados se encaixam em sua expectativa.

Há empresas que tentam “humanizar” as buscas na internet, contratando pessoas que realizam, a partir de suas casas, uma busca para o usuário em prazo rápido. O usuário, então, preenche uma linha colocando o que deseja pesquisar, mas quem recebe esse pedido é um ser humano, que acabará aplicando o seu discernimento na busca.

Joey Reiman (publicitário norte-americano), em 1995, fundou a Bright House, a primeira agência especializada em criar e vender ideias para organizações não pensantes.

Em seu livro Ideias (Editora Futuro), Reiman conta como usá-las para renovar negócios, carreira, e como é possível ter mais de 50 pessoas a serviço, contratadas somente para pensar.

 

Pensar é discernir as informações

           Pensar é discernir as informações para gerar conhecimento e sabedoria. Por que se dá pouca importância ao Batismo, aos estudos bíblicos e à celebração da Santa Ceia? Por que pais luteranos, membros da igreja por décadas, assíduos aos cultos, demoram tanto para levar os filhos ao Batismo? 

Penso que podem ter mera informação a respeito do Batismo. Ouviram e leram muitas vezes, até sabem de memória textos como os que constam em quase todos os certificados de Batismo –  Gl 3.26-27 –, mas nunca pararam para pensar a respeito.

Pois, por meio da fé em Cristo Jesus, todos vocês são filhos de Deus. Porque vocês foram batizados para ficarem unidos com Cristo e assim se revestiram com as qualidades do próprio Cristo (NTLH)”.

 Podemos protelar, não priorizando um ato tão simples e rápido, pelo qual, por graça, nossos queridos filhos são declarados justos diante de Deus, morrem para o poder de domínio do pecado e são feitos membros de uma família imortal?

Pensando na presença REAL de Jesus Cristo na Santa Ceia, podemos deixar de aproveitar as oportunidades?

Se “a Palavra de Deus é VIVA e poderosa” (Hb 4.12 - NTLH), então o próprio autor, Deus, está presente quando a ouço, leio e estudo. Isso faz da Bíblia um livro único, exclusivo; o meio que Deus escolheu para falar diretamente ao nosso coração.

Como será a estrutura de ação da congregação e o comprometimento dos membros com o trabalho na Igreja se os levarmos a ouvir, ler – estudar, pensar, escrever – e aplicar: Êxodo 18: Moisés escolhe ajudantes. Neemias: o envolvimento de todos em mutirão.  Mateus 25: a Parábola dos Talentos. 1Coríntios 12.12-31: os diferentes dons e a unidade orgânica da igreja. Efésios 4.1-16: a Igreja é o corpo de Cristo; o santo ministério e o serviço dos santos?

Ensinar é fazer com que todos, desde a infância, estudem, pensem e escrevam aquilo que ouvem e lêem nas Escrituras Sagradas, que podem dar a sabedoria que leva à salvação por meio da fé em Cristo Jesus.

 

Elmar Regauer

Pastor da IELB em Santa Maria, RS

Conselheiro do Distrito Pioneiro

 

Texto publicado no Mensageiro Luterano de junho de 2013.

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