Culto genérico ou culto cristão? 


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24/07/2020 #Reflexão #Editora Concórdia

O culto cristão confessa aquilo que é tipicamente cristão, numa comparação com outras religiões monoteístas: a existência de um só Deus em três pessoas.

Culto genérico ou culto cristão? 

     Digamos que um cristão convide outra pessoa para vir ao culto na Igreja Luterana, dizendo algo mais ou menos assim: “O culto é bem legal. É dirigido a Deus, mas, como você sabe, Deus é um só e é sempre o mesmo Deus”. Quanto tempo iria demorar até que esse eventual visitante viesse a descobrir que não é bem assim, que o culto luterano não é um culto genérico, mas um culto especificamente cristão? Não seria necessário ir além da Invocação (“Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”), bem no começo! Isto, é claro, se o hino inicial não for de caráter trinitário, concluindo com uma doxologia (em que a congregação é convidada a se pôr de pé). Por exemplo, o hino “Santo, Santo, Santo” (número 154 do Hinário Luterano), no final da última estrofe diz assim: “Glória ao Pai e ao Filho e ao Consolador! Todos os remidos cantam teu louvor”. Cantado no início do culto, esse hino já deixa claro a quem se dirige o louvor daquela igreja.

     O culto cristão confessa aquilo que é tipicamente cristão, numa comparação com outras religiões monoteístas: a existência de um só Deus em três pessoas. Em outras palavras, a confissão da Trindade faz do culto cristão um culto especificamente cristão.

     E esse caráter trinitário se repete ao longo da liturgia. Na Confissão e Absolvição, pedimos que Deus não nos condene por amor de Jesus Cristo e nos console com o Espírito Santo. E o pastor perdoa os nossos pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

     O Introito e/ou a recitação do Salmo do dia conclui com o Gloria Patri (“Glória ao Pai”), que é, na realidade, o “Glória ao Pai ao Filho e ao Espírito Santo...”. Esta, dizemos, é uma maneira de “cristianizar” os Salmos, aparecendo ao final de todas as leituras dos Salmos. Logo em seguida, no culto, vem o Kyrie (“Ó Senhor”), feito de três partes, que podem ser vistas como tendo uma estrutura trinitária. O Gloria in Excelsis (“Glória nas alturas”) é um cântico de louvor dirigido a “Deus Pai Todo-Poderoso”, ao “Filho Unigênito” que, “juntamente com o Espírito Santo”, é o Altíssimo na glória de Deus Pai. Depois, a Coleta ou Oração do dia costuma concluir com uma referência à Trindade. A confissão de fé (o Credo) tem uma estrutura trinitária, na medida em que confessa o Criador, o Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo.

    Poderá haver mais elementos trinitários durante o culto. Quando este se encerra, com a bênção, a estrutura é, no mínimo, tríplice, para não dizer trinitária: “O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti. O Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz”.

     Portanto, o culto cristão histórico, assim como é celebrado na Igreja Luterana, não é um culto genérico em que cada um pode preencher mentalmente com o que entende pela palavra “Deus”. Trata-se de um culto bem definido, dirigido à Santíssima Trindade.

    Para não ficar apenas no campo teórico, que tal uma sugestão prática? O Hinário já sugere que a igreja se coloque de pé, na última estrofe de um hino, quando houver referência à Trindade. Que tal inclinar levemente a cabeça, sempre que houver uma referência à Trindade? Sendo o nosso culto um tanto quanto “estático” ou desprovido de movimentos, é um pequeno gesto de adoração que, além do mais, mostra que estamos conscientes de que nosso culto se dirige ao Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.

Vilson Scholz

Professor de Teologia no Seminário Concórdia vscholz@uol.com.br

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