Aos pastores da Igreja:


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09/07/2020 #Artigos #Editora Concórdia

“Cuidem do rebanho no qual o Espírito Santo os colocou como bispos” (Atos 20.28).

Aos pastores da Igreja:

         Cuidar de rebanho parece coisa de pastor de ovelhas, mas a referência a bispos, no texto que aparece como título deste estudo, sugere que esse texto de Atos 20 trata da igreja. É verdade. Essa frase faz parte da fala de Paulo aos presbíteros da igreja de Éfeso (Atos 20). No entanto, se a igreja é rebanho, não seria mais natural falar sobre pastores em vez de bispos? Na verdade, Paulo continua a sua fala com as palavras “para pastorearem a igreja de Deus”. O bispo pastoreia. Mas o que se entende por igreja? E pastor? E bispo?

 

A igreja como rebanho

A igreja aparece como rebanho em várias passagens da Bíblia. Entre as mais conhecidas estão Lucas 12.32 (“não tenha medo, ó pequenino rebanho”), João 10.16 (“haverá um só rebanho e um só pastor”) e 1Pedro 5.2,3 (“pastoreiem o rebanho de Deus”). Em sentido literal, rebanho é um grupo de animais, mas em sentido figurado designa “um agrupamento de pessoas unidas por um mesmo vínculo”. No caso da Igreja, o vínculo que une as pessoas é a fé e o mesmo Pastor, que é Cristo.

 

Outros nomes para a igreja

         A igreja aparece também com outros nomes, como, por exemplo, “lavoura de Deus” e “edifício de Deus” (1Co 3.9), “eleitos de Deus” (Cl 3.12), “casa espiritual” (1Pe 2.5), “sacerdócio real” e “nação santa” (1Pe 2.9), “irmãos na fé” (1Pe 2.17) e “filhos de Deus” (1Jo 3.1). Um dos nomes mais importantes é “corpo de Cristo” (1Co 12.27). E existe, é claro, o termo igreja.

 

O significado de igreja

         igreja é uma palavra que vem do grego (ekklesía), através do latim (ecclesia). Essa palavra aparece umas 114 vezes no Novo Testamento (o que não significa que o assunto “igreja” só aparece 114 vezes!). Muitos, ao ouvirem o termo “igreja” pensam numa organização religiosa ou, com mais frequência, num prédio. Lutero, em seu tempo, já se queixava que as pessoas simples entendiam a palavrinha Kirche (“igreja”, em alemão) no sentido de “edifício consagrado”, e não no sentido de “grupo reunido”. Em seu Catecismo Maior (Do Credo, Terceira Parte), Lutero explica que igreja “significa propriamente reunião ou assembleia”. (No Catecismo, Lutero usa a palavra alemã Versammlunge, que significa reunião ou congregação. Em sua tradução da Bíblia, Lutero preferiu a palavra Gemeinde, que se traduz por comunidade.)

No período do Novo Testamento, quando alguém dizia a palavra grega ekklesía (“igreja”), as pessoas pensavam numa reunião de pessoas. Alguns ainda pensam que a palavra vem de um verbo que significa “chamar para fora”, mas ninguém pensava em “chamados para fora” ao ouvir o termo “igreja”. Num sentido secular, como o termo é usado em Atos 19.32,39, “igreja” era uma “assembleia dos cidadãos”. No sentido cristão, a igreja é a “comunidade cristã reunida” (Rm 16.5,16). Mas o termo igreja pode designar também “todos os cristãos que vivem num lugar”, como em Atos 8.1 (“a igreja em Jerusalém”). Por fim, num sentido talvez mais teológico ainda, igreja pode designar “todos os crentes”, como em Efésios 1.22.

 

Igrejas e igreja

O Novo Testamento fala tanto sobre igreja (no singular) quanto sobre igrejas (no plural). O plural é mais raro: apenas 35 vezes, geralmente em Atos dos Apóstolos, nas cartas de Paulo e no Apocalipse (“sete igrejas”). Num primeiro momento, seria possível pensar que “a igreja” é a combinação de todas as igrejas, dos mais diferentes locais. Assim, somando todas as igrejas ou vendo todas em conjunto, teríamos “a igreja”. Mas essa visão matemática não condiz com a realidade. A Bíblia traz o termo “igreja” e o termo “igrejas”, mas nunca fala sobre “uma parte da igreja” ou “a soma das igrejas”. Num sentido teológico, a igreja reunida num só local é “a igreja de Cristo”. E todas as igrejas, dos mais diferentes lugares, são “a igreja de Cristo”. Em outras palavras, uma comunidade de um local é a igreja (At 5.11; 1Co 15.9), as comunidades de uma região ou país são a igreja (At 9.31), e a igreja de todo o mundo é a igreja (Mt 16.18; Ef 1.22). Sempre é o corpo de Cristo (1Co 12.27), que não pode ser fracionado. Mesmo que sejam dois ou três (Mt 18.20), é a igreja, o corpo de Cristo. Sempre a igreja completa. Cada uma das igrejas é igreja no sentido pleno da palavra.

 

O que faz com que um grupo de pessoas seja igreja?

A igreja não depende do número de pessoas reunidas, do lugar onde elas se reúnem, nem do nível de consagração das pessoas. Fundamental é a presença de Jesus, através de sua Palavra. A Confissão de Augsburgo, no Artigo VII, diz que “sempre haverá e permanecerá uma única santa igreja cristã, que é a congregação (ou “reunião”) de todos os crentes, entre os quais o evangelho é pregado puramente e os santos sacramentos são administrados de acordo com o evangelho”. Pregação da Palavra e administração dos sacramentos são as marcas da igreja. Onde Cristo está, ali está a igreja.

 

A igreja pode ser “do Brasil”?

A igreja é, a rigor, de Deus (At 20.28; Gl 1.13), porque ele a comprou com o seu sangue, como Paulo explica em Atos 20.28. Mas, no Novo Testamento, fala-se também sobre “a igreja de Antioquia” (At 13.1) e sobre “a igreja de Deus que está em Corinto” (1Co 1.2). A igreja era de Antioquia no sentido de estar em Antioquia. No mesmo sentido, existiram também as igrejas “da Galácia” (1Co 16.1) e “da Macedônia” (2Co 8.1). Por isso, podemos falar da igreja do Brasil e da igreja no Brasil. Sempre entendendo que se trata da igreja de Deus.

 

Igreja e Sínodo

         No contexto das igrejas Luteranas, é comum usar o termo sínodo. Em nada difere de igreja, pois também significa reunião ou concílio. (É falsa a opinião de que sínodo significa “caminhar juntos”. Se fosse verdade, um “sínodo de bispos” seria um simples passeio de bispos em algum pátio ou corredor.) Apesar da afirmação de que um Sínodo, no sentido de as igrejas de um país, não é propriamente igreja, é preciso afirmar o contrário. Existe algo como “a igreja ... por toda a Judeia, Galileia e Samaria” (Atos 9.31). O apóstolo Paulo fala da sua “preocupação com todas as igrejas”, em 2Co 11.28. Essas igrejas, por vezes chamadas de “igrejas paulinas”, chegam perto do que hoje entendemos por sínodo. Aquilo que, no contexto da IELB, se chama de distrito, é igreja; e a própria IELB não é outra coisa que não seja igreja.

 

E a liderança da igreja?

Nunca houve um tempo em que a igreja estivesse sem liderança pastoral. Além do relato de Atos, em que se vê Paulo promovendo a eleição de presbíteros (At 14.23), o começo da carta aos Filipenses revela que já no período inicial as igrejas paulinas tinham uma liderança de “bispos e diáconos” (Fp 1.1). (Entre os vários textos que tratam do ministério pastoral, destacam-se 1Tm 3.1-7; Tito 1.5-9; At 20.17-38; Ef 4.7-16; Hb 13.7-17 e 1Pe 5.1-4.)

 

Presbíteros, bispos, pastores

Segundo o texto de Atos 20, Paulo convocou os presbíteros de Éfeso (At 20.17), aos quais chamou de bispos (At 20.28), dizendo-lhes que deviam pastorear a igreja de Deus. Este texto, apoiado por Tito 1.5,7, mostra que, no Novo Testamento, não há diferença entre presbítero e bispo. Presbítero significa, literalmente, “homem mais velho”, mas no contexto da igreja designava aqueles que presidiam as igrejas (At 11.30; 14.23). O epískopos, termo grego de onde nos vem bispo, era um supervisor, em alguns casos uma espécie de mestre de obras. Em sua aplicação ao contexto da igreja, o termo passou a designar o líder que cuida do bem-estar dos outros. Jesus é o “Pastor e Bispo da alma de vocês” (1Pe 2.25), ou seja, “o Pastor, que cuida da vida espiritual de vocês”.

Pastor é uma palavra que parece ter algo a ver com pasto. E tem mesmo! No Antigo Testamento, o termo hebraico para pastor vem de um verbo que significa levar os animais ao pasto. A palavra do português tem a mesma derivação, ou seja, um pastor é alguém que leva os animais ao pasto. No caso da igreja, o pastor é aquele que cuida da igreja, alimentando o rebanho. Quando Jesus disse a Pedro, “apascente as minhas ovelhas” (Jo 21,15,17), estava literalmente dizendo: “alimente as minhas ovelhas”. Alimentar as ovelhas é ensinar a Palavra de Deus.

 

Quantos pastores nós temos?

         O verdadeiro e único pastor da igreja é Jesus Cristo (Jo 10.16), que é o Supremo Pastor (1Pe 5.4). Mas ele pastoreia a igreja por meio dos sub-pastores. Estes, que podem ser poucos ou muitos, atuam segundo o modelo de Jesus e em nome dele. “Não como dominadores”, diz Pedro (1Pe 5.3). E Paulo explicou à igreja de Corinto que os pastores são “cooperadores da alegria de vocês” (2Co 1.24).

 

O meu pastor é da igreja ou é de Cristo?

         Ele é as duas coisas: de Cristo e da igreja. Paulo explicou aos presbíteros de Éfeso que eles foram colocados na igreja pelo Espírito Santo. (O Artigo V da Confissão de Augsburgo confessa que Deus instituiu o ofício da pregação.) Isso significa que o pastor não está nem acima da igreja (como dominador), nem abaixo da igreja (como simples funcionário). Ele atua dentro da igreja, como servo de Cristo. A igreja ou o sacerdócio real não transfere o seu ministério ou serviço ao pastor, até porque a igreja continua com o seu ministério, que inclui perdoar pecados (Mt 18.18-20). A existência e atuação do pastorado não anula a ação da igreja, e vice-versa. Usando uma figura, pode-se dizer que “a cadeira em que o pastor senta foi colocada por Deus, e não pela igreja, mas a igreja tem o privilégio de escolher quem vai sentar naquela cadeira”.

 

Existe um jeito único de organizar a igreja e o ministério pastoral?

         A resposta é não, porque não existe um mandamento divino para essas coisas. Não havendo, o que importa é a boa ordem (1Co 14.40) e o amor. O Novo Testamento apresenta vários quadros de como pastores eram escolhidos, em situações que podem ser chamadas de normais, sem que se diga algo como “é assim que tem de ser”. Não fazemos sorteio quando chamamos um pastor, mas até poderíamos fazer (veja-se At 1.26). (Um documento da igreja Luterana dos Estados Unidos abre a possibilidade de se fazer um sorteio entre três candidatos, ao final do processo de eleição de um pastor.)

Entendemos que Deus chama e, por isso, podemos continuar falando sobre “chamado divino”. Agora, Deus chama por meio de quem? Por meio da igreja. Isso pode ser feito por uma congregação local, uma comissão da igreja, uma liga (como de Servas ou de Leigos), uma diretoria nacional, o presidente da IELB, quem estiver autorizado a fazer isso como igreja. O teólogo luterano Hermann Sasse explica: “Deus chama homens para o seu serviço, em geral por meio de pessoas. Pouco importa como isso se dá. Se é ação de um indivíduo, ou um grupo oficial ou a igreja reunida em culto a Deus: tudo é feito em nome da Igreja     Cuidar de rebanho parece coisa de pastor de ovelhas, mas a referência a bispos, no texto que aparece como título deste estudo, sugere que esse texto de Atos 20 trata da igreja. É verdade. Essa frase faz parte da fala de Paulo aos presbíteros da igreja de Éfeso (Atos 20). No entanto, se a igreja é rebanho, não seria mais natural falar sobre pastores em vez de bispos? Na verdade, Paulo continua a sua fala com as palavras “para pastorearem a igreja de Deus”. O bispo pastoreia. Mas o que se entende por igreja? E pastor? E bispo?

 

A igreja como rebanho

A igreja aparece como rebanho em várias passagens da Bíblia. Entre as mais conhecidas estão Lucas 12.32 (“não tenha medo, ó pequenino rebanho”), João 10.16 (“haverá um só rebanho e um só pastor”) e 1Pedro 5.2,3 (“pastoreiem o rebanho de Deus”). Em sentido literal, rebanho é um grupo de animais, mas em sentido figurado designa “um agrupamento de pessoas unidas por um mesmo vínculo”. No caso da Igreja, o vínculo que une as pessoas é a fé e o mesmo Pastor, que é Cristo.

 

Outros nomes para a igreja

         A igreja aparece também com outros nomes, como, por exemplo, “lavoura de Deus” e “edifício de Deus” (1Co 3.9), “eleitos de Deus” (Cl 3.12), “casa espiritual” (1Pe 2.5), “sacerdócio real” e “nação santa” (1Pe 2.9), “irmãos na fé” (1Pe 2.17) e “filhos de Deus” (1Jo 3.1). Um dos nomes mais importantes é “corpo de Cristo” (1Co 12.27). E existe, é claro, o termo igreja.

 

O significado de igreja

         igreja é uma palavra que vem do grego (ekklesía), através do latim (ecclesia). Essa palavra aparece umas 114 vezes no Novo Testamento (o que não significa que o assunto “igreja” só aparece 114 vezes!). Muitos, ao ouvirem o termo “igreja” pensam numa organização religiosa ou, com mais frequência, num prédio. Lutero, em seu tempo, já se queixava que as pessoas simples entendiam a palavrinha Kirche (“igreja”, em alemão) no sentido de “edifício consagrado”, e não no sentido de “grupo reunido”. Em seu Catecismo Maior (Do Credo, Terceira Parte), Lutero explica que igreja “significa propriamente reunião ou assembleia”. (No Catecismo, Lutero usa a palavra alemã Versammlunge, que significa reunião ou congregação. Em sua tradução da Bíblia, Lutero preferiu a palavra Gemeinde, que se traduz por comunidade.)

No período do Novo Testamento, quando alguém dizia a palavra grega ekklesía (“igreja”), as pessoas pensavam numa reunião de pessoas. Alguns ainda pensam que a palavra vem de um verbo que significa “chamar para fora”, mas ninguém pensava em “chamados para fora” ao ouvir o termo “igreja”. Num sentido secular, como o termo é usado em Atos 19.32,39, “igreja” era uma “assembleia dos cidadãos”. No sentido cristão, a igreja é a “comunidade cristã reunida” (Rm 16.5,16). Mas o termo igreja pode designar também “todos os cristãos que vivem num lugar”, como em Atos 8.1 (“a igreja em Jerusalém”). Por fim, num sentido talvez mais teológico ainda, igreja pode designar “todos os crentes”, como em Efésios 1.22.

 

Igrejas e igreja

O Novo Testamento fala tanto sobre igreja (no singular) quanto sobre igrejas (no plural). O plural é mais raro: apenas 35 vezes, geralmente em Atos dos Apóstolos, nas cartas de Paulo e no Apocalipse (“sete igrejas”). Num primeiro momento, seria possível pensar que “a igreja” é a combinação de todas as igrejas, dos mais diferentes locais. Assim, somando todas as igrejas ou vendo todas em conjunto, teríamos “a igreja”. Mas essa visão matemática não condiz com a realidade. A Bíblia traz o termo “igreja” e o termo “igrejas”, mas nunca fala sobre “uma parte da igreja” ou “a soma das igrejas”. Num sentido teológico, a igreja reunida num só local é “a igreja de Cristo”. E todas as igrejas, dos mais diferentes lugares, são “a igreja de Cristo”. Em outras palavras, uma comunidade de um local é a igreja (At 5.11; 1Co 15.9), as comunidades de uma região ou país são a igreja (At 9.31), e a igreja de todo o mundo é a igreja (Mt 16.18; Ef 1.22). Sempre é o corpo de Cristo (1Co 12.27), que não pode ser fracionado. Mesmo que sejam dois ou três (Mt 18.20), é a igreja, o corpo de Cristo. Sempre a igreja completa. Cada uma das igrejas é igreja no sentido pleno da palavra.

 

O que faz com que um grupo de pessoas seja igreja?

A igreja não depende do número de pessoas reunidas, do lugar onde elas se reúnem, nem do nível de consagração das pessoas. Fundamental é a presença de Jesus, através de sua Palavra. A Confissão de Augsburgo, no Artigo VII, diz que “sempre haverá e permanecerá uma única santa igreja cristã, que é a congregação (ou “reunião”) de todos os crentes, entre os quais o evangelho é pregado puramente e os santos sacramentos são administrados de acordo com o evangelho”. Pregação da Palavra e administração dos sacramentos são as marcas da igreja. Onde Cristo está, ali está a igreja.

 

A igreja pode ser “do Brasil”?

A igreja é, a rigor, de Deus (At 20.28; Gl 1.13), porque ele a comprou com o seu sangue, como Paulo explica em Atos 20.28. Mas, no Novo Testamento, fala-se também sobre “a igreja de Antioquia” (At 13.1) e sobre “a igreja de Deus que está em Corinto” (1Co 1.2). A igreja era de Antioquia no sentido de estar em Antioquia. No mesmo sentido, existiram também as igrejas “da Galácia” (1Co 16.1) e “da Macedônia” (2Co 8.1). Por isso, podemos falar da igreja do Brasil e da igreja no Brasil. Sempre entendendo que se trata da igreja de Deus.

 

Igreja e Sínodo

         No contexto das igrejas Luteranas, é comum usar o termo sínodo. Em nada difere de igreja, pois também significa reunião ou concílio. (É falsa a opinião de que sínodo significa “caminhar juntos”. Se fosse verdade, um “sínodo de bispos” seria um simples passeio de bispos em algum pátio ou corredor.) Apesar da afirmação de que um Sínodo, no sentido de as igrejas de um país, não é propriamente igreja, é preciso afirmar o contrário. Existe algo como “a igreja ... por toda a Judeia, Galileia e Samaria” (Atos 9.31). O apóstolo Paulo fala da sua “preocupação com todas as igrejas”, em 2Co 11.28. Essas igrejas, por vezes chamadas de “igrejas paulinas”, chegam perto do que hoje entendemos por sínodo. Aquilo que, no contexto da IELB, se chama de distrito, é igreja; e a própria IELB não é outra coisa que não seja igreja.

 

E a liderança da igreja?

Nunca houve um tempo em que a igreja estivesse sem liderança pastoral. Além do relato de Atos, em que se vê Paulo promovendo a eleição de presbíteros (At 14.23), o começo da carta aos Filipenses revela que já no período inicial as igrejas paulinas tinham uma liderança de “bispos e diáconos” (Fp 1.1). (Entre os vários textos que tratam do ministério pastoral, destacam-se 1Tm 3.1-7; Tito 1.5-9; At 20.17-38; Ef 4.7-16; Hb 13.7-17 e 1Pe 5.1-4.)

 

Presbíteros, bispos, pastores

Segundo o texto de Atos 20, Paulo convocou os presbíteros de Éfeso (At 20.17), aos quais chamou de bispos (At 20.28), dizendo-lhes que deviam pastorear a igreja de Deus. Este texto, apoiado por Tito 1.5,7, mostra que, no Novo Testamento, não há diferença entre presbítero e bispo. Presbítero significa, literalmente, “homem mais velho”, mas no contexto da igreja designava aqueles que presidiam as igrejas (At 11.30; 14.23). O epískopos, termo grego de onde nos vem bispo, era um supervisor, em alguns casos uma espécie de mestre de obras. Em sua aplicação ao contexto da igreja, o termo passou a designar o líder que cuida do bem-estar dos outros. Jesus é o “Pastor e Bispo da alma de vocês” (1Pe 2.25), ou seja, “o Pastor, que cuida da vida espiritual de vocês”.

Pastor é uma palavra que parece ter algo a ver com pasto. E tem mesmo! No Antigo Testamento, o termo hebraico para pastor vem de um verbo que significa levar os animais ao pasto. A palavra do português tem a mesma derivação, ou seja, um pastor é alguém que leva os animais ao pasto. No caso da igreja, o pastor é aquele que cuida da igreja, alimentando o rebanho. Quando Jesus disse a Pedro, “apascente as minhas ovelhas” (Jo 21,15,17), estava literalmente dizendo: “alimente as minhas ovelhas”. Alimentar as ovelhas é ensinar a Palavra de Deus.

 

Quantos pastores nós temos?

         O verdadeiro e único pastor da igreja é Jesus Cristo (Jo 10.16), que é o Supremo Pastor (1Pe 5.4). Mas ele pastoreia a igreja por meio dos sub-pastores. Estes, que podem ser poucos ou muitos, atuam segundo o modelo de Jesus e em nome dele. “Não como dominadores”, diz Pedro (1Pe 5.3). E Paulo explicou à igreja de Corinto que os pastores são “cooperadores da alegria de vocês” (2Co 1.24).

 

O meu pastor é da igreja ou é de Cristo?

         Ele é as duas coisas: de Cristo e da igreja. Paulo explicou aos presbíteros de Éfeso que eles foram colocados na igreja pelo Espírito Santo. (O Artigo V da Confissão de Augsburgo confessa que Deus instituiu o ofício da pregação.) Isso significa que o pastor não está nem acima da igreja (como dominador), nem abaixo da igreja (como simples funcionário). Ele atua dentro da igreja, como servo de Cristo. A igreja ou o sacerdócio real não transfere o seu ministério ou serviço ao pastor, até porque a igreja continua com o seu ministério, que inclui perdoar pecados (Mt 18.18-20). A existência e atuação do pastorado não anula a ação da igreja, e vice-versa. Usando uma figura, pode-se dizer que “a cadeira em que o pastor senta foi colocada por Deus, e não pela igreja, mas a igreja tem o privilégio de escolher quem vai sentar naquela cadeira”.

 

Existe um jeito único de organizar a igreja e o ministério pastoral?

         A resposta é não, porque não existe um mandamento divino para essas coisas. Não havendo, o que importa é a boa ordem (1Co 14.40) e o amor. O Novo Testamento apresenta vários quadros de como pastores eram escolhidos, em situações que podem ser chamadas de normais, sem que se diga algo como “é assim que tem de ser”. Não fazemos sorteio quando chamamos um pastor, mas até poderíamos fazer (veja-se At 1.26). (Um documento da igreja Luterana dos Estados Unidos abre a possibilidade de se fazer um sorteio entre três candidatos, ao final do processo de eleição de um pastor.)

Entendemos que Deus chama e, por isso, podemos continuar falando sobre “chamado divino”. Agora, Deus chama por meio de quem? Por meio da igreja. Isso pode ser feito por uma congregação local, uma comissão da igreja, uma liga (como de Servas ou de Leigos), uma diretoria nacional, o presidente da IELB, quem estiver autorizado a fazer isso como igreja. O teólogo luterano Hermann Sasse explica: “Deus chama homens para o seu serviço, em geral por meio de pessoas. Pouco importa como isso se dá. Se é ação de um indivíduo, ou um grupo oficial ou a igreja reunida em culto a Deus: tudo é feito em nome da Igreja, toda a Igreja, que é o corpo de Cristo, e, com isso, no poder do Espírito Santo”.

Vilson Scholz

Professor de Teologia no Seminário Concórdia vscholz@uol.com.br

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