Cuidar
de rebanho parece coisa de pastor de ovelhas, mas a referência a bispos, no
texto que aparece como título deste estudo, sugere que esse texto de Atos 20 trata
da igreja. É verdade. Essa frase faz parte da fala de Paulo aos presbíteros da igreja
de Éfeso (Atos 20). No entanto, se a igreja é rebanho, não seria mais natural
falar sobre pastores em vez de bispos? Na verdade, Paulo continua a sua fala
com as palavras “para pastorearem a igreja de Deus”. O bispo pastoreia. Mas o que se entende por igreja? E pastor? E
bispo?
A
igreja como rebanho
A igreja aparece como
rebanho em várias passagens da Bíblia. Entre as mais conhecidas estão Lucas
12.32 (“não tenha medo, ó pequenino rebanho”), João 10.16 (“haverá um só
rebanho e um só pastor”) e 1Pedro 5.2,3 (“pastoreiem o rebanho de Deus”). Em
sentido literal, rebanho é um grupo de animais, mas em sentido figurado designa
“um agrupamento de pessoas unidas por um mesmo vínculo”. No caso da Igreja, o
vínculo que une as pessoas é a fé e o mesmo Pastor, que é Cristo.
Outros
nomes para a igreja
A
igreja aparece também com outros nomes, como, por exemplo, “lavoura de Deus” e
“edifício de Deus” (1Co 3.9), “eleitos de Deus” (Cl 3.12), “casa espiritual” (1Pe
2.5), “sacerdócio real” e “nação santa” (1Pe 2.9), “irmãos na fé” (1Pe 2.17) e “filhos
de Deus” (1Jo 3.1). Um dos nomes mais importantes é “corpo de Cristo” (1Co
12.27). E existe, é claro, o termo igreja.
O
significado de igreja
igreja
é uma palavra que vem do grego (ekklesía), através do latim (ecclesia).
Essa palavra aparece umas 114 vezes no Novo Testamento (o que não significa que
o assunto “igreja” só aparece 114 vezes!). Muitos, ao ouvirem o termo “igreja”
pensam numa organização religiosa ou, com mais frequência, num prédio. Lutero,
em seu tempo, já se queixava que as pessoas simples entendiam a palavrinha Kirche
(“igreja”, em alemão) no sentido de “edifício consagrado”, e não no sentido de
“grupo reunido”. Em seu Catecismo Maior (Do Credo, Terceira Parte), Lutero
explica que igreja “significa propriamente reunião ou assembleia”. (No
Catecismo, Lutero usa a palavra alemã Versammlunge,
que significa reunião ou congregação. Em sua tradução da Bíblia, Lutero preferiu
a palavra Gemeinde, que se traduz por
comunidade.)
No período do Novo
Testamento, quando alguém dizia a palavra grega ekklesía (“igreja”), as
pessoas pensavam numa reunião de pessoas. Alguns ainda pensam que a palavra vem
de um verbo que significa “chamar para fora”, mas ninguém pensava em “chamados
para fora” ao ouvir o termo “igreja”. Num sentido secular, como o termo é usado
em Atos 19.32,39, “igreja” era uma “assembleia dos cidadãos”. No sentido
cristão, a igreja é a “comunidade cristã reunida” (Rm 16.5,16). Mas o termo igreja
pode designar também “todos os cristãos que vivem num lugar”, como em Atos 8.1 (“a
igreja em Jerusalém”). Por fim, num sentido talvez mais teológico ainda, igreja
pode designar “todos os crentes”, como em Efésios 1.22.
Igrejas e igreja
O Novo Testamento fala tanto sobre igreja
(no singular) quanto sobre igrejas (no plural). O plural é mais raro: apenas 35 vezes, geralmente em Atos
dos Apóstolos, nas cartas de Paulo e no Apocalipse (“sete igrejas”). Num primeiro
momento, seria possível pensar que “a igreja” é a combinação de todas as igrejas,
dos mais diferentes locais. Assim, somando todas as igrejas ou vendo todas em
conjunto, teríamos “a igreja”. Mas essa visão matemática não condiz com a
realidade. A Bíblia traz o termo “igreja” e o termo “igrejas”, mas nunca fala
sobre “uma parte da igreja” ou “a soma das igrejas”. Num sentido teológico, a igreja
reunida num só local é “a igreja de Cristo”. E todas as igrejas, dos mais
diferentes lugares, são “a igreja de Cristo”. Em outras palavras, uma comunidade
de um local é a igreja (At 5.11; 1Co 15.9), as comunidades de uma região ou
país são a igreja (At 9.31), e a igreja de todo o mundo é a igreja (Mt 16.18;
Ef 1.22). Sempre é o corpo de Cristo (1Co 12.27), que não pode ser fracionado.
Mesmo que sejam dois ou três (Mt 18.20), é a igreja, o corpo de Cristo. Sempre
a igreja completa. Cada uma das igrejas é igreja no sentido pleno da palavra.
O que faz com que
um grupo de pessoas seja igreja?
A igreja não depende do número de
pessoas reunidas, do lugar onde elas se reúnem, nem do nível de consagração das
pessoas. Fundamental é a presença de Jesus, através de sua Palavra. A Confissão de Augsburgo, no Artigo VII,
diz que “sempre haverá e permanecerá uma única santa igreja cristã, que é a
congregação (ou “reunião”) de todos os crentes, entre os quais o
evangelho é pregado puramente e os santos sacramentos são administrados de
acordo com o evangelho”. Pregação da Palavra e administração dos sacramentos
são as marcas da igreja. Onde Cristo está, ali está a igreja.
A igreja pode ser
“do Brasil”?
A
igreja é, a rigor, de Deus (At 20.28; Gl 1.13), porque ele a comprou com o seu
sangue, como Paulo explica em Atos 20.28. Mas, no Novo Testamento, fala-se
também sobre “a igreja de Antioquia” (At 13.1) e sobre “a igreja de Deus
que está em Corinto” (1Co 1.2). A igreja era de Antioquia no sentido de
estar em Antioquia. No mesmo sentido, existiram também as igrejas “da Galácia”
(1Co 16.1) e “da Macedônia” (2Co 8.1). Por isso, podemos falar da igreja do
Brasil e da igreja no Brasil. Sempre entendendo que se trata da igreja de Deus.
Igreja
e Sínodo
No
contexto das igrejas Luteranas, é comum usar o termo sínodo. Em nada difere de igreja,
pois também significa reunião ou concílio. (É falsa a opinião de que sínodo
significa “caminhar juntos”. Se fosse verdade, um “sínodo de bispos” seria um simples
passeio de bispos em algum pátio ou corredor.) Apesar da afirmação de que um
Sínodo, no sentido de as igrejas de um país, não é propriamente igreja, é
preciso afirmar o contrário. Existe algo como “a igreja ... por toda a Judeia,
Galileia e Samaria” (Atos 9.31). O apóstolo Paulo fala da sua “preocupação com
todas as igrejas”, em 2Co 11.28. Essas igrejas, por vezes chamadas de “igrejas
paulinas”, chegam perto do que hoje entendemos por sínodo. Aquilo que, no
contexto da IELB, se chama de distrito, é igreja; e a própria IELB não é outra
coisa que não seja igreja.
E
a liderança da igreja?
Nunca houve um tempo em que
a igreja estivesse sem liderança pastoral. Além do relato de Atos, em que se vê
Paulo promovendo a eleição de presbíteros (At 14.23), o começo da carta aos
Filipenses revela que já no período inicial as igrejas paulinas tinham uma
liderança de “bispos e diáconos” (Fp 1.1). (Entre os vários textos que tratam
do ministério pastoral, destacam-se 1Tm 3.1-7; Tito 1.5-9; At 20.17-38; Ef
4.7-16; Hb 13.7-17 e 1Pe 5.1-4.)
Presbíteros,
bispos, pastores
Segundo o texto de Atos 20,
Paulo convocou os presbíteros de Éfeso (At 20.17), aos quais chamou de bispos
(At 20.28), dizendo-lhes que deviam pastorear a igreja de Deus. Este texto,
apoiado por Tito 1.5,7, mostra que, no Novo Testamento, não há diferença entre
presbítero e bispo. Presbítero significa, literalmente, “homem mais velho”, mas
no contexto da igreja designava aqueles que presidiam as igrejas (At 11.30;
14.23). O epískopos, termo grego de onde nos vem bispo, era um supervisor,
em alguns casos uma espécie de mestre de obras. Em sua aplicação ao contexto da
igreja, o termo passou a designar o líder que cuida do bem-estar dos outros.
Jesus é o “Pastor e Bispo da alma de vocês” (1Pe 2.25), ou seja, “o Pastor, que
cuida da vida espiritual de vocês”.
Pastor é uma palavra que
parece ter algo a ver com pasto. E tem mesmo! No Antigo Testamento, o termo hebraico
para pastor vem de um verbo que significa levar os animais ao pasto. A palavra
do português tem a mesma derivação, ou seja, um pastor é alguém que leva os
animais ao pasto. No caso da igreja, o pastor é aquele que cuida da igreja,
alimentando o rebanho. Quando Jesus disse a Pedro, “apascente as minhas
ovelhas” (Jo 21,15,17), estava literalmente dizendo: “alimente as minhas
ovelhas”. Alimentar as ovelhas é ensinar a Palavra de Deus.
Quantos
pastores nós temos?
O
verdadeiro e único pastor da igreja é Jesus Cristo (Jo 10.16), que é o Supremo
Pastor (1Pe 5.4). Mas ele pastoreia a igreja por meio dos sub-pastores. Estes,
que podem ser poucos ou muitos, atuam segundo o modelo de Jesus e em nome dele.
“Não como dominadores”, diz Pedro (1Pe 5.3). E Paulo explicou à igreja de
Corinto que os pastores são “cooperadores da alegria de vocês” (2Co 1.24).
O
meu pastor é da igreja ou é de Cristo?
Ele
é as duas coisas: de Cristo e da igreja. Paulo explicou aos presbíteros de
Éfeso que eles foram colocados na igreja pelo Espírito Santo. (O Artigo
V da Confissão de Augsburgo confessa que Deus instituiu o ofício da pregação.)
Isso significa que o pastor não está nem acima da igreja (como
dominador), nem abaixo da igreja (como simples funcionário). Ele atua dentro
da igreja, como servo de Cristo. A igreja ou o sacerdócio real não transfere o
seu ministério ou serviço ao pastor, até porque a igreja continua com o seu
ministério, que inclui perdoar pecados (Mt 18.18-20). A existência e atuação do
pastorado não anula a ação da igreja, e vice-versa. Usando uma figura, pode-se
dizer que “a cadeira em que o pastor senta foi colocada por Deus, e não pela igreja,
mas a igreja tem o privilégio de escolher quem vai sentar naquela cadeira”.
Existe
um jeito único de organizar a igreja e o ministério pastoral?
A
resposta é não, porque não existe um mandamento divino para essas coisas. Não
havendo, o que importa é a boa ordem (1Co 14.40) e o amor. O Novo Testamento
apresenta vários quadros de como pastores eram escolhidos, em situações que
podem ser chamadas de normais, sem que se diga algo como “é assim que tem de
ser”. Não fazemos sorteio quando chamamos um pastor, mas até poderíamos fazer (veja-se
At 1.26). (Um documento da igreja Luterana dos Estados Unidos abre a
possibilidade de se fazer um sorteio entre três candidatos, ao final do
processo de eleição de um pastor.)
Entendemos que Deus chama e, por isso, podemos
continuar falando sobre “chamado divino”. Agora, Deus chama por meio de quem? Por
meio da igreja. Isso pode ser feito por uma congregação local, uma comissão da igreja,
uma liga (como de Servas ou de Leigos), uma diretoria nacional, o presidente da
IELB, quem estiver autorizado a fazer isso como igreja. O teólogo luterano Hermann
Sasse explica: “Deus chama homens para o
seu serviço, em geral por meio de pessoas. Pouco importa como isso se dá. Se é
ação de um indivíduo, ou um grupo oficial ou a igreja reunida em culto a Deus:
tudo é feito em nome da Igreja
Cuidar
de rebanho parece coisa de pastor de ovelhas, mas a referência a bispos, no
texto que aparece como título deste estudo, sugere que esse texto de Atos 20 trata
da igreja. É verdade. Essa frase faz parte da fala de Paulo aos presbíteros da igreja
de Éfeso (Atos 20). No entanto, se a igreja é rebanho, não seria mais natural
falar sobre pastores em vez de bispos? Na verdade, Paulo continua a sua fala
com as palavras “para pastorearem a igreja de Deus”. O bispo pastoreia.
Mas o que se entende por igreja? E pastor? E
bispo?
A
igreja como rebanho
A igreja aparece como
rebanho em várias passagens da Bíblia. Entre as mais conhecidas estão Lucas
12.32 (“não tenha medo, ó pequenino rebanho”), João 10.16 (“haverá um só
rebanho e um só pastor”) e 1Pedro 5.2,3 (“pastoreiem o rebanho de Deus”). Em
sentido literal, rebanho é um grupo de animais, mas em sentido figurado designa
“um agrupamento de pessoas unidas por um mesmo vínculo”. No caso da Igreja, o
vínculo que une as pessoas é a fé e o mesmo Pastor, que é Cristo.
Outros
nomes para a igreja
A
igreja aparece também com outros nomes, como, por exemplo, “lavoura de Deus” e
“edifício de Deus” (1Co 3.9), “eleitos de Deus” (Cl 3.12), “casa espiritual” (1Pe
2.5), “sacerdócio real” e “nação santa” (1Pe 2.9), “irmãos na fé” (1Pe 2.17) e “filhos
de Deus” (1Jo 3.1). Um dos nomes mais importantes é “corpo de Cristo” (1Co
12.27). E existe, é claro, o termo igreja.
O
significado de igreja
igreja
é uma palavra que vem do grego (ekklesía), através do latim (ecclesia).
Essa palavra aparece umas 114 vezes no Novo Testamento (o que não significa que
o assunto “igreja” só aparece 114 vezes!). Muitos, ao ouvirem o termo “igreja”
pensam numa organização religiosa ou, com mais frequência, num prédio. Lutero,
em seu tempo, já se queixava que as pessoas simples entendiam a palavrinha Kirche
(“igreja”, em alemão) no sentido de “edifício consagrado”, e não no sentido de
“grupo reunido”. Em seu Catecismo Maior (Do Credo, Terceira Parte), Lutero
explica que igreja “significa propriamente reunião ou assembleia”. (No
Catecismo, Lutero usa a palavra alemã Versammlunge,
que significa reunião ou congregação. Em sua tradução da Bíblia, Lutero preferiu
a palavra Gemeinde, que se traduz por
comunidade.)
No período do Novo
Testamento, quando alguém dizia a palavra grega ekklesía (“igreja”), as
pessoas pensavam numa reunião de pessoas. Alguns ainda pensam que a palavra vem
de um verbo que significa “chamar para fora”, mas ninguém pensava em “chamados
para fora” ao ouvir o termo “igreja”. Num sentido secular, como o termo é usado
em Atos 19.32,39, “igreja” era uma “assembleia dos cidadãos”. No sentido
cristão, a igreja é a “comunidade cristã reunida” (Rm 16.5,16). Mas o termo igreja
pode designar também “todos os cristãos que vivem num lugar”, como em Atos 8.1 (“a
igreja em Jerusalém”). Por fim, num sentido talvez mais teológico ainda, igreja
pode designar “todos os crentes”, como em Efésios 1.22.
Igrejas e igreja
O Novo Testamento fala tanto sobre igreja
(no singular) quanto sobre igrejas (no plural). O plural é mais raro: apenas 35 vezes, geralmente em Atos
dos Apóstolos, nas cartas de Paulo e no Apocalipse (“sete igrejas”). Num primeiro
momento, seria possível pensar que “a igreja” é a combinação de todas as igrejas,
dos mais diferentes locais. Assim, somando todas as igrejas ou vendo todas em
conjunto, teríamos “a igreja”. Mas essa visão matemática não condiz com a
realidade. A Bíblia traz o termo “igreja” e o termo “igrejas”, mas nunca fala
sobre “uma parte da igreja” ou “a soma das igrejas”. Num sentido teológico, a igreja
reunida num só local é “a igreja de Cristo”. E todas as igrejas, dos mais
diferentes lugares, são “a igreja de Cristo”. Em outras palavras, uma comunidade
de um local é a igreja (At 5.11; 1Co 15.9), as comunidades de uma região ou
país são a igreja (At 9.31), e a igreja de todo o mundo é a igreja (Mt 16.18;
Ef 1.22). Sempre é o corpo de Cristo (1Co 12.27), que não pode ser fracionado.
Mesmo que sejam dois ou três (Mt 18.20), é a igreja, o corpo de Cristo. Sempre
a igreja completa. Cada uma das igrejas é igreja no sentido pleno da palavra.
O que faz com que
um grupo de pessoas seja igreja?
A igreja não depende do número de
pessoas reunidas, do lugar onde elas se reúnem, nem do nível de consagração das
pessoas. Fundamental é a presença de Jesus, através de sua Palavra. A Confissão de Augsburgo, no Artigo VII,
diz que “sempre haverá e permanecerá uma única santa igreja cristã, que é a
congregação (ou “reunião”) de todos os crentes, entre os quais o
evangelho é pregado puramente e os santos sacramentos são administrados de
acordo com o evangelho”. Pregação da Palavra e administração dos sacramentos
são as marcas da igreja. Onde Cristo está, ali está a igreja.
A igreja pode ser
“do Brasil”?
A
igreja é, a rigor, de Deus (At 20.28; Gl 1.13), porque ele a comprou com o seu
sangue, como Paulo explica em Atos 20.28. Mas, no Novo Testamento, fala-se
também sobre “a igreja de Antioquia” (At 13.1) e sobre “a igreja de Deus
que está em Corinto” (1Co 1.2). A igreja era de Antioquia no sentido de
estar em Antioquia. No mesmo sentido, existiram também as igrejas “da Galácia”
(1Co 16.1) e “da Macedônia” (2Co 8.1). Por isso, podemos falar da igreja do
Brasil e da igreja no Brasil. Sempre entendendo que se trata da igreja de Deus.
Igreja
e Sínodo
No
contexto das igrejas Luteranas, é comum usar o termo sínodo. Em nada difere de igreja,
pois também significa reunião ou concílio. (É falsa a opinião de que sínodo
significa “caminhar juntos”. Se fosse verdade, um “sínodo de bispos” seria um simples
passeio de bispos em algum pátio ou corredor.) Apesar da afirmação de que um
Sínodo, no sentido de as igrejas de um país, não é propriamente igreja, é
preciso afirmar o contrário. Existe algo como “a igreja ... por toda a Judeia,
Galileia e Samaria” (Atos 9.31). O apóstolo Paulo fala da sua “preocupação com
todas as igrejas”, em 2Co 11.28. Essas igrejas, por vezes chamadas de “igrejas
paulinas”, chegam perto do que hoje entendemos por sínodo. Aquilo que, no
contexto da IELB, se chama de distrito, é igreja; e a própria IELB não é outra
coisa que não seja igreja.
E
a liderança da igreja?
Nunca houve um tempo em que
a igreja estivesse sem liderança pastoral. Além do relato de Atos, em que se vê
Paulo promovendo a eleição de presbíteros (At 14.23), o começo da carta aos
Filipenses revela que já no período inicial as igrejas paulinas tinham uma
liderança de “bispos e diáconos” (Fp 1.1). (Entre os vários textos que tratam
do ministério pastoral, destacam-se 1Tm 3.1-7; Tito 1.5-9; At 20.17-38; Ef
4.7-16; Hb 13.7-17 e 1Pe 5.1-4.)
Presbíteros,
bispos, pastores
Segundo o texto de Atos 20,
Paulo convocou os presbíteros de Éfeso (At 20.17), aos quais chamou de bispos
(At 20.28), dizendo-lhes que deviam pastorear a igreja de Deus. Este texto,
apoiado por Tito 1.5,7, mostra que, no Novo Testamento, não há diferença entre
presbítero e bispo. Presbítero significa, literalmente, “homem mais velho”, mas
no contexto da igreja designava aqueles que presidiam as igrejas (At 11.30;
14.23). O epískopos, termo grego de onde nos vem bispo, era um supervisor,
em alguns casos uma espécie de mestre de obras. Em sua aplicação ao contexto da
igreja, o termo passou a designar o líder que cuida do bem-estar dos outros.
Jesus é o “Pastor e Bispo da alma de vocês” (1Pe 2.25), ou seja, “o Pastor, que
cuida da vida espiritual de vocês”.
Pastor é uma palavra que
parece ter algo a ver com pasto. E tem mesmo! No Antigo Testamento, o termo hebraico
para pastor vem de um verbo que significa levar os animais ao pasto. A palavra
do português tem a mesma derivação, ou seja, um pastor é alguém que leva os
animais ao pasto. No caso da igreja, o pastor é aquele que cuida da igreja,
alimentando o rebanho. Quando Jesus disse a Pedro, “apascente as minhas
ovelhas” (Jo 21,15,17), estava literalmente dizendo: “alimente as minhas
ovelhas”. Alimentar as ovelhas é ensinar a Palavra de Deus.
Quantos
pastores nós temos?
O
verdadeiro e único pastor da igreja é Jesus Cristo (Jo 10.16), que é o Supremo
Pastor (1Pe 5.4). Mas ele pastoreia a igreja por meio dos sub-pastores. Estes,
que podem ser poucos ou muitos, atuam segundo o modelo de Jesus e em nome dele.
“Não como dominadores”, diz Pedro (1Pe 5.3). E Paulo explicou à igreja de
Corinto que os pastores são “cooperadores da alegria de vocês” (2Co 1.24).
O
meu pastor é da igreja ou é de Cristo?
Ele
é as duas coisas: de Cristo e da igreja. Paulo explicou aos presbíteros de
Éfeso que eles foram colocados na igreja pelo Espírito Santo. (O Artigo
V da Confissão de Augsburgo confessa que Deus instituiu o ofício da pregação.)
Isso significa que o pastor não está nem acima da igreja (como
dominador), nem abaixo da igreja (como simples funcionário). Ele atua dentro
da igreja, como servo de Cristo. A igreja ou o sacerdócio real não transfere o
seu ministério ou serviço ao pastor, até porque a igreja continua com o seu
ministério, que inclui perdoar pecados (Mt 18.18-20). A existência e atuação do
pastorado não anula a ação da igreja, e vice-versa. Usando uma figura, pode-se
dizer que “a cadeira em que o pastor senta foi colocada por Deus, e não pela igreja,
mas a igreja tem o privilégio de escolher quem vai sentar naquela cadeira”.
Existe
um jeito único de organizar a igreja e o ministério pastoral?
A
resposta é não, porque não existe um mandamento divino para essas coisas. Não
havendo, o que importa é a boa ordem (1Co 14.40) e o amor. O Novo Testamento
apresenta vários quadros de como pastores eram escolhidos, em situações que
podem ser chamadas de normais, sem que se diga algo como “é assim que tem de
ser”. Não fazemos sorteio quando chamamos um pastor, mas até poderíamos fazer (veja-se
At 1.26). (Um documento da igreja Luterana dos Estados Unidos abre a
possibilidade de se fazer um sorteio entre três candidatos, ao final do
processo de eleição de um pastor.)
Entendemos que Deus chama e, por isso, podemos
continuar falando sobre “chamado divino”. Agora, Deus chama por meio de quem? Por
meio da igreja. Isso pode ser feito por uma congregação local, uma comissão da igreja,
uma liga (como de Servas ou de Leigos), uma diretoria nacional, o presidente da
IELB, quem estiver autorizado a fazer isso como igreja. O teólogo luterano Hermann
Sasse explica: “Deus chama homens para o
seu serviço, em geral por meio de pessoas. Pouco importa como isso se dá. Se é
ação de um indivíduo, ou um grupo oficial ou a igreja reunida em culto a Deus:
tudo é feito em nome da Igreja, toda a Igreja, que é o corpo de Cristo, e, com isso,
no poder do Espírito Santo”.