No dia 10 de junho, lembramos o Dia do Pastor.
Neste ano, diante de um cenário inédito para todos nós, dentro e fora da
igreja, conversamos com alguns colegas pastores, de diferentes lugares do
Brasil, para saber como estão lidando com essa pandemia, em suas congregações e
paróquias.
– Pastor,
quais foram seus sentimentos e dúvidas quando a pandemia chegou e foi decretado
o isolamento social, impedindo a realização das atividades presenciais com os
membros?
HERVELLA – Nos primeiros dias em que escutei as notícias sobre o convid-19,
tinha a sensação de que era algo que ficaria lá em São Paulo e não chegaria
aqui em Cascavel, PR. Mas logo foi decretado quarentena aqui na cidade e já com
casos confirmados. E claro que em um pensamento positivista, já dizia: Serão só
alguns dias, e tudo voltará à normalidade. Hoje já nos perguntamos: o que é normalidade?
Quanto ao atendimento das congregações, somos duas
congregações pequenas, assim tivemos a oportunidade de levar a Santa Ceia à
casa de todos. Neste momento, estamos tendo a oportunidade de fazer cultos nos
templos, com algumas restrições, idade, estado de saúde, distanciamento de 2m.
E para os irmãos que não podem estar nos cultos, ainda levamos a santa ceia nas
casas.
LINHAUS – No dia 15 de março celebrei o último
culto presencial, ainda incerto de como seriam os próximos dias. Já no meio da
semana foram sendo canceladas as atividades. Começamos, naquela semana, a ir ao
encontro dos irmãos da paróquia com atividades on-line! Mas no domingo, quando
celebramos o primeiro culto on-line, um sentimento de tristeza tomou meu
coração. Faltava algo. O calor e o abraço dos irmãos. Pastor gosta do cheiro de
gente. Mesmo com este sentimento, sabia que era um momento especial que ali
começava! E toda a nossa força sempre vem de Deus. Poisser pastor sempre será
um desafio, independentemente da época.
BLANK – Quando foi declarada a pandemia,
surgiram muitas perguntas, entre elas: até os cultos precisam ser suspensos?
Sim. E como vamos fazer? Nunca fizemos uma transmissão pela internet!Mas eis a
hora de aprender e fazer. Não podemos deixar de falar de Jesus.
DUEMES
– Quando a pandemia chegou ao Brasil, olhando para a Itália, por exemplo, já
era possível prever que ela nos atingiria em cheio. Pensei na precariedade do
SUS e me pus a escrever um manifesto, pedindo às autoridades a construção de
hospitais de campanha, e o publiquei no Facebook.
REGIANI – “Tamojunto”
com Jesus. Assim temos nos despedido em nossas atividades on-line nas últimas
semanas. De um jeito bem “amador”, aprendendo com amor, começamos a fazer todo
o possível para manter o vínculo congregacional e o alimento espiritual.
Consideramos que estamos em distanciamento físico, mas não gostamos da
expressão “distanciamento social”.
FLOR – A
restrição às atividades presenciais gerou uma grande questão: O que e como
vamos fazer para manter viva a pregação da Palavra e a comunhão? Graças a Deus,
recebi sugestões e a colaboração ativa da liderança e dos grupos de adoração,
ensino, comunhão, serviço social e comunicação, para que as atividades on-line
fossem bem-sucedidas e pudéssemos compartilhar o evangelho.
THOMASSEN – Ouso dizer que é
desafiador ser pastor na pandemia. É preciso ter paciência e serenidade, por
parte de todos os cristãos, para cumprir os decretos, seguir as orientações e
informar as pessoas que as coisas mudaram. A pandemia trouxe um novo modelo de
ser igreja, fez a gente pensar sobre a doutrina e a liturgia da igreja e se
esforçar ao máximo para fazer tudo com ordem e decência sem perder a essência.
– Como
estás conseguindo ser pastor dos membros da sua congregação e paróquia nesse
distanciamento social?
HERVELLA – Nas congregações, por enquanto, está tudo tranquilo, talvez
um pouco mais de aproximação entre pastor e congregação.
LINHAUS – Temos tomado todos os cuidados aqui na
Serra, ES. Ser pastor nesta época tem nos desafiado a usar a tecnologia, mas
sem esquecer que muitos não têm acesso a essa tecnologia! Todos os dias um
programa destinado às mais diversas idades e departamentos da igreja. Temos
falado ao telefone com os idosos, e com todo o cuidado temos levado a Santa
Ceia àqueles que nos pedem.
BLANK – Na cidade de Canguçu temos
um programa diário de rádio, no qual há um momento de mensagem e de
informações. Este canal foi usado também para divulgar as lives. É verdade que não conseguimos alcançar todas as pessoas, mas
foi muito acima do que poderíamos imaginar. Dessa maneira os cultos estão sendo
assistidos por pessoas que não tinham o hábito de vir à igreja, e, com isso,
duas famílias já manifestaram o interesse de serem membros da Congregação. Também
recebemos o relato de muitos idosos que não podem vir à igreja e agora podem,
com muita alegria, assistir ao culto de casa. Outra experiência interessante
foi o de fazer devoções com membros por meio de chamada de vídeo.
DUEMES
– No dia 17 de março, o presidente da IELB, pastor Geraldo Schüler, publicou um
vídeo orientando no sentido de não realizarmos atividades presenciais, até
segunda ordem por parte das autoridades. Havia chegado a hora de buscar
alternativas para levar o consolo do evangelho, agora através de outros meios.
Assim aproveitamos a ideia dos cultos on-line, com transmissão ao vivo pelo
Facebook. Além disso, passei a gravar e publicar áudios e vídeos, estudos e
orações. Tudo no intuito de continuar sendo pastor desse rebanho em tempos de
afastamento social, tempos duros, de muita angústia e muitas incertezas. E
utilizando as mídias eletrônicas e sociais, tenho procurado continuar sendo
pastor dessa gente aflita.
REGIANI
– Procuramos permanecer diariamente conectados e ativos, seja nos devocionais,
nos estudos bíblicos ou nas lives de
escolinha bíblica para crianças. Assim, quando o culto de domingo chega,
continuamos a celebrar o amor de Deus que nos mantém unidos.
O
volume de trabalho por aqui aumentou! Como alguns têm dificuldade de acesso ou
de manejo dos dispositivos para acompanhar as transmissões online, investimos
tempo considerável em ligações telefônicas e conversas “de portão”, além de
“visitas virtuais” em ligações por vídeo. E as pessoas têm buscado ainda mais o
aconselhamento e escuta pastoral.
FLOR – Além de cultos e devocionais ao
vivo pelas redes sociais, a interação com os membros se dá através de
telefonemas, estudos bíblicos e outras reuniões de grupos on-line. Felizmente,
até o momento, não houve situações extremas que exigissem a minha presença.
THOMASEN – Na Congregação São João, de
Erechim, RS, estamos realizando cultos por agendamento de, no máximo, 30
pessoas. Foi elaborada uma liturgia especial para esse tempo de cuidados.
Fazemos seis cultos por semana, em horários diferenciados, e, também,
disponibilizamos vídeos com cultos, estudos, mensagens, etc. Penso que essas
mudanças são algo positivo no ministério daqui para frente. Meu desejo é que
sejamos uma igreja mais paciente e aberta às mudanças para levar Cristo para
Todos
– Na sua opinião, quais são as coisas boas que podemos agregar ao nosso
trabalho pastoral e congregacional daqui para frente?
HERVELLA – Quando
sempre temos arroz e feijão em nossas mesas, não sabemos o valor que isso tem;
acredito que vamos, como sociedade, valorizar mais a família e a importância da
igreja em nossas vidas. É um bom momento para pregarmos o evangelho, há muitas pessoas
desnorteadas que precisam ouvir a Verdade que liberta.
LINHAUS – Principalmente o uso das redes sociais.
Além de atingir os membros da igreja local, tem um alcance que não imaginamos
até aonde vai.
BLANK – No período do Estado
Novo (1937-1945), houve a proibição de falar e ensinar em língua alemã. Muitos
irmãos nossos tiveram que aprender a falar a língua portuguesa, e isso foi
difícil, mas ao mesmo tempo importantíssimo para que a igreja transmitisse o
amor de Jesus para todo o Brasil. Assim também hoje precisamos aprender a falar
a língua da internet para comunicar o amor de Jesus a todas as pessoas, ele que
é o nosso bom pastor que cuida de nós, suas ovelhas. Em meio a muitas dúvidas,
temos esta certeza!
DUEMES
– Penso que uma coisa boa que a gente pode aprender disso tudo é que saímos da
zona de conforto no que se refere ao uso das mídias sociais. Vejo que um grande
legado que ficará é justamente o fato de sermos impulsionados a usar os mais
modernos e gratuitos meios de comunicação.
REGIANI – Muitos irmãos e
irmãs estão engajados na arrecadação e doação de auxílio aos necessitados.
Outros se juntaram em grupos de apoio para ajudar nas inscrições dos que
precisam acessar as políticas públicas (auxílio emergencial e outras
oportunidades e direitos). Há os que, com variadas habilidades, estão ajudando
nas gravações e transmissões: na música, na edição de vídeos, no gerenciamento
das plataformas de redes sociais, na produção de devocionais e estudos. Ou
seja, mais engajamento e parceria na missão de levar Cristo para todos, mais
amor e serviço a Deus e ao próximo.
FLOR – Destaco duas coisas que a
situação de isolamento está mostrando. Por um lado, precisamos valorizar o
culto público. Os membros estão sentindo muito a falta da comunhão presencial
para ouvir a Palavra e ter a celebração da santa ceia. Por outro lado, as
atividades on-line vieram atender a uma necessidade do cidadão de uma grande
metrópole, onde são muitas as dificuldades de deslocamento. Os estudos bíblicos
e outras reuniões de grupos têm tido maior participação do que quando
realizadas presencialmente.
THOMASSEN – Com mais cultos
sendo oferecidos, notei que os membros conseguem se programar melhor. Um membro
me relatou: “Pastor eu nunca estive tão perto da igreja como agora!”. Ele
enfrenta dificuldades por trabalhar em outra cidade e em horários
diferenciados. Isso me faz refletir sobre a forma como a igreja tem oferecido
suas atividades ao longo dos anos. Nós somos uma igreja acolhedora que vai ao
encontro das necessidades das pessoas e, por isso, a igreja está em constante
mudança. Por vezes, é preciso deixar o departamento de lado e pensar no culto
para o irmão. Antes, na sexta à noite, havia o departamento de leigos, agora
temos culto. A mudança trouxe compreensão, afeto e misericórdia de formas
diferentes das que antes eram exercidas. Isso é maravilhoso para o bem da
igreja e do próximo.
– Alguma experiência, testemunho ou mensagem que queira compartilhar
com os leitores do ML, neste tempo da pandemia?
HERVELLA – Nos
hospitais estamos vivendo um momento muito interessante, há uma aproximação
muito maior da capelania com os profissionais, os atendimentos da capelania
estão muito mais voltados para os profissionais.
O que estamos vivendo
com esta pandemia nos faz ter uma ideia de como era nos tempos antigos, quando
a população enfrentava a lepra.
Em questão de vida
espiritual, pessoalmente, não ter tido culto de Páscoa foi angustiante.
Mas, mesmo assim, vemos a maravilhosa
obra de Deus diante de nossos olhos, tivemos o privilégio de receber por
profissão de fé mais uma família em nossa congregação, isso mostra que o mundo
pode até parar, mas a Palavra de Deus não para.
LINHAUS – Por meio da página da Paróquia,
em uma rede social, recebemos o contato de uma senhora pedindo ajuda, pedindo
comida, fizemos os encaminhamentos e fui até a casa dela, onde seu marido (que
devido à pandemia está desempregado) segurava no colo o filho de uns 11 meses.
Sempre com todos os cuidados, entreguei uma cesta básica, fizemos uma oração,
deixei uma literatura e convidei a assistirem o nosso culto on-line. Instantes
após o culto no outro dia, recebemos uma mensagem, de gratidão pela ajuda e
pelo culto.
E dentro de casa, minha filha e eu, através do
Programa que chamamos de “Pai e Filha, Horinha com Jesus”, onde usamos as
devoções do livro Horinhas com Deus (Editora
Concórdia), levamos uma historinha também às crianças. Após a gravação de um
programa, minha filha Catarina (7) disse: “Pai, a gente está contando essas
histórias de Jesus pra muitas crianças, mas tomara que Papai do Céu mande esse coronavírus
embora logo. Estou com muitas saudades de ver minhas amiguinhas da igreja”.
DUEMES – Houve uma situação em que uma família pediu
o batismo para o filho. Fui até a casa deles e, de máscara e com transmissão ao
vivo, realizamos o batismo. Também gravei orações fúnebres para próximos de
congregados, de outros lugares. Atendendo a pedidos, gravei áudios para casais
em crise, provocada pela quarentena.
No
final de semana de 15 a 17 de maio, celebramos a santa ceia em família. Foram
32 famílias que vieram, uma a uma, à igreja. Foi maravilhoso! Muito
fortalecimento da fé e da esperança traduzida em emoção e gratidão.
Minha
oração é que saiamos mais chorões e menos brigões dessa tristeza toda.
REGIANI – Somos muito gratos
a Deus por tudo que nos tem concedido. Sua igreja permanece viva através de
cada um de nós!
FLOR – Em família, com os
filhos distantes, em fusos horários diferentes, o trabalho de dois deles em
casa facilitou nossos momentos de bate-papo conjunto. Como pastor, vejo com
alegria a iniciativa dos membros de compartilharem os devocionais semanais e,
especialmente, os áudios, com pequenas mensagens, que tenho feito três vezes
por semana. Também destaco o empenho de todos nas ofertas e nas ações sociais.
THOMASSEN – Minha oração é: Deus, nos abençoe para
que este amor sempre continue e cresça. Por teu Filho Jesus. Amém.
Dados pessoais e familiares
GUINTER ALENCASTRO HERVELLA, casado com Nanci Gabriele Roese Hervella, pai de Natalia Gimena
e Maria Laura. Seu ano de formatura é 2003. É pastor na CEL Cristo para Todos
e capelão hospitalar há 9 anos, em Cascavel, PR.
ORDILEI
LINHAUS, casado com Josilene Ropke Linhaus, pai da Catarina Ropke Linhaus. Seu
ano de formatura é 2003. É pastor em Serra, ES, na Paróquia Monte Sinai, desde
agosto de 2017. Supervisiona o estágio de Jonathan Schultz, aluno do Seminário
Concórdia.
CLÓVIS RENATO LEITZKE
BLANK, casado com Juliane Wille Blank. Ano de sua formatura é 2008. É pastor na
Paróquia São João, em Canguçu, RS, desde 2013.
NESTOR
DUEMES, casado com Eliza Rita, pai de Anne (11), Elias (9) e Maísa (7). Seu ano
de formatura é 2000. É pastor na CEL Paz, de Cuiabá, MT, há 8 anos e meio.
HERIVELTON
REGIANI, casado com Rivia Alencar. Seu ano de formatura é 1998. É pastor na CEL
Cristo, Natal, RN, desde julho de 2018. Supervisiona o estágio de Miguel
Bergmann, aluno do Seminário Concórdia.
JONAS ROBERTO FLOR, casado com
Esther Kloss Flor, pai de Jonathan, Aline Rebeca e Silas. Seu ano de formatura
é 1982. Há nove anos é pastor na CEL Paz, na Tijuca, Rio de Janeiro, RJ.
Supervisiona o estágio de Charles Rangel Kutz, aluno do Seminário Concórdia.
FRANCO
THOMASSEN, casado com Priscila Sabka Thomassen, pai do Murilo e da Rafaela,
sogro do Fábio e avô da Ester. Seu ano de formatura é 2012. Há cinco anos é
pastor na CEL São João, de Erechim, RS.
Equipe Editorial
Mensageiro Luterano