Senhor, não respondes?


27/08/2019 #Artigos #Editora Concórdia

“Clamo a ti, e não me respondes; estou em pé, mas apenas olhas para mim” (Jó 30.20).

Senhor, não respondes?

          Jó é louvado pelo próprio Deus como “homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desviava do mal” (Jó 1.1). Mas Jó vive sob o impacto de terríveis contrastes. De seus bens e de seu lar só lhe restam doloridas lembranças. Seu corpo é um resto mal-cheiroso. Só o visitam três amigos cheios de acusações e incompreensão. E onde ficou Deus? Seu Deus tão rico e misericordioso? O olhar angustiado e ansioso de Jó busca por Deus, mas confessa: Clamo a ti, e não me respondes; estou em pé, mas apenas olhas para mim.

         Com isso, Jó não diz que Deus o abandonou, ou que não mais o enxerga em sua dor. O que lhe dói é que Deus “olha” para ele. Ou seja, Deus ouve e entende seus pedidos; mas não quer responder-lhe agora.

         O evangelho registra que no caso da mulher cananeia ou siro-fenícia, Jesus também parece nem mesmo olhar para quem lhe clamou: “Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horrivelmente endemoninhada”. Nem atendeu à intervenção dos próprios discípulos. – O Deus Eterno silencia ante suas orações. Parece que ela suplica para dentro do ar e não ao coração do Deus gracioso. O mesmo aconteceu com Maria nas bodas de Caná.

         Mas tanto Jó como a mulher cananeia e a própria Maria estão na escola de Deus. É preciso que aprendam e aceitem algumas lições. A primeira é que eles não estiveram ‘falando no ar’, mas ao Senhor que ouve realmente as orações. Pois ele jamais “dormita nem dorme”. Que, por isso, estivessem certos do fato: “Deus realmente me escuta”.

         A segunda é que ninguém – nem mesmo o cristão – tem qualquer direito ao socorro de Deus ou para prescrever a Deus o que lhe cabe fazer. Todos precisam aprender que são alunos na escola de Deus, o qual, como seu Senhor e Mestre, quer prová-los quanto à sinceridade da oração e ao empenho da fé.

Cada cristão precisa ouvir Deus dizer-lhe: Por breve momento te deixei. Deixou-o sem resposta, mas não sem a sua presença ou atenção. Deus garante a todos os cristãos: “Com grande misericórdia torno a acolher-te”. O próprio Jó experimentou isso. Deus, depois que havia provado a constância de Jó na fé, voltou-se com muita misericórdia a este triste sofredor. Devolveu-lhe tanto a saúde como também o cobriu com muitas bênçãos. – A mulher siro-fenícia foi atendida por Jesus e louvada por sua “grande fé”. E Maria foi, logo a seguir, alegrada com o primeiro milagre operado por Jesus, que transformou água em “bom vinho”.

         Querido(a) irmão(ã) na fé. Também eu e você já clamamos a Deus, e este não nos respondeu. Não nos revoltemos contra o Senhor, blasfemando que “não somos cães que precisam mendigar”. Lembremos que, mesmo que sejamos tão indignos como cães, ainda assim é verdade, que “os cães comem das migalhas que caem da mesa de seus donos”, e que o Senhor, com certeza, sempre tem reservado dons graciosos para a nossa necessidade. Em Jesus Cristo, Deus nos concede “plena e poderosa salvação”. É em nós que ele pensa, quando diz: Não te deixarei; nunca jamais te desampararei.

          Por isso, aumentemos ainda mais as nossas confiantes preces. Pois, ele, a seu tempo, nos exaltará. Muitas são as tempestades/que ameaçam nos tragar; ... Mas o nosso Cristo amado/não nos deixa perecer” (HL 408). Amém.

Eugenio Dauernheimer

Pastor emérito Canoas, RS

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